Genericamente, quando pensamos nos adeptos sul-coreanos temos a imagem de fãs que adoram o desporto e que têm, por regra, um comportamento sempre civilizado. E essa imagem foi reforçada com o ambiente que dez mil pessoas criaram na Arena do hóquei em gelo durante os encontros da equipa unificada da Coreia (com a ajuda do grande destaque da competição: as 180 norte-coreanas de “farda” oficial com coreografias ensaiadas). No entanto, dentro dessa regra, existem exceções. E a edição de PyeongChang acaba por ter mais um exemplo disso mesmo.
O filme já tinha acontecido em Sochi, na edição anterior dos Jogos Olímpicos de Inverno, mas com uma interveniente distinta: Elisa Christie. A britânica foi acusada de ter provocado uma queda dramática à sul-coreana Park Seung-hi na final dos 500 metros de patinagem de velocidade em pista curta, que assim se ficou pelo bronze (ganhou o ouro nos 1.000 metros e na prova por equipas), e recebeu inúmeras ameaças de morte de fãs após o sucedido.
Agora, Choi Min-jeong foi a prejudicada e Kim Boutin a alegada culpada. Tudo se passou na final da prova de 500 metros (mais uma vez): a canadiana acabou no quarto lugar (só a título de curiosidade, a quinta foi Elisa Christie) mas acabou por chegar à medalha de bronze depois da desqualificação da atleta do país anfitrião, que terminara na segunda posição, por ter alegadamente interferido no percurso de uma adversária. As críticas não demoraram, até porque Boutin também empurrou Choi numa curva sem receber qualquer tipo de sanção.
https://twitter.com/TG_Copi_Half_EX/status/963390928579837952
Como contam a Marca e o As, a canadiana recebeu mais de 10.000 mensagens após o sucedido nas suas contas oficiais nas redes sociais, entre as quais dezenas de ameaças de morte. “Medalha suja”, “O Canadá ensinou-te a seres mentirosa”, “Vou à tua procura e mato-te” ou “Retira-te e espero que tenhas uma vida má” foram algumas das frases deixadas no seu Instagram, o que motivou mesmo uma intervenção rápida do Comité Olímpico Internacional liderado por Thomas Bach.
Canada's Kim Boutin receives death threats after winning short-track bronzehttps://t.co/whRMrHjyF5 pic.twitter.com/4RFA0VbP7f
— CBC Olympics (@CBCOlympics) February 13, 2018
“É uma conduta reprovável e lamentável. Queremos felicitar a Kim pela sua medalhas. Devemos preservar a segurança e a saúde dos nossos desportistas”, reforçaram os canadianos. “Pedimos a todos que respeitem os atletas e que apoiem o espírito olímpico. Não vi os comentários, mas lamentavelmente são questões que não aprovamos. Vamos limitar-nos a apoiar os atletas”, defendeu Mark Adams, porta-voz do Comité Olímpico Internacional, citado pela BBC, tal como já tinha feito Sung Baik-you, representante do Comité Organizador: “Os fãs devem acalmar-se, em nome do espírito olímpico e desportivo”.
Assim, o pódio da final dos 500 metros de patinagem de velocidade em pista curta acabou por ficar com a italiana Arianna Fontana no ouro, a holandesa Yara van Kerkhof na prata e a canadiana Kim Boutin no bronze. A britânica Elise Christie, que teve uma prova desastrosa, ficou na quarta posição, ao passo que a sul-coreana Choi Min-jeong foi desqualificada.