A medicina tradicional chinesa tem um mestrado num instituto superior do Porto há uma década, seduzindo muitos dos que o concluíram para exercer a atividade em Portugal e utilizar os seus métodos em múltiplas áreas da medicina convencional.
Tendo como denominador comum o mestrado em Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que realizaram no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), do Porto, quatro especialistas relataram à Lusa as mais-valias da sua opção, por oposição à recente acusação da Ordem dos Médicos de “falta de estudos científicos” que comprovem a utilidade daquelas práticas.
Acupuntura (aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo para tratar doenças e promover saúde), fitoterapia (terapia recorrendo a plantas), Tui Na (massagem terapêutica), Dietoterapia (terapia alimentar) e Gi Gong (ginástica energética) são as cinco especialidades da MTC.
Formado na Faculdade de Medicina do Porto em 1975, José Azevedo disse à Lusa sempre ter sentido “uma abertura muito grande para outras formas de fazer medicina”, iniciando a sua busca pela complementaridade “através de cursos de homeopatia e de fitoterapia antes de começar a estudar a MTC, no ICBAS”.
É uma pena que muitos dos meus colegas não estejam abertos a esta forma de ver a medicina, pois são pessoas mais empobrecidas. A riqueza vê-se quando nos abrimos a outras formas do saber”, vincou o médico.
Defendendo a “importância” da complementaridade médica, José Azevedo salientou que a alopatia (medicina tradicional) “resolve muitas questões que as outras não resolvem”, citando os casos em que é imperioso o recurso aos “cuidados intensivos ou das cirurgias”. Confessando que hoje a “forma de ver o doente e a doença é completamente diferente” da que conheceu quando se formou em 1975, o médico do Porto defende, por isso uma “prática que integre todo o conhecimento”.
Licenciada em Anatomia Patológica pela Universidade do Porto, Ana Correia descobriu por acaso, há 20 anos, num artigo, “uma referência à acupuntura” e mais tarde ingressou no ICBAS. Hoje, não tem dúvidas em afirmar a “evolução havida em Portugal, em termos de formação”, esperando que o passo que venha a seguir-se ao da licenciatura aprovada pelo Governo seja o da “regulamentação da atividade”.
“A MTC é uma paixão, um envolvimento e uma ousadia. Temos de ter as três coisas”, confessou Ana Correia, explicando que a acupuntura “funciona muito bem nas dores agudas, nas ciáticas e lombalgias”. Mas funciona também noutras abordagens, “em patologias crónicas, alergias, asma, renite, sinusite, depressão, insónia, ansiedade e, como adjuvante da medicina tradicional, em qualquer outro tipo de patologias, como a fibromialgia”, completa.
Alexandra Lopes conheceu a MTC depois de se formar em Ciências Farmacêuticas, sentindo no corpo os benefícios de uma terapia a que se submeteu, e que a convenceu a procurar saber mais. “Fi-lo porque vi que a minha base científica era aproveitada no ensino da MTC”, explicou Alexandra Lopes a propósito de um curso que “faz muito o paralelismo entre as duas abordagens”. E sustenta que “quem estuda esta área deve começar por a aplicar em si próprio”. Essa aprendizagem valeu-lhe, hoje, ser capaz de, “quando a pessoa entra no consultório ou na farmácia, ter logo indicações para poder fazer o diagnóstico, o que torna muito interessante juntar as duas coisas”.
Para Alexandre Soares, enfermeiro com especialização em MTC, “por vezes há determinados aspetos e pormenores que escapam a outras abordagens” e nisso a MTC tem um conjunto de saberes “muito bom”, acrescentou, enfatizando que a “aplicação no Serviço Nacional de Saúde do que aprendeu na especialização seria uma mais-valia”. “Aplicar o que aprendi no SNS seria uma mais-valia, pois há uma série de problemas que seriam certamente minorados devido aos diferentes ramos da MTC que conseguem ter um impacto na qualidade de vida do utente”, concluiu.