A Sun Concept é a vencedora nacional do concurso de empreendedorismo social “Chivas The Venture”. O fundador, Nuno Oliveira, terá a oportunidade de representar Portugal na final internacional que acontece de 10 a 14 de julho em Los Angeles, nos Estados Unidos, caso seja uma das empresas selecionadas. Para já, vai participar num programa de aceleração de startups em Oxford, com as finalistas de 31 países, a decorrer de 12 a 17 de março.
De uma “conversa de bar” entre “uma pessoa que tinha uma grande vontade de retribuir algo ao Algarve que o viu nascer e uma pessoa que tinha desenvolvido os primeiros barcos eletro-solares em Portugal”, nasceu, há ano e meio, em Olhão, a Sun Concept, conta Nuno Oliveira, ao Observador. A empresa de construção naval eletro-solar apresentou um conceito de embarcação alimentada pela energia solar, que pode ser utilizada para a pequena pesca até à promoção de atividades marítimas e turísticas.
Arrancaram com cerca de meio milhão de euros, capital próprio, e, neste momento, têm barcos a circular por toda a costa portuguesa, de Vila Nova de Cerveira ao Algarve. O primeiro protótipo saiu há um ano, já foram vendidos cinco barcos e dez estão a ficar prontos para ser entregues.
Licenciado em Biologia, Nuno Oliveira nota a importância de se perceber o cariz ambiental que o projeto tem. “Estamos a entregar algo à sociedade que vai trazer bem-estar, vai melhorar o ambiente, vai melhorar a vida das pessoas”, propondo, assim, uma solução que responda às alterações climáticas, à conservação da biodiversidade, à mobilidade elétrica, à independência energética e à eficiência económica.
Queremos melhorar a nossa proposta de valor, ouvir as críticas, o que nos têm a dizer de menos bom e de bom e com isso chegar a casa e trabalhar”, admite o fundador da Sun Concept. “Um dos nossos objetivos é sair pela primeira vez fora das fronteiras. Vamos entrar num ambiente onde, talvez, as questões da sustentabilidade são mais procuradas e vistas como mais exigentes do que em Portugal”, nota.
Num evento que decorreu esta quarta-feira no Museu da Água, em Lisboa, cada projeto fez uma apresentação de três minutos que foi avaliada por um júri constituído por Filipe Santos, presidente da Portugal Inovação Social, Fernanda Freitas, jornalista, Miguel Neiva, criador da ColorADD e vencedor da edição anterior em Portugal, Rafael Alves Rocha, membro do Conselho de Gestão da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e Jean François Collobert, diretor geral da Pernod Ricard Portugal (detentora da marca Chivas).
A Sun Concept recebeu 3.000 euros por ter vencido a fase nacional do concurso e, caso seja a grande vencedora, poderá receber até um milhão de dólares (938 mil euros).
“Ter as melhores pessoas do mundo a trabalhar do lado do bem”
Na fase final da competição portuguesa, estavam também a concurso as startups Places4All (que ficou em segundo lugar e recebeu 1.000 euros), Noocity (tinha participado no ano passado), NU-RISE e MedSimLab, escolhidas de um total de 30 candidaturas.
Um kit para ajudar equipas de emergência médica no caso de alguém ter uma paragem cardíaca [MedSimLab]. Um tratamento feito à medida, em tempo real, para pacientes com cancro [NU-RISE]. Um barco totalmente elétrico que, sem gastos de gasolina, sem poluição ambiental, transporta pessoas ou bens de primeira necessidade numa recôndita aldeia isolada subida do nível das águas [Sun Concept]. Cidades floridas com vegetação, alimentos frescos produzidos no meio urbano [Noocit]. Uma Sistema de Classificação de Acessibilidade Universal para que em qualquer cidade, qualquer pessoa, independentemente da sua incapacidade ou limitação, consiga aceder a todos os espaços [Places4All]. Estas foram as propostas apresentadas pelas startups a concurso, que visam criar soluções ou, pelo menos, minimizar um problema social ou ambiental.
Imaginem que não são cinco, mas cinco mil projetos de impacto em todo o mundo a tentar desenvolver as suas soluções. É este o potencial do empreendedorismo social aplicado de forma sustentável”, referiu Filipe Santos, Presidente da Portugal Inovação Social.
O “Chivas The Venture” chegou pela primeira vez a Portugal em 2015, para apoiar empreendedores sociais. No ano passado, o vencedor foi Miguel Neiva, criador da ColorADD, o código de interpretação de cores para daltónicos, que representou Portugal na final internacional do concurso.
“É um projeto que nos leva, se soubermos ir, onde nos dão regras, mas somos nós que escolhemos as que queremos seguir. Tens de estar seguro do teu projeto. Tem de ser um projeto que seja escalável, que seja transformador, que seja sistémico. Mais do que isso, conhecer 27 pessoas de 27 países, de diferentes culturas, a rezar a diferentes deuses, com um objetivo comum que é um projeto transformador para um mundo melhor, com realidades diferentes, em processos de maturação diferentes, mas com a mesma vontade e a mesma paixão”, recorda Miguel Neiva.
É muito importante toda esta área ser sustentável, não depender dos apoios, dos financiamentos, para criarmos uma economia social, que não veja o lucro como objetivo, mas como uma consequência do trabalho. O objetivo é levar qualidade de vida a milhões de pessoas no mundo. E no dia em que se perceber que tudo isto pode ser sustentável e que gera economia, vamos ter as melhores pessoas do mundo a trabalhar do lado do bem”, remata.
O concurso contou com o apoio do IES – Social Business School, escola de negócios focada em Empreendedorismo e Inovação Social. Participaram startups e empresas em fase de lançamento ou crescimento com fins lucrativos, com um modelo de negócio assente na criação de valor, tanto financeiro como social, que resolva ou diminua um problema social ou ambiental.