Será que a entrada em funcionamento do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia significa menos dinheiro disponível para a política de mecenato cultural da Fundação EDP? Perante a pergunta do Observador, Miguel Coutinho admite reduções. Mas diz que a instituição vai “continuar a ser um mecenas muito relevante”.
“Não posso garantir que não haja aqui ou ali um acerto”, afirma o administrador e diretor-geral da Fundação EDP.
Os acertos seriam uma má notícia para instituições como a Companhia Nacional de Bailado, Fundação de Serralves, Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva ou a Casa da Música, que se contam entre algumas das beneficiárias do mecenato da Fundação EDP.
Em causa pode também estar uma redução no valor dos dois prémios criados pela fundação: Grande Prémio Arte e Prémio Novos Artistas.
A dotação anual de 14 milhões de euros para mecenato não foi aumentada e vai agora ser dividida com o MAAT. Miguel Coutinho não entrou em pormenores quanto aos referidos acertos.
O museu lisboeta, cuja inauguração parcelar está marcada para quarta-feira, 5, representou um custo de cerca de 20 milhões de euros, segundo António Mexia, presidente do conselho de administração da elétrica portuguesa. Terá dois milhões de euros por ano para exposições.
O projeto inclui a antiga Central Tejo (ou Museu da Eletricidade), com exposições de arte convencionais, e um novo edifício ao lado, da autoria da arquiteta Amanda Levete, para obras de vanguarda.
“Vamos continuar, com certeza, a apoiar instituições que para nós são muito relevantes. Vamos continuar a fazer exposições, tanto na Central Tejo como no MAAT, e obviamente vamos tentar fazer tudo isto com o mesmo dinheiro. Isto obriga a sermos mais eficientes e ainda mais rigorosos na gestão dos dinheiros que os acionistas e as empresas do grupo EDP nos dão todos os anos, que são 14 milhões de euros”, explicou o diretor-geral. “Com uma gestão eficiente e escolhas acertadas vamos continuar a ter um papel muito relevante”.
Referindo-se uma outra área em que Fundação EDP atua – apoio social a idosos, crianças, pessoas sem-abrigo, desempregados –, Miguel Coutinho disse que tem sido feito “um esforço enorme” para manter esses apoios, que ascendem a 2,1 milhões de euros por ano. “Esforço enorme porque estamos hoje a fazer muito mais coisas com o mesmo orçamento, não tivemos um aumento de orçamento”, concretizou, em declarações ao Observador, durante a apresentação do MAAT, na segunda-feira.
O mesmo responsável considerou que o museu “é uma obra para ficar”. Referindo-se à arquitetura do edifício novo, cujo telhado transitável serve de miradouro, disse que o museu “devolve à cidade de Lisboa a relação com o rio”.
O diretor-geral da Fundação EDP entende que o MAAT não vai fazer concorrência a outras instituições de arte contemporânea em Portugal, como sejam o Museu Berardo, o Museu Gulbenkian ou Serralves.
“O MAAT é complementar dos outros museus. Vamos ter muitas exposições e debates em torno da cultura contemporânea e do impacto da arte, da arquitetura e da tecnologia na vida das pessoas”, disse Coutinho. “Não há outro museu em Portugal neste campo. Temos uma proposta diferenciada e complementar que não retira valor, acrescenta ao que já existe.”