“Já me aconteceu, mais do que uma vez, não querer sair à rua. Tive medo de sair, por vergonha da situação toda que levo. Estou a trabalhar, fisicamente e a nível mental, para ultrapassar essa barreira”. As palavras de André Gomes, ditas em março deste ano à revista Panenka, correram mundo. Era a assunção, para muitos corajosa, do mal estar de um jogador que passou de cisne — campeão europeu por Portugal e com um percurso promissor no Valência — ao patinho feio assobiado pelos próprios adeptos do Barcelona em Camp Nou.

O médio é um dos nove jogadores que o diário espanhol Marca considera que deviam mudar de ares para dar novo impulso à carreira. Uma lista que inclui ainda outro português, Renato Sanches, que chegou ao Bayern Munique como a nova promessa do futebol europeu — mas as potencialidades nunca se confirmaram. Vamos então à lista completa dos jogadores que, para o jornal espanhol, ainda podem recuperar o tempo perdido:

André Gomes (Barcelona)

MIGUEL MEDINA/AFP/Getty Images

A Marca acredita que mudar de clube poderia ser a rampa de que André Gomes precisa para recuperar a sua autoestima. Como é possível ver pela entrevista com que abrimos este texto, é muito no plano mental que se joga o fracasso do médio português em Camp Nou. “Não me sinto bem no campo. Não estou a desfrutar do que posso fazer. Com a pressão vivo bem, com o que não vivo bem é com a pressão que coloco sobre mim mesmo. Sou demasiado auto-crítico e perfecionista, nunca tolero enganar-me”, disse ainda nessa altura.

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André Gomes chegou a Barcelona em 2016 como campeão europeu de seleções e um jogador que se acreditava ter todas as qualidades procuradas pelo clube catalão: visão de jogo, técnica refinada e qualidade de passe. Mas tudo ficou pela teoria; na prática, o médio nunca conseguiu confirmar os créditos pelos quais o Barça pagou 35 milhões de euros. E os adeptos não perdoaram o fraco rendimento de um jogador que pesou aos cofres do clube. A imprensa espanhola tem garantido que o português já arrumou o cacifo e que está mesmo de saída dos blaugrana.

Jesé Rodriguez (PSG)

Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images

Jogou a última partida pelo PSG a 17 de março deste ano, frente ao Everton –, e mesmo assim só esteve em campo 11 minutos. Isto diz muito sobre o percurso sombrio do avançado espanhol no clube parisiense. Isso e os dois empréstimos desde que assinou, vindo do Real Madrid, em 2016: entretanto esteve cedido ao Las Palmas e ao Stoke City.

O técnico Thomas Tuchel deixou-o de fora do estágio de pré-época em Singapura e já em 2016, apenas quatro meses depois de o PSG ter contratado o extremo ao Real por 25 milhões de euros, o presidente do clube, Nasser Al-Khelaifi, veio a público considerar a contratação “um erro”. “O Unai Emery [então técnico do clube parisiense] disse-me uma coisa com a qual concordo: quando cometemos um erro, é melhor corrigi-lo do que conviver com ele. Se porventura tivermos cometido erros, trataremos de corrigi-los”, assumiu em entrevista ao jornal francês Le Parisien.

Renato Sanches (Bayern Munique)

Renato Sanches foi vendido pelo Benfica ao Bayern Munique como uma das futuras estrelas do futebol mundial mas, até agora, não confirmou as expetativas. (Alex Grimm/Bongarts/Getty Images for Audi)

Chegou ao Bayern Munique com apenas 18 anos e um pesado estatuto nas costas: o de ser considerado uma futura estrela do futebol mundial. Pesado demais, talvez, porque o jovem médio português, que tinha levado o clube alemão a desembolsar 35 milhões de euros, nunca conseguiu ser o motor que foi no Benfica e na Seleção Nacional campeã europeia.

Na época passada esteve emprestado ao Swansea de Carlos Carvalhal, conseguiu voltar a mostrar algum do valor que prometeu dar ao mundo do futebol (realizou 14 jogos pelos ingleses), mas, de regresso a Munique, vai ter vida difícil para se afirmar. O jogador está confiante, diz-se “mais maduro”, com “mais autoconfiança” e acredita que poderá voltar forte para singrar nos bávaros, mas o jornal espanhol não partilha essa visão: sustenta que uma nova experiência internacional, com mais minutos de jogo, podem catapultá-lo novamente para a ribalta do futebol.

Lucas Pérez (Arsenal)

Julian Finney/Getty Images

O Arsenal terá ficado deslumbrado com a época de Lucas Pérez no Deportivo, em 2015/16: 37 jogos e 17 golos. O emblema inglês fez questão de contratar o avançado espanhol, mas Arsène Wenger não foi fácil de convencer: o técnico dos gunners poucas ou nenhumas oportunidades lhe deu. A solução foi um empréstimo ao clube onde tinha sido feliz, mas a história não se escreveu duas vezes: apontou nove golos nos mesmos 37 jogos e não evitou a descida de divisão do clube da Corunha.

