Já se sabia que ia ser assim: depois de jornadas a fio com vitórias dos três grandes, apenas muito de quando em vez com um empate aqui e ali, as últimas rondas iam ser frenéticas. E começaram da melhor forma, com um encontro fantástico no Dragão que terminou com um empate a sete golos entre FC Porto e Benfica, mais favorável às ambições encarnadas do que aos azuis e brancos (por ganharem vantagem no confronto direto). No entanto, e quando partiam com algum favoritismo teórico tendo em conta o passado recente das partidas frente ao Sporting na Luz (o último triunfo dos visitantes para o Campeonato tinha sido na longínqua época de 1987/88, na última jornada), as águias acabaram por vacilar perante um conjunto leonino que, à exceção dos primeiros dez minutos da segunda parte, teve uma exibição de sonho no reduto do rival, acabando por vencer por 7-4.

Os leões tiveram uma entrada quase perfeita em campo. Com uma organização defensiva muito coesa, com uma invulgar capacidade (pelo menos nos jogos grandes até ao momento) de perceber os tempos do jogo para partir o mesmo ou circular em 4×4, com muita objetividade nas ofensivas à baliza de Pedro Henriques. Foi no seguimento dessa entrada que Caio, num remate de meia distância em zona central, inaugurou o marcador aos seis minutos.

Pouco depois, João Rodrigues teve uma ocasião soberana para empatar mas Ângelo Girão, com uma primeira parte irrepreensível, defendeu a grande penalidade para uma zona que não deu hipóteses de recarga (10′). Esse podia ter sido o “empurrão” que o Benfica precisava para entrar na partida, mas pareceu até ter acusado esse falhanço. Além das claras dificuldades em atacar de forma organizada como tanto gosta, o conjunto comandado por Pedro Nunes ia falhando em alguns processos defensivos que Pedro Henriques conseguia disfarçar. No entanto, com alguma felicidade à mistura, Platero apontou o 2-0 num remate ainda antes da linha de meio-campo que bateu ainda num jogador encarnado antes de entrar na baliza (17′). Mesmo com descontos de tempo pelo meio, era o Sporting que dominava e Ferrant Font, numa grande jogada individual, apontou o 3-0 a três minutos do intervalo.

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Diogo Rafael ainda acertou no poste antes do descanso, mas a tarde estava a ser tudo menos do Benfica. Mas no hóquei, num instante tudo muda. Ou, neste caso, em pouco mais de cinco minutos.

Percebia-se que um golo dos visitados colocaria o jogo completamente em aberto e ainda com mais emoção. Foi isso mesmo que aconteceu quando, após passe de Diogo Rafael, Jordi Adroher rodou bem sobre Platero e colocou a bola no ângulo da baliza de Girão (29′). Começava aí o espetáculo do espanhol, com uma reentrada diabólica onde fez um hat-trick quase de rajada: aos 31′, num contra-ataque conduzido por Nicolia, encostou ao segundo poste para o 3-2; aos 35′, após um cartão azul mostrado a Vítor Hugo, enganou o guarda-redes leonino e empatou de livre direto (e pouco antes Nicolia ainda tinha acertado no poste, em mais um lance individual).

As dificuldades do Sporting para contornar o “abafo” do Benfica eram nítidas, não só pelo pouco tempo de posse que tinha em ataque face à defesa individual muito subida dos encarnados mas também pelos problemas em estancar a maior mobilidade dos encarnados na frente. Até que Ferrant Font, o mais novo dos leões, voltou a aparecer a grande nível para mexer no jogo dos “grandes”: com uma execução fabulosa, o espanhol levou a melhor frente a Pedro Henriques num livre direto (por décima falta) e recolocou a formação de Paulo Freitas na frente aos 40′.

Foi este o momento de viragem: por um lado, o Benfica sentiu uma espécie de murro no estômago por ficar de novo em desvantagem num momento em que estava claramente por cima do jogo; por outro, o Sporting teve ali um bálsamo que levantou a equipa no período em que mais precisava de reagir, que ganhou outra forma como Henrique Magalhães, após assistência de João Pinto, desviou na área para o 5-3 (39′). Mais tarde, e de grande penalidade, Caio aumentou para 6-3 quando faltavam cerca de sete minutos para o final, num dos raríssimos encontros em que a equipa verde e branca conseguiu um índice de aproveitamento de 100% nas bolas paradas. Nicolia, de penálti, ainda fez o 6-4 aos 47′, mas um livre direto desperdiçado por Adroher acabou por quebrar em definitivo uma possível esperança de reviravolta dos encarnados, que viram Pedro Gil marcar o 7-4 final a dez segundos do final.

Com este resultado, numa partida que terminou com ânimos muito exaltados, garrafas e isqueiros arremessados mas sem agressões entre jogadores (os desentendimentos começaram nos festejos de Gil mas prosseguiram com uma confusão entre Girão e Valter Neves), o Sporting manteve a liderança do Campeonato com 65 pontos, mais um do que o FC Porto, que bateu esta tarde a Oliveirense no Dragão Caixa por 4-1, e mais quatro do que o Benfica, que ficou ainda com desvantagem no confronto direto com os leões. Na próxima jornada, há clássico entre Sporting e FC Porto que poderá ser decisivo em caso de vitória para cada um dos conjuntos, sendo que, na ronda final, o conjunto verde e branco ainda tem de ir a Oliveira de Azeméis defrontar a Oliveirense, enquanto que os dragões vão receber o Infante Sagres. Em caso de empate em Alvalade, o Benfica, que acaba o Campeonato em casa com o Grândola, precisaria de uma derrota dos leões e de uma igualdade dos azuis e brancos.

Benfica-Sporting. Dois rivais, dois dérbis, dois pavilhões cheios, dois finais distintos (a todos os níveis)

“A única coisa que pensámos foi entrar focada, com compromisso. Somos muito dignos, muito mesmo. Não ganhámos nada a não ser uma coisa: respeito por nós próprios. Saímos daqui vivos e bem vivos. O FC Porto é uma grande equipa como o Benfica, que foi um digno vencido e obrigou o Sporting a dar tudo. Atual momento? Nós somos Sporting e estamos aqui para lutar até ao fim”, comentou no final Paulo Freitas, técnico dos leões, depois do agradecimento aos cerca de 20 adeptos dos leões que se deslocaram à Luz, depois do pedido com atraso do Sporting em relação aos ingressos que deu muito que falar ao longo da semana.