O presidente da Sociedade Polis Litoral Ria Formosa, Sebastião Brás Teixeira, apresentou a sua demissão do cargo, bem como outro administrador da mesma sociedade. Foi Brás Teixeira quem, há um mês, deixou o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, numa posição sensível — então noticiada pelo Observador — quando este garantiu no Parlamento que ainda não havia uma posição fechada sobre as demolições a Ria Formosa sem saber que os moradores da ilha da Culatra já tinham recebido cartas, do presidente da sociedade, a dar conta de demolições.
O pedido de renúncia ao cargo foi comunicado através de uma nota divulgada pelo Ministério do Ambiente onde se avança ainda que os dois ficarão em funções até ao final do mês de novembro, que “o Governo já iniciou o processo de substituição” e que, “devido à renúncia agora tornada pública” os projetos do Governo para a Praia de Faro, o cais da Ilha de Tavira, praia do Ancão e parque Ribeirinho de Olhão registam “algum atraso“. Mas o ministério garante que os quatro projetos “vão prosseguir”. Contactado pelo Observador sobre os motivos que justificaram este pedido de renúncia, o Ministério do Ambiente não adianta qualquer informação. O Observador tentou também contactar Brás Teixeira, mas até ao momento ainda não foi possível obter qualquer esclarecimento.
O pedido de Brás Teixeira surge no dia em que no plenário da Assembleia da República vão ser debatidos quatro projetos de resolução, do PS, PCP, BE e Verdes, sobre a Ria Formosa. Os projetos dos três partidos à esquerda do PS recomendam a suspensão das demolições naquela zona; já o projeto dos socialistas não é tão radical e recomenda ao Governo” um conjunto de ações em torno da requalificação e valorização da Ria Formosa”.
Há um mês, no Parlamento, o ministro do Ambiente esteve na comissão parlamentar da especialidade, onde foi confrontado pelos comunistas com as demolições na ilha da Culatra, mas João Matos Fernandes foi prudente: “Não tenho nenhuma resposta acabada para lhe dar [sobre as demolições], com certeza que não passarão 15 dias até que a tenha. Não posso, em momento algum, dizer-lhe que não vai haver demolições nas ilhas barreira, porque objetivamente há casas que estão em risco e o Governo não pode fazer de conta que não as conhece. Não temos nenhuma sanha demolidora. Não temos nada contra ninguém. Estamos a analisar os processos caso a caso”.
Mas se o Governo estava a analisar o assunto, no terreno já parecia haver uma decisão tomada. A audição do ministro aconteceu a 30 de setembro, mas três dias antes já os proprietários de casas na Culatra tinham recebido cartas da Sociedade Polis Ria Formosa a dar conta da demolição. Ou seja: quando o ministro ainda dava o processo como em fase de estudo, já Brás Teixeira anunciava uma decisão sobre a demolição de 81 casas na Culatra. Nessa altura, o Observador apurou que o presidente do Polis só informou o ministro sobre o envio dessa carta no final do dia da audição parlamentar.