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Bruno de Carvalho escreveu sobre a situação financeira do Sporting. E disse muito nas entrelinhas

Este artigo tem mais de 5 anos

Bruno de Carvalho escreve sobre a situação financeira do Sporting no DN, em vésperas de AG de obrigacionistas. E deixou recados nas entrelinhas a oposição interna, Holdimo e Benfica, entre outros.

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, escreveu esta segunda-feira um artigo de opinião no DN a propósito das contas do clube e da SAD e da questão dos empréstimos obrigacionistas, numa versão mais curta em papel e na íntegra no online. O líder do clube verde e branco faz uma radiografia resumida da evolução económica e financeira da sociedade nos últimos cinco anos, altura em que foi eleito vencendo nas eleições de março de 2013 José Couceiro, e justifica o novo obrigacionista de um valor até 60 milhões de euros comparando alguns indicadores com os mais diretos rivais, Benfica e FC Porto.

Pelo meio, deixa uma notícia (uma nova negociação da reestruturação financeira) e várias mensagens nas entrelinhas.

“Temos o reequilíbrio da situação económico-financeira de todo o Grupo Sporting, garantindo uma sustentabilidade associada a um crescendo de sucesso desportivo. Crescimento sustentado de todas as linhas de receitas comerciais – direitos TV, merchandising, bilheteira, quotizações, publicidade e patrocínios, entre outros; redução/controlo de custos, seguido de uma fase de investimento com um aumento de custos de forma controlada e sustentada; forte crescimento das receitas de venda de direitos económicos de atletas (…) recuperação dos direitos económicos de 37 jogadores (…) melhor contrato de direitos TV em Portugal resultante da negociação com a NOS num total global de 515 milhões; aumento do número de sócios, tendo já ultrapassado os 170.000 e mantendo um objetivo de crescimento continuado; aumento do património com o Pavilhão João Rocha e forte investimento nas infraestruturas e nas modalidades.”

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No rescaldo de uma fase conturbada em termos "políticos", Bruno de Carvalho repete um discurso que tem vindo a ser uma constante nas intervenções mais "estatais" com vários propósitos: balizar o contexto da chegada ao Sporting, numa altura em que estava em cima da mesa das negociações com a banca um PER e a extinção das modalidades à exceção do futsal, que passaria para a SAD; tocar num ponto que durante duas décadas foi tema de conversa em Assembleias Gerais e que diz respeito à constante delapidação de património depois da posição de força nesse particular obtida na presidência de João Rocha (1973-86, sendo que alguns planos como a Sociedade de Construções e Planeamento, que seria o primeiro projeto de clube empresa em Portugal, ficou na gaveta após o 25 de abril), algo que sofreu agora uma inversão com a construção do Pavilhão; realçar a recolocação da marca, com valores ao nível dos rivais que tinham entretanto decaído a pique; e destacar o constante acréscimo de sócios sem precedentes nos leões que permitiu reforçar e muito as ambições desportivas nacionais e europeias das modalidades.

“Com tudo isto, o ativo da Sporting SAD ascende a 287 milhões de euros, o que duplica desde 2013, sendo que a valorização real dos ativos dos jogadores não está registada, pois os jogadores da formação estão avaliados em quase 0, pelo que este aumento é ainda mais significativo; o capital próprio é positivo em 17 milhões de euros, o que compara com o capital próprio negativo de 116 milhões de euros em 2013; em termos de passivo, destaca-se a redução da dívida bancária em 75 milhões de euros desde 2013, 16 milhões dos quais na presente época, o que é uma amortização superior ao que estava previsto no acordo com os bancos até junho de 2022; em termos de resultados, a soma das últimas quatro épocas completas é de 18 milhões de euros quando as anteriores quatro épocas foi negativo em 160 milhões de euros.”

Se numa primeira fase, em 2011, o discurso do candidato Bruno de Carvalho passava muito para rutura com o passado e uma espécie de linhagem que se ia perpetuando na liderança do Sporting, as eleições de 2013 trouxeram palavras viradas sobretudo para o plano económico-financeiro, no fundo aquilo que ainda o separava em termos de eleitorado da chegada ao poder. Se no plano desportivo os ataques ao presidente verde e branco se centram na forma como lidou com o plantel após a derrota em Madrid, na vertente financeira passam sobre a real situação das contas da SAD - e o líder leonino faz questão de novo de puxar a realidade que encontrou no clube e comparar a mesma com os quatro anos de José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes.

“Nunca estamos satisfeitos e nestes últimos meses conseguimos negociar uma melhoria das condições da reestruturação financeira, não por necessidade de financiamento adicional pelos Bancos (BCP/NB) ou por um falhanço da reestruturação, mas sim pelo sucesso da mesma (…) O ponto de maior importância para os sócios do Sporting é a alteração do valor máximo a pagar para garantir a manutenção da maioria na SAD, passando de 44 milhões para 17,5 milhões, dos quais já temos na conta reserva cinco milhões e no início da próxima época já teremos a totalidade necessária para garantir a maioria na SAD; definição do preço de compra de cada VMOC a 30 cêntimos por utilização da conta reserva, o que significa que o Clube e seus sócios apenas necessitam de 40,5 milhões para comprar a totalidade das VMOC, em vez dos anteriores 135 milhões; com a alteração de condições de reembolso e a opção de compra das VMOC, deixa de haver a necessidade da nova emissão de 55 milhões de VMOC nem do aumento de capital de 18 milhões, podendo este ser feito ou não. Esta negociação foi conseguida sem aumento das taxas de juros e sem entrega de garantias adicionais aos bancos.”

