Mário Monteiro vai deixar o Sporting e o futebol. Mais de uma semana depois da invasão da Academia de Alcochete, e quando ainda estão em liberdade mais de dez dos elementos alegadamente ligados à claque Juve Leo que participaram nesse ato, o preparador físico da equipa confessa ao Jornal de Notícias que não tem “condições psicológicas” para voltar a trabalhar com o clube e vai regressar às aulas de Educação Física, na escola de Vila Nova de Famalicão a que pertence.
O técnica admite que possa ter sido um “alvo acidental” da fúria dos adeptos do Sporting que entraram em Alcochete para dar um “apertão” aos jogadores, depois de ficar claro que o clube terminaria o campenato nacional de futebol em terceiro lugar, atrás do Benfica e afastado da Champions. Mas isso não retira impacto àqueles breves minutos nas instalações da Academia. “Foi absolutamente traumatizante, foi um ato terrorista”, diz, recordando os gritos e as tochas acesas dentro do balneário da equipa principal.
Fui atacado nos pulsos e no tronco com uma tocha a arder a 240 graus centígrados. Estou há 25 anos no futebol profissional e nunca, mas nunca, pensei viver o que vivi”, diz ao JN.
No testemunho que apresentou à GNR do Montijo — tal como fizeram os jogadores e restante equipa técnica –, Monteiro contou que o treino no relvado estava prestes a começar, já depois de os jogadores terem passado pelo ginásio, quando um grupo irrompeu pelas instalações de Alcochete. Algumas das tochas foram lançadas para junto do preparador físico e de jogadores que estavam junto a Mário Monteiro e foi um desses artefactos que acabou por atingir o técnico.
O agente da GNR que recolheu o testemunho do preparador físico do Sporting quis saber se Monteiro tinha reconhecido algum dos elementos que entraram em Alcochete, mas a resposta foi negativa. As caras tapadas impediram a identificação (ainda que, de acordo com a revista Sábado, Rodrigo Leão tenha conseguido identificar no grupo um antigo colega de escola, filho de uma antiga diretora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras).
Depois de a maior parte dos agressores ter abandonado a Academia, Mário Monteiro esteve à conversa com Fernando Mendes. De cara destapada, o antigo líder da Juve Leo também estava em Alcochete durante aquele episódio de violência, mas garantiu ao preparador físico que nada teve a ver com as agressões a jogadores e equipa técnica.
Independentemente das consequências judiciais, a invasão da Academia de Alcochete terá consequências desportivas. No caso de Mário Monteiro, a partir do próximo ano, o Sporting deverá ser passado no seu percurso como preparador físico. “Estou de rastos, sem condições psicológicas para voltar à Academia. Sinto-me inseguro e perseguido”, admitiu ao JN. Monteiro apresentou queixa à PSP e pediu proteção — para ele próprio, mas também para a família.
É que, apesar de 23 pessoas envolvidas na invasão de Alcochete terem ficado detidas em prisão preventiva, as imagens captadas pela Comunicação Social à porta da Academia revelam um grupo maior, de quase 40 invasores. E cerca de 15 desses elementos continuam em liberdade, sem que as autoridades os tenham detido (não é claro se mais suspeitos foram, entretanto, identificados).
Esta quinta-feira, e depois de um encontro inconclusivo no início da semana, os órgãos sociais do Sporting voltam a reunir-se, num momento em que o presidente da Assembleia Geral do clube, Jaime Marta Soares, está demissionário e que outros dirigentes manifestaram intenção de deixar as atuais funções.
Por outro lado, o presidente do Sporting — que estará ausente do banco dos jogadores daqui para a frente — continua a preparar a próxima época. Ainda esta terça-feira foi anunciado que Augusto Inácio estava de regresso a Alvalade para assumir as funções de diretor de futebol.