Existia uma máxima que regia todos os grandes torneios internacionais de seleções: “São onze contra onze e no final ganha a Alemanha”. Poucos o sabem, mas a frase é da autoria de Gary Lineker, antigo internacional inglês e atual comentador televisivo. Esta quarta-feira, Lineker foi obrigado a fazer uma correção: “O futebol é um jogo simples. Vinte e dois homens perseguem uma bola durante 90 minutos e no final os alemães nem sempre ganham. A versão anterior foi limitada pela história”.

Aconteceu o impensável. A Alemanha, ao perder com a Coreia do Sul (0-2), foi eliminada do Mundial da Rússia ainda na fase de grupos. Mesmo que as contas se tenham complicado logo na primeira jornada, quando o México ganhou aos alemães, a vitória germânica no último minuto frente à Suécia fez acreditar que tudo não tinha passado de um contratempo. Mas a Coreia do Sul trocou as voltas a Kroos, Muller e companhia. E minutos depois do final do jogo, tudo o que a conta oficial de Twitter da seleção alemã conseguia dizer era: “Sem palavras”.

Joaquim Low, o selecionador alemão, disse na conferência de imprensa depois do jogo que não pode “censurar” a equipa. “A eliminação foi justa. Tivemos muitas oportunidades e não concretizámos”, afirmou Low, após garantir que ainda é cedo para falar da sua continuidade no comando técnico da seleção germânica. Frase que vai contra aquilo que Reinhard Grindel, presidente da federação alemã, revelou esta quinta-feira de manhã: Grindel garantiu que Joaquim Low ficava quer a Alemanha se qualificasse ou não e que a decisão tinha sido tomada ainda antes do Mundial da Rússia.

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Durante 90 minutos – ou 93, até ao primeiro golo da Coreia do Sul -, todos os fãs de futebol à volta do mundo estavam à espera de um golo da Alemanha. Porque por muito que o relógio andasse, por muito que Joaquim Low gritasse, por muita falta de discernimento que Muller e Mario Gomez já apresentassem, era a Alemanha. E a Alemanha não é eliminada na fase de grupos. Na verdade, nunca tinha acontecido: não com este formato de Campeonato do Mundo e não enquanto Alemanha unida. A última vez tinha sido em 1978 e, mesmo aí, a eliminação só aconteceu na segunda fase de grupos que existia na altura.

Esta eliminação precoce da Mannshaft traz ainda à memória outra estatística. É que dos últimos cinco campeões do mundo, só quatro foram eliminados na fase de grupos do Mundial seguinte (três deles de forma consecutiva): França em 2002 depois de ter vencido o troféu em 1998, Itália em 2010 depois de ter sido campeã em 2006, Espanha em 2014 após vencer em 2010 e agora a Alemanha, em 2018, depois de ter sido campeã do mundo em 2014.

A geração de 2018 coloca ainda um ponto final a uma trajetória impressionante que a Alemanha alimentava desde 2005: a partir da Taça das Confederações desse ano, a Alemanha chegou sempre, pelo menos, às meias-finais de todas as grandes competições. Pelo meio, venceu duas. Além disso, este Mundial da Rússia carimba ainda o pior registo de uma seleção alemã num Campeonato do Mundo – dois golos em três jogos. Até aqui, o recorde remontava a 1938, quando marcaram apenas três golos em dois jogos. E mais. Esta é a primeira vez na história dos Mundiais que a Alemanha vai para casa antes da Inglaterra.

A Alemanha é o primeiro “tubarão” a cair num Mundial da Rússia que não se tem mostrado fácil para as ditas favoritas. A Argentina qualificou-se por pouco, Portugal e Espanha sofreram para passar e o Brasil (à altura que este texto está a ser escrito) ainda tem o futuro indefinido.