Há mais três casos de Legionella confirmados. O número total sobe assim para 38, de acordo com a nova atualização feita pela Direção-Geral da Saúde (DGS), esta quarta-feira. Continuam cinco doentes nos cuidados intensivos.

De acordo com o comunicado divulgado esta manhã, todos os casos de Legionella confirmados dizem respeito a doentes já com doenças crónicas existentes. Dos 38 casos, 24 (63%) são mulheres e 26 (68%) têm 70 ou mais anos. Na passada segunda-feira morreram dois dos doentes infetados: Graça Ribeiro, de 70 anos, morreu em Santa Maria, para onde se dirigiu depois de uma primeira ida ao Hospital de S. Francisco Xavier; e Simão Santiago, de 77 anos, morreu no Hospital dos Lusíadas, onde foi internado depois de se queixar de um forte má disposição dias depois de ter estado a fazer exames no S. Francisco Xavier.

O último balanço, feito no final de terça-feira pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, apontava para 35 casos confirmados e um outro em estudo. Nessa mesma conferência, Graça Freitas disse que “a realidade está a evoluir de forma positiva” porque o número de novos casos está “a estabilizar e tende a diminuir” e porque “há uma grande capacidade de resposta” ao surto. Mas pediu cautela: “Vamos ver como evoluem os casos dos próximos dias, mas tudo indica que serão menos casos do que nos dias anteriores”.

De acordo com Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde, o surto foi provocado “por falha técnica”.

“Este surto não foi provocado por falta de investimento no hospital. Os equipamentos são recentes. O que aconteceu aqui foi seguramente uma falha técnica.”

Com o perigo de novos casos de Legionella a diminuir, o ministro de Saúde sublinha que “os portugueses têm todos os motivos para confiar no sistema nacional de saúde e dos profissionais de saúde. Estes casos não deviam acontecer e isso está a ser acompanhado e investigado. São precisas mais ferramentas para evitar estas ocorrências, de precaução e vigilância”. O mecanismo de ventilação do centro hospitalar de Lisboa Ocidental estão a ser revistos e, durante esta semana, as unidades hospitalares vão fazer uma análise de risco para garantir “que estas situações não se repitam”.

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O surto de Legionella no Hospital São Francisco Xavier foi detetado na última quarta-feira, 31 de outubro, embora os sintomas tenham sido sentidos pela primeira vez cinco dias antes. O primeiro doente foi identificado nesse mesmo dia e é um funcionário do centro hospitalar S. Francisco Xavier, de 44 anos com problemas respiratórios, que já teve alta. Três dias mais tarde surgiram mais casos, altura em que o hospital deu o alerta sobre um surto que haveria de infetar 38 pessoas até esta manhã.

Advogado Simão Santiago é uma das vítimas da legionella. Número de infectados sobe para 34

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), após análises foi detetada a presença da bactéria Legionella nos circuitos de água do Hospital de São Francisco Xavier. Os circuitos de água foram entretanto desinfetados com cloro ou por choque térmico para eliminar as bactérias.

Essa, no entanto, pode não ser a fonte do surto, explicou Graça Freitas, diretora-geral da Saúde: pode ser apenas “um dos focos”, pelo que a investigação prossegue junto dos doentes e do ambiente. Entretanto, já foram identificados sete equipamentos potencialmente produtores de aerossóis nas proximidades do hospital e onde poderá também ter começado o surto.

O Hospital São Francisco Xavier tinha feito análises em outubro que deram negativo para este microorganismo: “O Hospital tem o seu plano de prevenção para estes eventuais casos. São feitas análises: umas de 15 em 15 dias, outras de mês a mês e outras de três em três meses. Todas elas no mesmo sentido. Nos pontos mais críticos são feitas de 15 em 15 dias, que são as tais torres de refrigeração. (…) Nas análises aos pontos mais críticos, as últimas são de outubro, e deram negativo”, disse Rita Pérez, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental.

O Ministério Público já abriu inquérito para investigar o caso e averiguar “qualquer indício de crime”.

A Legionella é uma doença provocada por uma bactéria que infeta o corpo humano por inalação de aerossóis contaminados. Este microorganismo é muito resistente e sobrevive por longos períodos de tempo em ambientes difíceis. De acordo com a DGS, a doença “tem uma clara relação causa-efeito com a colonização da água pela bactéria em sistemas de água de grandes edifícios” porque se transmite inalação de gotículas de água portadoras do microorganismo. Por ano, são registados 200 casos de Legionella, uma bactéria que, segundo a DGS, é “muito frequente nas nossas vidas”.

António Costa: Governo acompanha o surto “com grande consternação e pesar”

O primeiro-ministro, António Costa, disse, na terça-feira, que o Governo acompanha o surto de Legionella “com grande consternação e pesar” em relação às vítimas mortais e “com preocupação a evolução” do estado de saúde dos doentes.

“O senhor ministro da Saúde está precisamente neste momento a fazer um ponto de situação no Hospital São Francisco Xavier. O Governo tem acompanhado com grande consternação e pesar relativamente às pessoas que faleceram e com preocupação a evolução do estado de saúde de todos”, respondeu aos jornalistas António Costa. O chefe do Governo respondia a questões à chegada para um encontro com investidores internacionais, um evento paralelo à Web Summit, promovido pela AICEP.

O primeiro-ministro sublinhou que “foram já tomadas medidas para esclarecer tudo aquilo que aconteceu. Mas neste momento [ao final da tarde] o ministro da saúde está precisamente a fazer o ponto da situação e melhor do que eu ele está em condições de responder”, remeteu. De acordo com o boletim epidemiológico da DGS sobre este surto de Legionella, datado das 12h00, subiu para 34 os casos confirmados de doença dos legionários no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, encontrando-se cinco doentes infetados em unidades de cuidados intensivos, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).