É o maior lago da América do Sul em volume de água e, no alto dos seus 3.812 metros, é o que fica mais próximo do céu. Titicaca fica nos Andes, entre as fronteiras do Peru e da Bolívia. E há séculos que se tornou na casa de uma civilização com raízes nos uros, um povo que na era pré-colombiana descobriu uma forma de construir casas que lhes permitissem viver em total liberdade.

O que estas casas têm de particular é que estão construídas no meio de um lago. Mas não flutuam neste lago navegável do Altiplano andino: as casas são erguidas em ilhas artificiais (também elas chamadas de uros) que estão “ancoradas” ao fundo do lago. De trinta em trinta anos, estes nativos bolivianos e peruanos tecem uma planta aquática chamada totora que, em zonas mais densas, formam uma espécie de “tapete” na superfície”. Depois de tecer o tapete, que terá entre 2 e 3 metros de espessura, os nativos constroem vivendas com o calo da mesma planta. Quando a planta se começa a decompor lança um gás que permite à ilha flutuar mesmo que as raízes morram. Isso é bom porque mantém as famílias em segurança, mas também as obriga a reconstruir as ilhas artificiais de três em três décadas. Duas dessas ilhas são especiais: uma serve para os nativos tomarem banho e é coberta de cal em cada utilização para evitar o mau cheiro; outra é a cozinha, que tem de ser ao ar livre para evitar incêndios.

Cada comunidade é composta por pelo menos trinta ilhas artificiais, embora possam ter mais conforme o número de famílias que a compõem. Das 2.300 pessoas que habitam nesta região do Altiplano, 40% mora dentro do lago Titicaca. Se alguma das famílias não pagar o imposto ou faltar às regras da comunidade a sua ilha é desatada das outras.

No entanto, os uros não vivem isolados: é em terra firme que estão as escolas, as igrejas, o consultório médico e todos os outros serviços que utilizam. Por isso é que também constroem barcos em tudo semelhantes a moliceiros, mas também eles feitos de totoras. É o mesmo barco que usam para pescar, caçar pássaros ou vender as suas peças de artesanato (como gorros, sacos “chuspas” ou almofadas). Estes produtos são uma das maiores atrações turísticas da região: quem quer visitar os uros tem de navegar num catamarã a partir da cidade de Puno (Peru) acompanhado por um guia.

Visitar a comunidade do lago do Titicaca é visitar um mundo que começou há vários séculos nas mãos dos uros, uma civilização que já está extinta (o seu último membro morreu em 1950). Quem hoje mantém esta tradição são os nativos de origem aimara, com quem os uros mantinham relações comerciais. Os atuais habitantes do lago Titicaca resultaram do cruzamento destes povos ou ainda dos quechuas, mas o lago já era usado quando Manco Capac (primeiro rei de Cuzco) e Mama Ocllo (uma figura mitológica ligada ao sol) fundaram o Império Inca.

Veja imagens dos uros na fotogaleria.

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