Uma nova investigação pela King’s College London sugere que o o número de mulheres e menores com ligações ao Estado Islâmico está a ser subestimado. O mesmo documento sugere que estas representam um risco potencial crescente.

De acordo com as investigadoras Joana Cook e Gina Vale, este fenómeno deve-se à conjugação de dois fatores: a falta de dados oficiais que contabilizem as mulheres e menores ligados ao EI e a mudança da perceção quanto ao papel das mulheres no interior do EI.  “Acreditamos que algumas mulheres podem representar uma ameaça à segurança com base em vários fatores. Estes incluem as funções de segurança e o treino relacionado que algumas mulheres realizaram em territórios controlados pelo Estado Islâmico, e o potencial para transferir ou aplicar essas capacidade noutros locais ou nos seus filhos.”

As investigadoras destacam que ao contrário do que acontecia inicialmente, o EI está relegar papeis mais ativos para as mulheres. As mulheres já não são somente encaradas como “noivas da jihad”, mas estão a tornar-se importantes elementos no recrutamento, angariação de fundos e disseminação de propaganda. “As narrativas dentro do próprio Estado Islâmico, relacionadas com o papel das mulheres em combate, também evoluíram, ampliando as circunstâncias sob as quais as mulheres podem ser convidadas a pegar nas armas. Também vimos mulheres ativas em células ligadas a Estado Islâmico (chefiando ou inspiradas pelo grupo) em países como França, Marrocos, Quénia, Indonésia e EUA, sugerindo que é de facto importante considerar as mulheres como potenciais ameaças.”

As novas formas de atividade das mulheres do EI incluem a criação de células terroristas exclusivamente femininas, a participação ativa em células familiares e a perpetração de ataques individuais. Um dos casos mais recentes ocorreu em 2016 em Marrocos, quando aos autoridades prenderam 10 mulheres envolvidas no planeamento de um ataque suicida durante as eleições parlamentares no país.

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No ano passado, a polícia britânica deteve uma adolescente que estava a planear um atentado contra o British Museum em Londres. A jovem tinha sido radicalizada por uma cidadã australiana a residir na Síria e tinha casado com o membro do EI pela internet.  “Embora o número de ataques perpetrados de forma independente por menores inspirados permaneça baixo, os estrangeiros menores possuem o compromisso ideológico e as capacidades práticas para representar uma potencial ameaça no retorno aos seus países de origem”, disse Vale.

O relatório estima que 4.761 (13%) dos cidadãos estrangeiros, que se juntaram às fileiras do EI na Síria e Iraque entre abril de 2013 e junho de 2018, sejam mulheres. De acordo com a investigação do New York Times, uma parte desta mulheres foi levada para a região pelo pai ou marido. As restantes decidiram juntar-se sozinhas e casaram online ou foram forçadas a casar à chegada.

O relatório estima ainda que 4.640 (12%) dos afiliados eram menores, estimando-se que pelo menos 730 crianças tenham nascido dentro do EI. Na opinião das investigadoras, também estes números estão a ser substimados. “São necessários esforços robustos e adaptados para efetivamente desvincular, desradicalizar e reabilitar menores que nasceram e/ou foram criados em Estado Islâmico. Sem essas respostas holísticas, o estigma do rótulo de ‘afiliado da ISIS’ pode tornar-se numa fonte de futuro isolamento, privação de direitos e possivelmente radicalização da próxima geração/encarnação do Estado Islâmico”.

O relatório alerta ainda que o nível de ameaça que estas crianças representam está aumentar porque estes cidadãos estão a tentar regressar aos países de origem. “As mulheres e os menores estão preparados para desempenhar um papel significativo no desenvolvimento da ideologia e organização do EI. Agora que o califado caiu, é essencial que os governos reconheçam esses afiliados como dois grupos distintos que precisam de respostas únicas.”