“We are the Champions”. Os Run the Jewels entraram em palco ao som de “We are the Champions”, dos Queen. Depois disto, venha quem vier. Dá-me essa corrente dourada, dá-me já. Queremos todos ser um deles. Provavelmente não temos o swag, provavelmente não temos esse jogo de cintura nas palavras que batem como estas. Estamos todos no clube, isto é um festival ou é uma noite blockbuster, como os próprios a apresentam? É o que eles quiserem. Os Run the Jewels roubaram esta Primavera. Limpinho, limpinho.

“You beautiful beautiful people”, diz a dupla, Killer Mike e El-P. E a maralha grita “RTJ, RTJ”. O mosh pit espalha-se, as mãos no ar multiplicam-se, MCs que controlam, gente que se deixa controlar. À frente do palco há um mundo à parte, lá mais atrás se ainda havia curiosos depressa se transformam em convertidos.

“Kill your masters, you are motherfucking free.” Há alguma ausência de saúde nesta dica que vem do palco mas não é que pelo menos durante esta hora somos mesmo livres? Ninguém se atreve a dizer o contrário. Que ninguém se atreva. Killer Mike e El-P, repetimos os nomes deles porque eles gostam de falar, eles são nossos amigos. “Jump, jump.” Saltem, saltem, é bom que saltem, ninguém sabe o que pode acontecer se não fizermos o que eles querem. E ainda assim, temos a certeza: eles são nossos amigos.

Os Run The Jewels riem-se. Não sabemos se de nós ou para nós mas também não importa. Estamos presos. “Nobody Speak, Nobody Gets Choked”, aquele malhão com a marca de DJ Shadow. Isto é headbanging com rimas, tentemos aquele requebranço mal educado, tentemos até um twerk, porque não? Mesmo quem nunca o fez sabe que é este o ritmo certo. E a verdade é óbvia de mais: não é preciso ser fã, não é preciso ter as rimas decoradas (e tantos eram as que as tinham), não era preciso chegar com os títulos dos álbuns bem decorados. E ainda vale a pena perguntar se o hip hop conquista qualquer lugar de cabeça de cartaz? A sério que ainda estamos nessa discussão?

El-P é um tretas profissional, um bullshitter encartado. Dá-nos conversa, diz que gosta de nós, todos nós. Este é o melhor público do mundo, esta é a melhor cidade do mundo. E não é tudo facto comprovado? Acreditar neste gangster não é fundamental. Como não é fundamental ser académico desta gente para saber que da primeira noite de Primavera fica esta memória. Braços no ar, corpos num crowdsurf batido, telefones a fazer tudo o que é preciso para dizer que estivemos aqui. Há alguém que perde a vergonha e abre o Shazam (aquela aplicação que descobre os títulos das canções). E ganhou tudo o que precisava, uma nova música favorita. E se isso não é a felicidade, sabe-se lá o que é.

“Close Your Eyes (And Count To F**k)”, “Lie, Cheat, Steal”. São títulos, isso mesmo, e não parece coisa boa para se ensinar para em nenhuma catequese. Mas Killer Mike e EL-P estão sempre connosco. Sempre ali, a avisar “não abusem da confiança com quem está ao vosso lado, vamos aí abaixo e resolvemos isso”. E acreditem: eles resolvem. Eles resolvem mesmo.

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