“Em Portugal, os professores mais velhos são os que reportam menor disciplina em sala de aula. Não obstante, os níveis de disciplina reportados pelos professores são sempre baixos”, lê-se num estudo dedicado aos professores, às suas condições de trabalho e remunerações, entre outros aspetos, da autoria do projeto aQeduto, uma parceria do CNE com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
O estudo, que compara alguns países membros da OCDE, tendo por base dados do relatório TALIS 2012, mostra que Portugal apresenta os níveis mais baixos de disciplina em sala de aula, nas faixas etárias mais envelhecidas do corpo docente.
Se em casos de países como Espanha, Dinamarca e Polónia, à medida que os professores envelhecem e ganham mais experiência vai aumentando o nível de disciplina em sala de aula, noutros, como Irlanda e Portugal, acontece exatamente o inverso.
“O envelhecimento dos docentes conduz a um reporte mais acentuado de indisciplina, particularmente em Portugal, onde os professores acima dos 50 anos reportam níveis muito baixos de disciplina. Esta questão deve ser encarada com muita atenção, dado o envelhecimento do corpo docente. Em 2012, 34% dos professores portugueses tinham mais de 50 anos, sendo que, em 2015, essa percentagem aumentou para 39%”, alerta o estudo.
Em Portugal, 87% dos professores declara sentir-se satisfeito com a profissão, mas apenas 52% se sente respeitado. Regra geral, é a sensação de ser útil aos alunos e de que contribuem para os ajudar a aprender que leva os docentes a mostrarem-se satisfeitos com o trabalho.
O documento compara ainda o nível salarial dos professores com outros licenciados na função pública, em cada um dos países analisados, concluindo que é em Portugal e Espanha que os docentes ganham melhor, sobretudo em início de carreira: “Os professores recebem entre 20 a 30% mais do que os restantes licenciados”.
No entanto, passados 15 anos de trabalho a progressão salarial em Portugal é quase nula para os professores, ao contrário do que acontece na Irlanda ou na Holanda, por exemplo.
“Portugal e Espanha também apresentam uma grande disparidade entre professores em fim de carreira e os restantes, sinalizando um período de aumentos no passado que provavelmente não se repetirá para as gerações mais jovens, que têm tido os salários congelados há mais de uma década”, lê-se no estudo.
Os professores portugueses são os que mais horas trabalham, sobretudo no que diz respeito ao tempo passado a preparar aulas, mas são dos que mais se queixam do reconhecimento do seu trabalho.
“Em 2012, 26% dos professores declararam nunca ter sido reconhecidos de forma alguma pelo seu trabalho e 48% afirmam que, no geral, os professores são pouco respeitados pela sociedade”, lê-se no estudo, em relação a Portugal.
Pior, só Espanha, onde 45% dos professores afirmaram nunca ter tido qualquer reconhecimento pessoal pelo trabalho realizado.
No que diz respeito a metodologias de trabalho, os professores portugueses “debitam muita matéria”, preferindo o método expositivo ao método de aulas práticas.