As salas do Museu de Arte Antiga, em Lisboa, que contam a história do mobiliário português do século XV ao século XIX, reabrem terça-feira ao público após renovação, havendo uma cómoda que guarda um “segredo”.
No piso 1 do museu, após “profundas obras de renovação”, as salas reabrem com uma nova museografia, mais informação, luzes instaladas para valorizar as peças e nova sinalética, explicou à agência Lusa Conceição Borges Sousa, conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga.
Cadeiras, mesas, arcas, armários, peças de devoção, como as pequenas cadeiras e camas onde se sentava ou deitava o Menino Jesus, e tronos, preenchem as várias salas que apresentam, de forma cronológica, cinco séculos da História do mobiliário português em vários estilos. “Esta exposição ajuda a compreender, através do mobiliário, muito da vida privada da sociedade portuguesa nas várias épocas, e, por outro lado, demonstra a enorme perícia dos marceneiros portugueses, e o seu extraordinário trabalho”, salientou Conceição Borges Sousa.
A responsável explicou à Lusa que há 15 peças novas que foram introduzidas no percurso, renovado, e pelo menos seis nunca tinham sido expostas ao público. Foram escolhidos móveis emblemáticos para cada época, nomeadamente, logo à entrada, uma porta gótica de armário, que apresenta as linhas decorativas do seu tempo, inspiradas em motivos das pregas de linho do vestuário usado, explicou.
Mais à frente está a cadeira do rei Afonso V, em carvalho, datada de 1470, proveniente do Convento do Varatojo, que cria uma cenografia do poder através de outras peças que a ladeiam, como uma tapeçaria que representa o rei sentado. “É muito rara. Poucos tronos desta época conseguiram chegar aos nossos dias”, comentou a conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga.
As salas vão revelando um percurso que passa pelo Renascimento, a Expansão Marítima, o Maneirismo, o Barroco, o mobiliário D. José ou D. Maria.
Entre as peças há uma cómoda-papeleira que esconde um segredo: “É raríssima e muito importante para o museu, porque tem a data, 1790, e o nome do autor – Domingos Tenuta – escrita num lugar muito escondido”. Abrindo várias partes da cómoda – que possui desenhos entalhados muito elaborados – e retirando algumas gavetas, é possível ver, na parte de trás de uma delas, escrito a dourado, o nome do autor numa tira de madeira, que por seu turno também abre, e pode ser um esconderijo para o que ali couber.
Ao longo de cinco meses, as peças que se encontravam anteriormente foram retiradas e muitas delas restauradas, com a colaboração da restauradora Sofia Júlio, que trabalhou em 111 do total.
Oitenta por cento destas peças de mobiliário são provenientes de conventos extintos em Portugal, indicou a especialista, acrescentando que os materiais usados variam, e a partir dos Descobrimentos vêm para Portugal madeiras de outras regiões, com o Brasil ou as Índias.
O percurso conta ainda com a cadeira estofada que terá pertencido à rainha Maria Francisca de Sabóia, proveniente do Convento das Francesinhas, uma pesa de pé de galo em forma de salva do século XVIII, diversos contadores e arcas – que eram polivalentes porque serviam para transportar, dormir ou comer – e o trono de Pedro IV, decorado em branco e vermelho.
Para a reabertura das salas com a nova exposição, a responsável sublinhou ainda a colaboração de Patrícia Machado, na organização das tabelas com a informação sobre as peças, e de Miguel Metelo de Seixas, especialista em heráldica, bem como do apoio mecenático da Fundação Millénnium BCP.
Criado em 1884, o Museu Nacional de Arte Antiga acolhe a mais relevante coleção pública de arte antiga do país, em pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão Marítima Portuguesa, desde a Idade Média até ao século XIX, sendo um dos museus nacionais com o maior número de obras classificadas como tesouros nacionais.