A Polis Litoral da Ria Formosa concluiu esta quinta-feira com sucesso a posse administrativa das últimas construções sinalizadas para demolição nas ilhas-barreira no concelho de Faro, localizadas no núcleo dos Hangares, apesar dos protestos dos moradores.
A operação começou com os cerca de 200 manifestantes presentes no núcleo dos Hangares a receberem o cordão policial de 40 elementos da Polícia Marítima, que protegeu durante duas horas os cinco técnicos da Sociedade Polis da Ria Formosa que colocaram os editais nas paredes das habitações referenciadas, conseguindo evitar confrontos físicos.
No final, os técnicos conseguiram colocar editais em 19 das 24 construções com demolição prevista, por haver cinco delas ainda sujeitas a providências cautelares, segundo os dados recolhidos pela Lusa junto de técnicos da Polis.
Inicialmente, a Sociedade Polis Litoral Ria Formosa tinha adiantado à Lusa que ia sinalizar 23 construções para a tomada de posse administrativa desta quinta-feira, mas a apresentação de seis providências cautelares só permitia a tomada de posse de 17.
Apesar de alguns empurrões entre elementos policiais e populares, a operação foi considerada um sucesso pelo responsável das Relações Públicas da operação policial, o comandante Pedro da Palma, que no final disse ter havido quatro pessoas assistidas, mas por problemas ligeiros.
“[Quinta-feira] Havia mais emoção no ar, tivemos quatro pessoas que foram assistidas, por tensão alta, ansiedade, e notava-se que havia mais emoção”, reconheceu o comandante Pedro da Palma após a operação, comparativamente com as que foram realizadas na semana passada, no núcleo do Farol.
A mesma fonte frisou, no entanto, que “nunca chegou à violência física” e que se tratou de “uma operação muito específica, cujo principal objetivo foi sempre promover a segurança quer das pessoas quer dos funcionários da Polis”.
“E essas situações foram com pessoas que se punham em risco, em cima de muros e foi necessário tirá-las de lá, mas as pessoas foram sempre coerentes e acataram as orientações da Polícia Marítima”, afirmou o comandante, frisando que “as ordens foram acatadas e a Polis fez o seu trabalho”.
Mas a demolição das habitações sinalizadas continua a merecer a contestação da população local e dos moradores das construções afetadas, que reconhecem não ser primeiras habitações mas lembram que as suas famílias estão presentes nesses locais há décadas.
“Eu tenho para onde ir, tenho casa em terra também, porque com moços pequeninos não podemos estar aqui morando o ano inteiro. Mas a maior parte do tempo estamos aqui”, afirmou uma moradora à Lusa, considerando que a casa hoje sinalizada “é tudo” para a família.
“Esta casa, a que chamam barraca e casa velha, para nós é tudo, é tudo o que temos, para além dos nossos filhos, isto é o nosso mundo. Estamos desejando ter umas férias e um fim de semana para vir, porque isto é a nossa vida, este é o nosso paraíso”, disse.
Vera Pereira é outra das moradoras que falou com a Lusa e disse ter um sentimento “de angústia, desespero”, por não conseguir “fazer mais nada”, mas disse manter a esperança, apesar de reconhecer que a sua “não é primeira habitação, mas é uma casa de família”, por onde “já passaram três gerações”.
Vanessa Morgado, da Associação de Moradores do Núcleo dos Hangares, na Ilha do Faro, concelho de Faro, lamentou ter assistido a “mais um dia de injustiça”, com “muita emoção” e “emoções recalcadas”, que levam as pessoas “a explodir” no momento em que os técnicos fazem a colocação dos editais.