É preciso ter lata. Tratam-nos como se faz com as crianças. Aparecem em palco como se fossem astronautas. Disparam “Safe and Sound” o single que lhes apresentou o álbum do ano passado, Woman, e para o caso de alguém achar que isto era qualquer outra coisa, vão atiçando todos os groupies da dança que somos nós com “D.A.N.C.E.”, aquela alegria de 2007 que os revelou ao mundo. São docinhos para os catraios, agitar o açúcar para ninguém perder a concentração. Isso mesmo. É preciso ter lata. Os Justice — Gaspard Augé e Xavier de Rosnay — têm e é um dom que lhes serve bem as vontades.

Na verdade, há mais, isto continua: conseguem até levar-nos ao engano. Ao contrário dos camaradas Daft Punk, não há tanto investimento em tudo o que rodeia a música. Não há pirâmides, não há capacetes. Mas é ao longo do concerto que vamos descobrindo a verdade: há mais carnaval que as primeiras ameaças mostram e tudo o que é luzes fica-lhes bem. Isto é tudo meio punk num mundo digital. Cabedal nas costas e eletrónica para o mundo. Tudo bem, vamos a isso. E quando sairmos daqui há que pensar no que realmente importa: quando é que vou comprar um sintetizador e finalmente chegar a super herói de circuitos e integrados?

Há tempo para todos os bailes: clubbing puro e simples (esta última palavra engana, porque de simples os Justice têm muito pouco), um género especial da escola Bach com muito esteróide pela pauta fora, aeróbica do ghetto para exercícios sem regra. Pode ser de olhos fechados ou não, pés no chão ou noutro sítio qualquer. E quando a rotação parece abrandar, é apenas um truque. Toma lá disto. E mais disto. E depois daquilo. No final das contas, o resultado é inevitável: levantou poeira.

Farra brava, isto vai dar em sexy time entre uns quantos. Isto vai dar em sem vergonhice quando houver debandada. “We are your friends, you’ll never be alone again.” Título de canção, versos orados em coro. #tudocerto.

Ainda assim, há espaço para dúvidas (daquelas boas, que não magoam nem deixam marcas). Apesar deste technotronic gostoso e de bom gosto, continuam fortes as marcas de guerra de um trator imparável chamado Run The Jewels que tinha por aqui passado pouco antes. Um inquérito no fim da festa não traria grandes conclusões, por isso não o fizemos. A hora não ajuda ao discernimento e os fatores são demasiado relativos. Coisas da vida no Parque, não há grande solução para isso. E não é pecado, pois não? Claro que não.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR