O Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE) divulgou esta sexta-feira um comunicado no qual considera que a missão artística do OPART – Organismo de Produção Artística “não está a ser valorizada e respeitada”.

“A temporada lírica do Teatro Nacional São Carlos e as anunciadas alterações na direção artística da Companhia Nacional de Bailado [CNB] são novos factos que suportam a nossa opinião”, justifica o sindicato relativamente à situação nas duas entidades que são geridas pelo OPART. Nesse sentido, o sindicato, na sequência da realização de um plenário geral de trabalhadores do OPART, na terça-feira, irá solicitar reunião urgente ao secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, à comissão parlamentar de Cultura e ao conselho de administração do OPART sobre este assunto.

O CENA-STE decidiu ainda enviar o comunicado para os partidos com assento na Assembleia da República, e nos espetáculos desta sexta-feira e de sábado da Companhia Nacional de Bailado será distribuído ao público um comunicado semelhante a este, mais focado na questão da direção artística da CNB.

No início da semana, o Ministério da Cultura divulgou um comunicado indicando que o diretor artístico da CNB, Paulo Ribeiro, se demitia por “decisão pessoal”, e que para o seu lugar entraria Sofia Campos, a partir de 1 de setembro. Mais tarde, Paulo Ribeiro viria a público dizer que saía da CNB por “falta de apoio financeiro e político” que fizessem da companhia uma prioridade.

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Paulo Ribeiro demite-se da Companhia Nacional de Bailado por “decisão pessoal”

“Não podem, os trabalhadores da CNB deixar passar a anunciada substituição na direção artística sem pronunciamento. Consideram que devido à especificidade da posição – que não se cinge à criação de uma programação e da sua gestão, mas exige também prática de treino dos bailarinos e preparação de bailados”, adianta. Defende ainda a necessidade de os estatutos do OPART contemplarem um concurso público para o cargo de diretor artístico da CNB.

“Este concurso deve ter requisitos e critérios bem definidos, claros e com a apresentação de uma linha programática, e é importante que os próprios trabalhadores tenham também uma palavra a dizer. Só assim é possível garantir que este cargo seja preenchido por alguém que se encaixe num perfil tão exigente”, advoga o CENA/STE.

Na opinião do sindicato, o Governo, “seja através do subfinanciamento, seja através das suas nomeações, continua a colocar em causa a missão da CNB”. “Não se questiona a ideia de uma programação heterogénea, mas há princípios básicos que estatutariamente a balizam e que estão longe de serem cumpridos. Pode a situação agravar-se porque ficamos agora a saber que é intenção da EDP cortar parte do importante apoio dado à CNB, o que seria verdadeiramente calamitoso para a próxima temporada”, alertam.

A Fundação EDP, principal mecenas da CNB, disse esta semana à agência Lusa que o apoio à companhia passou de 375 mil euros em 2017 para 100 mil euros em 2018, no âmbito de uma estratégia de mecenato que estabelece este valor como teto máximo.

Quanto à missão do São Carlos, “continua a ser posta de lado, e navega-se declaradamente à vista”, e recorda declarações recentes do diretor artístico, Patrick Dickie, de que não consegue seguir uma linha orientadora.

“Os trabalhadores do TNSC perguntam-se se, com os constrangimentos orçamentais existentes, esta será a melhor programação para assegurar a manutenção das assinaturas e das receitas de bilheteira, visto que apenas duas das óperas se podem considerar de repertório”, diz ainda o comunicado do sindicato.