Os alunos portugueses têm vindo a melhorar o desempenho no PISA — um estudo internacional que avalia a literacia dos jovens de 15 anos, a Matemática, Literatura e Ciências –, aproximando-se da média da OCDE, e o maior responsável por esse progresso é a escola. Esta é a principal conclusão de um documento produzido no âmbito do projeto aQeduto, uma parceria do Conselho Nacional de Educação (CNE) com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Entre 2000 e 2012, os resultados dos alunos portugueses a Matemática melhoraram cerca de 8%, tendo passado de uma pontuação de 450 para 487 pontos. Além de Portugal, só o Luxemburgo e a Polónia apresentaram “crescimentos relevantes nos resultados”. A percentagem de alunos muito fracos nesta matéria caiu de 30% para 21% e aumentaram de 1 para 7% os alunos excelentes.
As melhorias devem-se a “múltiplos contributos, destacando-se o efeito positivo do trabalho das escolas”, com principal destaque para as escolas inseridas em meios socioeconómicos desfavorecidos que conseguiram “resultados de excelência”, lê-se no estudo “Afinal, porque melhoraram os resultados?”, que será apresentado, esta quinta-feira, em Lisboa.
Uma maior percentagem de escolas inseridas em meios socioeconómicos desfavorecidos consegue ter mais alunos com bons desempenhos. Entre 2003 e 2012, a percentagem destas escolas que obtiveram resultados abaixo de 500, reduziu de 65% para 46%.”
Segundo os autores do estudo, “este sucesso pode estar relacionado com: a formação e a motivação dos docentes; a criação de condições para o alargamento da educação pré-escolar; a melhoria dos recursos pedagógicos e uma maior autonomia das escolas“.
A propósito da educação pré-escolar, o estudo revela que “os alunos que frequentam o pré-escolar obtêm, em média, um score PISA a Matemática mais elevado e apresentam uma probabilidade mais baixa de chumbar”. No ano de 2003, pouco mais de 70% dos jovens com 15 anos tinham frequentado o pré-escolar, pelo menos um ano. Uma percentagem que subiu para 85% em 2012. E esta percentagem vai aumentar ainda mais, à medida que se o Governo vai universalizando o pré-escolar a todas as crianças a partir dos três anos.
Mas nem tudo está bem. Os diretores das escolas apontam para problemas relacionados com as instalações, o aumento do número de alunos que chegam ao 9.º ano com pelo menos um chumbo, e a queda do estatuto profissional dos pais. Porém, aos olhos dos diretores, a falta de disciplina parece ser o maior problema.
A indisciplina e a falta de respeito em sala de aula são, segundo os diretores, os problemas que mais afetam o aproveitamento dos alunos e o normal funcionamento da escola.”
Já num estudo anterior, também deste projeto, se concluiu que a indisciplina é maior quando se tratam de professores mais velhos.
Alunos portugueses dão-se bem com os professores
Apesar disso, os alunos portugueses foram os que mais consideraram “ter um bom relacionamento com os professores (86%) e cerca de 25% sentiam-se muito felizes na escola”. E é também em Portugal que os professores são mais bem vistos pelos alunos. Os alunos acham que são bem apoiados, orientados e avaliados. Os autores sublinham ainda algo surpreendente: “Em países com resultados PISA muito elevados os professores não são bem vistos pelos seus alunos”.
A verdade é que do lado dos professores essa visão não é tão romântica. E a prova disso é que Portugal “é o país com a maior percentagem de professores insatisfeitos com a profissão (13%), embora a grande maioria continue satisfeita ou mesmo muito satisfeita (19%)”. Além disso, 48% dos professores sentem-se desrespeitados ou muito desrespeitados e apenas 5% se sentem bastante respeitados.
À semelhança de outros estudos que têm vindo a sair, também neste se desvaloriza a importância do chumbo. “Esta prática não contribui para que os alunos que chumbam alcancem o mesmo nível de aprendizagem que os colegas que frequentam o 9.º ano, mas que nunca chumbaram”
O Projeto aQeduto: avaliação, equidade e qualidade em educação é uma parceria entre o Conselho Nacional de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.