No duelo francófono com 14 jogadores do campeonato inglês em campo, foi um central que joga em Espanha quem colocou os gauleses na final do Mundial, 12 anos depois do fatídico encontro de 2006 – derrota nos penáltis frente à Itália, após empate a um golo – que marcou a despedida de Zidane dos relvados (e quem não se lembra da cabeçada do mago francês ao central Materazzi). Na meia-final desta terça-feira, Umtiti foi o autor do golo decisivo para os franceses, ao desviar um cruzamento de Griezmann, no minuto 51. A seleção francesa teve de sofrer para vencer, mas soube fazê-lo e contou com um grande Lloris para manter os belgas a zero até ao fim.

A seleção gaulesa até foi a primeira a causar perigo, por intermédio de Griezmann, que rematou contra a defensiva belga, mas foram os comandados de Roberto Martinez que pegaram na bola e no controlo do jogo. A Bélgica ia trocando a bola a toda a largura do campo, procurando espaço para entrar na defensiva francesa. Hazard era o principal impulsionador das investidas dos Diabos Vermelhos e levou algumas bolas para o interior da área adversária, nos minutos iniciais da partida, antes de ter nos pés a primeira grande oportunidade do encontro: toque subtil, mas genial, de De Bruyne, a servir o mago do Chelsea no interior da área, com Hazard a rematar cruzado, muito perto do alvo. 

Por esta altura, levávamos quinze minutos de jogo e a Bélgica somava 64% de posse de bola. Com Witsel no vértice mais recuado do meio campo, apoiado por Dembelé e Chadli na meia esquerda e direita, respetivamente, e Fellaini na posição mais avançada do setor intermédio, os belgas iam dominando a zona central do terreno e, consequentemente, o rumo da partida. Pelo meio, Pogba arrancou numa transição rápida e quase serviu Mbappé na perfeição, antes de Matuidi obrigar Courtois a mostrar atenção e agarrar um remate forte do médio que será companheiro de Cristiano Ronaldo na Juventus, na próxima temporada.

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A Bélgica estava mais forte e as ameaças à baliza francesa sucediam-se: mais uma vez Hazard, dentro da área, a atirar com selo de golo, mas Varane foi providencial e cortou de cabeça a bola que se dirigia para o fundo das redes gaulesas. Na sequência do canto, surgiu a melhor oportunidade para os Diabos Vermelhos, pelo pé do central Alderweireld, que obrigou Lloris (eles que até são companheiros de equipa no Tottenham) a esticar-se e assinar uma brilhante defesa que prolongou o nulo no resultado.

Seguiam melhor os belgas, mas os comandados de Didier Deschamps não se limitavam a defender, mostrando-se atentos a toda e qualquer oportunidade de chegar às redes de Courtois. Aos 31, Giroud aproveitou um cruzamento de Pavard para cabecear ao lado do alvo, antes de Griezmann assinar o seu primeiro remate da partida, ao atirar por cima da baliza. Aos 40′, Pavard aproveitou uma grande bola de Mbappé para quase abrir o marcador a favor da França, mas Courtois foi gigante e, com uma grande ‘mancha’, impediu o golo ao lateral direito do Estugarda.

Ao intervalo, tudo se mantinha a zero muito por mérito dos guarda-redes, mas a segunda parte prometia. E que promessa! Recomeço da partida, pontapé de canto batido por Griezmann e Umtiti, nas alturas e ao primeiro poste, a vencer a concorrência belga e a bater Courtois. O central do Barcelona foi mais forte e conseguiu o que nenhum dos avançados tinha conseguido até então, abrindo o marcador e obrigando uma Bélgica que até estava melhor na partida a correr atrás do prejuízo.

E bem que podia correr a Bélgica, caso quisesse apanhar a magia de Mbappé. Aos 56′, o jovem do PSG partiu a loiça toda com um maravilhoso passe de calcanhar que deixou Giroud na cara do golo, mas Dembelé foi lesto e bloqueou o remate do ponta de lança do Chelsea, aliviando o perigo. Mas atenção que Mbappé voltava a pegar na bola e a deixar Fellaini pregado ao chão, mostrando-se particularmente ativo no início do segundo tempo.

E, se a França já se mostrava capaz de encontrar espaços na organização defensiva da Bélgica, mais propensa a isso se tornou quando Martinez tirou Dembelé de campo para lançar Mertens, conferindo criatividade e poder ofensivo ao abdicar de um tampão no meio campo. E esta demorou apenas cinco minutos a aparecer, já que o homem do Nápoles cruzou uma bola milimétrica para a cabeça de Fellaini, que ganhou nas alturas e levou o esférico a passar muito perto do poste esquerdo defendido por Lloris.

A vinte minutos do final, Martinez encostou Fellaini ao flanco esquerdo, fazendo grande parte do futebol belga passar pelo lado oposto, onde se encontravam De Bruyne, Hazard e Mertens. Daí, surgiam cruzamentos largos para tentar aproveitar a superioridade física de Fellaini sobre Pavard, levando a bola diretamente para a baliza ou para perto de Lukaku. A ideia era boa e até já tinha estado perto de funcionar, mas a França parecia aperceber-se das intenções belgas e colocava Pogba como sombra de Fellaini (mantendo-se o duelo direto entre os dois companheiros do Manchester United).

Deschamps conseguiu anular a estratégia de Martinez e a prova disso foi a saída do possante médio dos Diabos Vermelhos, a dez minutos do final, para dar lugar à velocidade e criatividade de Carrasco. E, nem um minuto depois, quase o empate belga: Hazard tentou furar, Varane não deixou e a bola sobrou para Witsel, que encheu o pé e atirou forte para boa defesa de Lloris. 

Aos 88 minutos, uma curiosidade que pode ter deixado muita gente confusa: o relógio que acompanhava o marcador na transmissão televisiva passou do minuto 88 para… o 85. O relógio recuou três minutos sem explicação aparente e, quando voltava a marcar 86′, o auxiliar levantou a placa a indicar seis minutos de compensação. Numa altura em que não se sabia bem em que minuto nos encontrávamos, porque, ao chegar aos 90′, o relógio pura e simplesmente desapareceu da transmissão, a Bélgica procurava gastar os últimos cartuchos na tentativa de levar a partida a para prolongamento. Mas até foi a França quem esteve mais perto de voltar a marcar, aproveitando o espaço deixado nas costas da defesa belga e com Tolisso a atirar para grande defesa de Courtois.

A França não marcou o segundo, mas os belgas não chegaram sequer ao primeiro e assim um golo bastou para levar a França de volta à final de um campeonato do Mundo, 12 anos depois. Os gauleses esperam agora pelo embate entre Croácia e Inglaterra para saberem com quem irão medir forças no próximo domingo, em Moscovo.