Os super e hipermercados estão a utilizar menos plástico e juntam ao corte nos sacos a substituição de pratos e copos naquele material por recicláveis e a aposta na venda a granel, enquanto estudam novas soluções para o futuro.
As opções seguidas para lutar contra o plástico, cada vez mais presente na natureza e que aí permanece centenas de anos, são semelhantes no que respeita aos sacos, que, aliás, foram objeto de uma lei, ou à redução daquele material nas embalagens.
Mas encontram-se algumas diferenças entre as marcas nos objetivos marcados – chegando à intenção de acabar com os plásticos de utilização única -, nas alternativas disponibilizadas – uma delas o reenchimento de garrafas de água na loja, outra a venda de descartáveis ecológicos, feitos de materiais naturais -, ou na forma de sensibilizar os consumidores.
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A agência Lusa colocou algumas questões acerca das estratégias e medidas sobre o plástico a cinco empresas das cadeias de super e hipermercados mais representativos no país: Sonae MC, Jerónimo Martins, Auchan Retail Portugal, Lidl Portugal e Grupo DIA.
A Auchan, que detém a marca de hipermercados Jumbo, fixou o objetivo de “acabar com os plásticos de utilização única” e procura alternativas para cumpri-lo, como a introdução de um saco em papel ‘kraft’, a utilização de embalagens reutilizáveis para encher na loja ou a aposta nas vendas a granel, refere fonte oficial do grupo.
Um exemplo das novas opções, disponível deste março, é a linha de descartáveis de pratos, tigelas, copos e talheres, mais ecológicos já que os primeiros são feitos de bagaço de cana de açúcar, um recurso renovável e natural, um material biodegradável após a utilização e compostável, e os talheres são de madeira com a certificação FSC, de produção sustentável.
O Lidl quantificou a sua meta: compromete-se a reduzir em 20% a utilização de plástico até 2025. A primeira medida, para concretizar a partir deste mês, é descontinuar o sortido dos artigos de plástico descartável, como copos e pratos, nas mais de 250 lojas que o grupo tem em Portugal, explica o administrador de compras do grupo em Portugal, Bruno Pereira.
Com base nas previsões da empresa, aquela medida vai evitar a entrada no circuito de 12,5 milhões de copos e de cinco milhões de pratos de plástico descartável por ano.
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Estes artigos serão substituídos por produtos em material alternativo e reciclável, ainda alvo do trabalho em conjunto com os seus fornecedores. Numa segunda fase, o objetivo é substituir as palhinhas e talheres.
À pergunta sobre a procura de alternativas aos produtos descartáveis, a Jerónimo Martins, refere que, no Pingo Doce, estão atentos a este tema e “estão a ser estudadas todas as alternativas (materiais biodegradáveis, papel e outros) pelo que é prematuro identificar nesta fase qual a melhor solução face às necessidades e preferências dos consumidores”.
O departamento do Relações Exteriores do grupo DIA limita-se a dizer que “está a avaliar diferentes opções que possam satisfazer os seus clientes, preservando a segurança dos produtos, minimizando o seu desperdício, e que sejam sustentáveis do ponto de vista do ambiente”.
Fonte da Sonae MC, dos hipermercados Continente, aponta a existência de um grupo de trabalho multidisciplinar e transversal a todas as áreas de atuação da empresa para o desenvolvimento e implementação de medidas visando um uso mais responsável do plástico, desde a marca própria, logística, fornecedores, até ao nível interno e também da sensibilização do consumidor, a que acresce o trabalho já feito para a redução da espessura de plástico dos diferentes produtos.
Algumas das lojas destes grupos têm cafetarias ou restaurantes, espaços em que o princípio da redução do plástico também é seguido, como é o caso da Jerónimo Martins, onde “já há muitos anos” que se aposta em loiças e talheres reutilizáveis, “estando a ser corrigidas todas as situações em que pontualmente isto possa não acontecer”.
“Até ao final deste ano, podemos adiantar que, por exemplo, vamos acabar com a loiça de plástico nas nossas cafetarias e vamos substituí-la por loiça de cerâmica, talheres de inox e copos de vidro”, avança a Sonae MC.
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A Jerónimo Martins aponta também o projeto ECO de reenchimento de garrafas de água, já em curso em 14 lojas, mas que será alargado a mais.
Todos os grupos referem a substituição de sacos de plástico por outros reutilizáveis e a aposta nas vendas a granel, adotada pela maior parte dos hipermercados e que tem vindo a ser desenvolvida de modo a abranger mais produtos.
A Auchan explica que hortofrutícolas que eram comercializados em cuvetes ou sacos de plástico passaram a ser vendidos a granel, havendo a possibilidade de o cliente juntar vários tipos de alface num só saco – permitindo uma diminuição de cinco toneladas de plástico por ano -, o que irá alargar-se ao tomate.
“Os nossos clientes têm aderido bem a este projeto desde o seu lançamento, são muito recetivos aos novos produtos que vamos lançando e frequentemente deixam sugestões de artigos que gostariam de encontrar neste espaço”, o que levou a que fosse alargada a oferta, salienta a Auchan Retail Portugal.
No Lidl, “50% das unidades de frutas e legumes são vendidas a granel” e podem ser pesadas sem necessidade de estar em saco de plástico, além de os clientes poderem optar por sacos reutilizáveis, de pano, ou por usar caixas vazias para transportar as compras para casa.
Com as medidas já desenvolvidas, o Pingo Doce conseguiu uma redução de mais de 23 mil toneladas de sacos depositados em aterro, e o Continente, em 2017, garantiu a reciclagem de 2.800 toneladas de plástico.