Os vendedores das bancas do arraial de Alfama, em Lisboa, concordam com a medida da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior de implementar um sistema comum de som, mas sentem-se prejudicados pela falta de música todos os dias.
“O sentido da Junta está correto – pôr a música para todos e ouvir a música que é dos Santos Populares – só que tem mais sentido pôr o mês inteiro porque estamos o mês inteiro abertos, menos à segunda-feira. Deviam pôr e não o estão a fazer”, afirmou à Lusa Marina Costa, responsável pela banca do “Retiro Mãe e Filhos”.
De acordo com informação da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, o sistema comum de som no arraial de Alfama vai funcionar nos dias 9, 10, 14, 17 e 24 de junho, das 20h00 às 02h00, nos dias 13 e 15 de junho, das 20h00 às 24h00, e apenas na noite de Santo António, dia 12 de junho, é que o arraial se prolonga até às 04h00.
“Se a gente ontem não metesse música, às oito da noite não tínhamos ninguém e assim que se meteu música tivemos muita gente”, contou Marina Costa, admitindo que tiveram que recorrer a colunas próprias, uma vez que o sistema de som da Junta não funciona todos os dias.
A autarquia lisboeta de Santa Maria Maior comunicou que “não estão autorizados sons autónomos por banca ou retiro“, mas nem todos os vendedores do arraial de Alfama cumprem.
Nascida e criada no bairro lisboeta de Alfama, Marina Costa, de 36 anos, herdou a tradição de família de organizar uma banca de vendas durante as Festas de Lisboa, pelo que garante que sem música não há arraial.
“Se só à sexta e ao sábado é que metem música, então nos outros dias isto morre“, reclamou a alfacinha de gema.
Entre a azáfama de assar sardinhas e servir caldo verde, o responsável pelo “Retiro dos Compadres”, Rui Grilo, declarou à Lusa que a medida da Junta de Freguesia é “para inglês ver”.
“Dizem que a gente não pode ter colunas, mas o que é facto é que música não há, é só nos dias que eles querem, nos dias em que a gente, se calhar, precisa de música não temos música”, criticou Rui Grilo, referindo que as vendas têm sido prejudicadas.
Com muitas dúvidas em relação ao funcionamento do sistema comum de som, o responsável pelo “Retiro dos Compadres” garantiu que lhe foi dito que “só não havia música à segunda-feira”, que é o dia em que as bancas de vendas estão fechadas.
“Agora, pelo que a gente começa a ver, só vai haver música, se calhar, à sexta e sábado, os outros dias não há música“, lamentou, indicando que “há pessoas a meterem colunas”.
Como morador de Alfama, Rui Grilo manifestou-se contra as colunas autónomas, advogando que, nesses casos, os vendedores não cumprem também com os horários de funcionamento, o que afeta o descanso dos residentes.
No “Retiro da Fininha”, a responsável Fátima Correia, que participa no arraial de Alfama há 20 anos e que “já foi fininha, agora é gorda”, disse à Lusa que concorda com a medida que o som seja igual para todos, “desde que ponham música todos os dias”.
“Ontem não houve música e o bairro estava um bocado triste“, referiu Fátima Correia, defendendo que “a malta quer é música pimba”, pelo que é a favor do sistema comum de som apenas emitir música portuguesa adequada às festividades.
Já no “Retiro da Baixinha”, Maria Carvalho, nascida e criada há 52 anos em Alfama, faz a mesma reclamação em relação à música: “tinham que pôr todos os dias”.
“Se nos mandam abrir, têm que pôr a música. Mas, por um lado, acho bem que seja a música igual para toda a gente”, expressou a vendedora.
Em declarações à Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, afirmou que a medida do executivo visa resolver o “caos” que se tem verificado em anos anteriores no arraial de Alfama, devido à existência de sons autónomos por retiro.
“Até agora não há nenhuma reclamação de um retiro dizendo que queria ter liberdade para passar a sua própria música”, declarou o autarca, argumentando que “está toda a gente muito satisfeita”.