Está integrado na pré-época do Arsenal, mas deverá procurar nova casa onde possa voltar a dar cartas e reerguer-se de um passado recente a

Anthony Martial (Manchester United)

O avançado francês brilhou, e de que maneira, no Mónaco low-cost de Leonardo Jardim (para a realidade dos maiores emblemas europeus, entenda-se) que, em 2014/15, chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões — onde só caiu perante a finalista Juventus. Vai daí, o Manchester United resolveu abrir os cordões à bolsa e pagou 60 milhões de euros pelo jogador, então com 19 anos.

Chegou como craque e grande promessa, mas ficou sempre a sensação de que podia dar mais do que realmente dava. De tal maneira que, recentemente, o jogador se viu envolvido em polémicas com José Mourinho. Martial acreditava que merecia mais oportunidades e pediu para sair, o técnico português respondeu-lhe à letra: “Ele não pode bater o pé e fazer o que lhe der na cabeça. Eu queria treinar e jogar em Los Angeles mas estou aqui em San José”, disse o português. A Marca acredita que, com a concorrência de Alexis Sánchez, Lingard, Lukaku e Rashford, pode ser muito difícil o futuro de Martial em Old Trafford.

David Ospina (Arsenal)

David Ospina tem estado na sombra de Petr Cech e, com a contratação do alemão Bernd Leno, pode perder todo o espaço no clube inglês. (Mike Hewitt/Getty Images)

O guarda-redes colombiano tem uma queda para estar na sombra de alguém no Arsenal. Nos últimos anos, tem sido Petr Cech a privá-lo de mais minutos entre os postes da equipa inglesa; agora, prevê-se que a chegada do alemão Bernd Leno, até então titular do Leverkusen, possa fechar, ainda mais, as portas da titularidade.

Assim sendo, e até pelas oportunidades de mercado que podem surgir depois da boa prestação no último Mundial, o guardião pode aproveitar para mudar de ares, somar mais minutos e chegar, também nos clubes, ao patamar a que já chegou com as cores da Colômbia.

Eliaquim Mangala (Manchester City)

Stu Forster/Getty Images

Foi porto seguro no eixo da defesa do FC Porto entre 2011 e 2014 e rendeu 30,5 milhões de euros na partida para o Manchester City. Mas a verdade é que nunca foi unânime entre os citizens, começou a perder terreno — sobretudo para Otamendi, Stones e Laporte — e acabou numa sequência de empréstimos, primeiro ao Valência, depois ao Everton. No clube inglês nem teve tempo de embalar para uma boa época: uma rotura de ligamentos no joelho direito, contraída em fevereiro, acabou-lhe com a temporada.

Terá agora de recomeçar, mas Pep Guardiola parece não contar com ele. O futuro do francês deverá passar por outras paragens, onde espera voltar ao nível a que o vimos no FC Porto.

Rafinha (Barcelona)

Alex Caparros/Getty Images

Está de regresso ao Barcelona, clube que o formou, depois de uma época de empréstimo ao Inter, com 17 jogos e dois golos. Uma temporada que Rafinha considera ter sido “espetacular”. “Para mim, o mais importante era voltar a jogar o máximo de jogos possíveis depois da minha lesão. Sabia que o importante era a capacidade de me adaptar o mais rapidamente possível. Graças aos meus companheiros e aos adeptos, fui muito bem recebido e voltei a recuperar a confiança no meu futebol”, disse recentemente.

O jogador queria ter ficado por Milão, mas o desejo não se concretizou e acabou por voltar à Catalunha onde, com a forte concorrência que tem no centro do terreno, não parece estar nos planos de Ernesto Valverde. O jogador poderá, assim, precisar de procurar novas paragens (chegou até a falar-se de uma mudança para a Luz), de forma a regressar ao rendimento que mostrou em Milão e também no Celta de Vigo, em 2013/14.

Theo Hernández (Real Madrid)

CESAR MANSO/AFP/Getty Images

Não é fácil competir com Marcelo na faixa esquerda e Theo Hernández sabe-o bem. O lateral de 20 anos foi preterido por Zidane nos últimos anos e, mesmo quando foi chamado à ação, não respondeu à altura.

Muito longe de arrebatar os adeptos do futebol como fez no Mendizorroza com a camisola do Alavés (emprestado pelo Atlético de Madrid), o defesa está na lista de saídas dos merengues e numa idade crucial para assinar por um clube que lhe permita dar o salto para outros voos.