Procure nas entrelinhas de todos os seus livros de História, vasculhe a biblioteca da sua antiga escola, pergunte aos mais sábios e só muito dificilmente alguém saberá estes pormenores da História de Portugal. É que todos conhecemos a saga dos Descobrimentos, a sequência de reis à frente e até as datas mais simbólicas. Mas contam-se pelos dedos da mão os que sabem que, afinal, Lisboa não é, no papel, a capital de Portugal ou que os lusitanos têm um gene único.
Regressámos à sala de aula, mas desta vez com histórias que contrariam muitas das verdades absolutas que conservamos desde os tempos de escola. Descubra tudo nos próximos 10 tópicos.
Lisboa não é a capital oficial de Portugal
A capital oficial do país é Coimbra, onde a corte morou até 1255. Nesse ano, D. Afonso III quis mudar toda a corte para Lisboa, que se havia tornado numa cidade cada vez mais próspera. O estuário estava de tal forma desenvolvido que podia receber os navios de mercadorias, o que motivou muita gente a escolher viver por perto. A certa altura, Coimbra tinha ficado para trás nas condições de vida que oferecia. Então D. Afonso III fez as malas e rumou para a cidade. Mas nem ele, nem nenhum outro rei assinou qualquer documento que oficializasse Lisboa como capital oficial portuguesa: passou a sê-lo de facto, na prática, porque a corte lá vivia em permanência. Algo que nunca foi oficializado, pelo que Coimbra continua a ser a capital oficial de Portugal.
Badajoz já foi capital de meio Portugal
Houve em tempos um reino muçulmano na Península Ibérica cuja capital era a cidade de Badajoz. O Emirado de Badajoz – em muçulmano chamada Ta’waif al-Batalyaws – vinha desde o rio Douro até ao Alentejo, incluía as cidades de Lisboa e de Santarém, mas também Castela e Leão.
Portugal já teve cinco capitais ao longo da História
São 900 anos de História, portanto o número não é de espantar. Tudo começou em Guimarães, o berço de Portugal, seguindo depois para Coimbra – que permaneceu efetivamente como capital até ao reinado de Afonso III em 125 – e mudou para Lisboa quando a residência oficial da corte passou a ser em terras do Tejo. Pelo caminho estiveram também o Rio de Janeiro (Brasil) e Angra do Heroísmo (Açores), a primeira durante as Invasões Francesas e a segunda durante o conflito entre liberais e absolutistas.
Há um gene que só os portugueses têm
Chama-se A26 – B38 – DR13 e é um gene que só existe nos descendentes de lusitanos. A informação presente nesse gene não existe em mais nenhum lugar, nem mesmo noutros povos fixados junto ao Mediterrâneo.
Tivemos um rei chamado D. Martinho I
Não é que haja um rei escondido do povo português durante séculos. Apenas o conhecemos por outro nome: D. Sancho I. Quando nasceu, o pequeno Sancho não estava destinado a subir ao trono: quem devia assumir as rédeas da corte era o seu irmão, o infante D. Henrique. Por isso, os pais da criança – D. Afonso Henriques e D. Mafalda de Sabóia – decidiram-lhe dar-lhe um nome que, embora não tivesse tradição monárquica, combinava bem com ela: D. Sancho I nasceu a 11 de novembro, daí ter sido agraciado com o nome Martinho. Mas a vida deu voltas. O infante D. Henrique morreu aos oito anos e foi Martinho quem teve de o substituir. Foi então rebatizado com o nome que chegou aos nossos livros de História: D. Sancho I.
Um dos nossos reis era sobredotado
D. Pedro V veio ao mundo a 16 de setembro de 1837. E veio com algo mais particular que os outros: era sobredotado. Com dois anos sabia falar português, alemão e francês. Ainda em criança, com cerca de 12 anos, já aprendia filosofia e escrevia de forma anónima em publicações nacionais sobre assuntos sociais, como os meios de transporte e a modernização de Portugal. O povo sabia das suas capacidades e colocava nele grande esperança na forma como lideraria o país, mas Pedro V morreu aos 24 anos sem colocar nenhuma das suas ideias em prática.
Portugal já se chamou “Ofiússa”
Não há certezas sobre onde moravam exatamente os ofis. Alguns estudos dizem que vivia nas montanhas a norte, entre o Gerês, Trás os Montes e a Galiza, enquanto outros estudos juram que eles são da foz do rio Douro. De um modo ou de outro, os ofis eram famosos pelo facto de idolatrarem as serpentes. Por isso é que se chamava “Ofiússa“, que significava “Terra das Serpentes”. Daí o símbolo dos reis de Portugal ter sido uma serpente alada, a “Serpe Real”. No entanto, esse símbolo também surgiu por influência celta.
Espanha nem sempre foi a nossa única vizinha
Entre nós havia um pequeno país, o Couto Misto, que chega mesmo a ser mencionado nos relatórios diplomáticos que antecederam o Tratado de Lisboa de 1864. Era um micro estado que nasceu no século X e que se extinguiu apenas quatro anos depois de o Tratado ter sido assinado. Este país não tinha mais do que 27 quilómetros quadrados e era completamente independente: não tinha qualquer relação com a Coroa portuguesa nem com a espanhola.
Antes dos lusitanos, estavam cá os estrímnios
Os estrímnios – uma palavra que deriva do latim “Oestremni”, ou seja, “povo do extremo ocidente” – foram o primeiro povo nativo em Portugal. Viviam entre a Galiza, no noroeste espanhol, e o Algarve. Só mais tarde vieram os sefes, um povo que idolatrava a deusa-serpente Ofiusa e que eram menos numerosos que os estrímnios. A seguirchegaram à Hispânia os galaicos e os lusitanos, que encontraram uma terra destruída pela guerra entre os sefes e os estrímnios. Também estes recém-chegados tiveram de lutar com os sefes para se poderem fixar por cá.
O pai de D. Afonso Henriques era um pastor transmontano?
Pelo menos é o que sussurram os rumores. A versão oficial é que D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, nasceu do amor entre Teresa de Leão e Henrique de Borgonha, conde de Portucale. No entanto, há outras que dizem que é filho de Egas Moniz ou mesmo de pastor natural de Trás-os-Montes que teria sido incumbido por Egas Moniz de cuidar do pequeno futuro rei. Os rumores até vão mais longe: sugerem que o rei era muito mais alto que qualquer pessoa da sua família…