É aqui que Bruno de Carvalho centra a grande "notícia": as condições da reestruturação financeira, que tantas dúvidas levantaram em termos de oposição interna e que tantas críticas motivaram por parte de responsáveis do Benfica (por um alegado favorecimento desigual), foram renegociadas, sem que se explique ao certo todos os moldes desse novo acordo. Ainda assim, há um amplamente destacado que entronca na grande nuvem que pairava a propósito do acordo inicial e que dizia respeito à obrigatória recompra das VMOC para manter a maioria do capital social da SAD: em vez de 44 milhões, será necessário pagar "apenas" 17,5 milhões de euros, dos quais cinco estão "guardados" e o restante ficará preenchido no início da próxima temporada (neste particular, sem ser explicada a fonte de financiamento para essa parcela de 12,5 milhões em falta). Por fim, a possibilidade deixada em aberto da entrada de um novo investidor, num aumento de capital de 18 milhões.

“Isto tudo também serve para ‘perceber’ a posição tornada pública pela Holdimo, com o pedido de uma AG da SAD, pois a mesma percebeu que rapidamente a sua posição ficará diluída (cerca de 10% face aos 26% atuais).”

Tal como tínhamos explicado por altura da crise institucional despoletada após a derrota em Madrid, a relação entre Sporting e Holdimo (o principal accionista, de Álvaro Sobrinho), ou entre Bruno de Carvalho e Álvaro Sobrinho, foi ficando degradada com o tempo, ao ponto do próprio presidente leonino, em resposta ao que foi dito (e feito, na sombra) durante esse período, destacar que a posição cada vez mais reduzida da Holdimo na SAD.

“Na avaliação prévia a toda a ‘crise’ institucional do Sporting, os assessores financeiros do Sporting já tinham antecipado alguns riscos relacionados com operações de empréstimos obrigacionistas pelas seguintes razões: há um risco reputacional associado ao SLB [Sport Lisboa e Benfica] relacionado com tudo o que tem vindo a ser divulgado em termos das investigações por parte do Ministério Público (…) A propósito do Sporting ter apresentado uma proposta de 60 milhões, o SLB também fez em 2013 e 2014 um pedido de autorização de empréstimos obrigacionistas até 130 milhões, que foi o compromisso que assumiu com o Novo Banco depois de ter sido apanhado na hecatombe do BES e de ter de reembolsar quase 150 milhões de obrigações emitidas particularmente e que estavam colocadas nos fundos da ESAF (…) O SLB tem três emissões que tem de renovar anualmente de 45+50+60 milhões = 155 milhões. Atualmente o SLB não tem exposição à banca o que limitará qualquer tipo de apoio caso haja defaults (…)”

Entrando na parte dos empréstimos obrigacionistas, Bruno de Carvalho aproveita a oportunidade para atacar de forma dura o rival Benfica (também refere o FC Porto, mas resumindo aos dois empréstimos obrigacionistas e ao facto de ter as piores contas entre os três) em várias vertentes: por um lado, às acusações de que o Sporting teria sido beneficiado pela banca quando fez a sua reestruturação financeira, contrapondo com "compromissos que assumiu com o Novo Banco depois de ter sido apanhado na hecatombe do BES"; por outro, à emissão de um novo empréstimo obrigacionista pelos leões, frisando que os encarnados terão em curso três empréstimos obrigacionistas nesta fase; por último, e talvez mais importante, às atuais investigações que o Ministério Público estará a fazer a propósito do caso dos vouchers, dos emails, dos resultados combinados e do e-toupeira, assumindo que essas questões acabam por ter um impacto alargado a todos os clubes pela perceção negativa que levanta, ao mesmo tempo que "apela" às instituições para que o tema seja esclarecido.

“A emissão global de 60 milhões visa autorizar os 30 milhões a emitir em Novembro (para reembolsar a linha de 2015) e esta nova operação que poderá ir de 15 a 30 milhões (…) O Conselho de Administração considerou mais sensato, após consulta com os intervenientes do processo e especialistas de mercado, prorrogar a atual emissão obrigacionista de 30 milhões para novembro de 2018 com a manutenção do pagamento de juros de 6,25% (taxa anual) por mais seis meses. Esta decisão foi bem recolhida pelos vários intervenientes no processo, nomeadamente, os bancos, a CMVM e os consultores financeiros da operação (…) Decidiu-se avançar para uma nova emissão de 15 milhões (com possibilidade de aumento) com um juro de 6% como forma de compensar os investidores que têm apoiado a sociedade. O objetivo é fazer um máximo de 60 milhões até 31 de dezembro de 2018 (que contempla o reembolso da atual emissão de 30 milhões) de forma a recolocar estas operações no final do ano civil (como sempre foi prática) e de dividir estas operações em maturidades diferentes.”

No final do artigo, Bruno de Carvalho fala claramente para os obrigacionistas que irão marcar presença na próxima Assembleia Geral no dia 4, sexta-feira, explicando à cabeça o porquê de atrasar por seis meses o vencimento do atual empréstimo obrigacionista sem fazer apenas alusão ao impacto que o período conturbado em termos diretivos que os leões viveram. Há ainda assim dois pontos que ficam por explicar e que deverão ser motivo de debate nessa mesma reunião: 1) para onde serão canalizadas em concreto as verbas extra reembolso do atual obrigacionista; 2) o porquê de ser praticada uma taxa de juro de 6% quando é apresentado um cenário positivo a nível de evolução da sociedade verde e branca e quando o Benfica, a título de exemplo, apresentou este mês um obrigacionista com uma taxa de juro de apenas 4%.
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