O fogo rural que deflagrou em Monchique na sexta-feira estava a ser considerado dominado em 95% do seu perímetro, mas esta tarde voltou a complicar-se. A Proteção Civil confirmou “fortes reativações” em todo o perímetro do fogo por volta das 17h desta segunda-feira, e o presidente da câmara de Monchique, Rui André, acrescentou que a situação na zona das termas estava a gerar “grande preocupação”. A situação foi-se complicando durante a tarde e, pelas 21h, segundou apurou o Observador no local, o fogo entrava no perímetro da vila de Monchique, aproximando-se das habitações. Vento previsto para a noite não ajuda. Operação é “muito complexa”, diz fonte da Proteção Civil. Número de feridos sobe para 29.

“A situação infelizmente alterou-se, tínhamos uma situação mais favorável e registaram-se várias projeções, as quais tiveram um comportamento bastante violento”, assumiu o segundo comandante operacional distrital da Proteção Civil de Faro, Abel Gomes, em declarações à agência Lusa.

Pouco depois das 18h00, o presidente da câmara de Monchique, Rui André, dava conta à agência Lusa de que a situação do incêndio na zona das termas da serra de Monchique estava a gerar “grande preocupação”, acrescentando que naquela área das termas há hotéis em risco e que uma frente do fogo está a aproximar-se de uma quinta pedagógica do concelho vizinho de Silves. O fogo chegou muito perto do hotel Macdonald Monchique, na zona das termas, com os bombeiros no local a admitirem ao Observador que “é impossível de combater”. A situação não se prevê que melhore, uma vez que “o problema é que até às 00h30 vamos ter bastante vento”. “Isto só vai parar quando e onde o fogo quiser”, dizem ainda os bombeiros junto ao hotel Macdonald, ouvidos pelo Observador.

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Rui André admitiu que já arderam algumas casas de primeira habitação, mas recusou desenvolver o assunto, ressalvando que a contabilização ainda não foi feita. “Neste momento temos problemas sérios que estamos a tentar resolver, mas as coisas não estão muito fáceis. Depois de uma noite de muito trabalho, se não tivéssemos uma manhã que trouxe uma nuvem de fumo e impediu os meios aéreos de trabalhar, a esta hora teríamos outra situação”, lamentou, acrescentando que só foi possível recorrer a máquinas de rasto e meios humanos. Relativamente aos pontos mais críticos, o autarca destacou uma frente nas Caldas de Monchique, perto das termas, que ameaça as unidades hoteleiras, assim como a própria infraestrutura termal, e outra que se encontra na vertente norte da Fóia, o ponto mais alto da serra algarvia.

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Fortes reativações em todo o perímetro do fogo

De acordo com o ponto da situação mais recente feito pela Autoridade Nacional da Proteção Civil pelas 17h35, em todo o perímetro do incêndio de Monchique estão a ser registadas “fortes reativações” que, associadas à intensidade do vento, estão a tomar grandes proporções. Foram mobilizados para o combate às chamas um total de 1.157 operacionais, apoiados por 358 viaturas e 13 meios aéreos.

Ainda de acordo com a informação disponível no site da ANPC, foram acionados “três aviões Canadair espanhóis”. Foram ainda acionados grupos de reforço de Aveiro, Beja, Coimbra, Évora, Leiria, Lisboa, Santarém, Setúbal e Viseu.

Depois de um início de tarde em que o céu estava mais limpo, às 17h30 pairava sobre Monchique uma espessa nuvem de fumo, tornando o ar quase irrespirável, havendo também uma grande quantidade de cinzas a serem projetadas sobre a vila. Praticamente não se veem moradores nas ruas da vila, sendo apenas notória a azáfama de bombeiros e elementos das forças de segurança.

Uma parte da estrada que liga Monchique ao Pico da Fóia, o ponto mais alto do Algarve, a cerca de oito quilómetros da vila, foi evacuada pelas autoridades devido à aproximação do fogo. As autoridades estão ainda a fazer uma avaliação de reconhecimento no terreno sobre o edificado ardido no incêndio da serra de Monchique, não havendo ainda uma quantificação precisa de casas afetadas, informou a Comissão Distrital de Proteção Civil de Faro. Em todo o caso, segundo o presidente da Câmara de Monchique, várias casas de primeira habitação foram destruídas e dezenas de segundas habitações também, sem precisar o número.

Questionado pelos jornalistas sobre a defesa das habitações perante o avanço do fogo, o secretário de Estado da Proteção Civil, Artur Neves, disse que a proteção junto às casas foi feita, admitindo que algumas poderão ter sido afetadas e sublinhando que a prioridade é a proteção da vida das pessoas. “Poderá ter acontecido [habitações afetadas pelo fogo], mas a remoção das pessoas, a proteção da sua vida era a matriz principal da orientação que tinha sido dada“, referiu. O governante enalteceu o empenho de todas as estruturas de Proteção Civil e restantes autoridades, que conseguiram “ir de casa a casa procurando remover de forma atempada os cidadãos que pudessem correr riscos”.

O número de assistências médicas a pessoas na sequência do incêndio subiu para 95, dos quais, 66 são pessoas que apenas receberam assistência e 29 são feridos, todos ligeiros, acrescentou.

Ao início da tarde, contudo, o cenário era outro, mais calmo. A Proteção Civil de Faro dava conta de que 95% do perímetro do fogo já estava dominado. “A grande progressão de área ardida, que anda neste momento entre os 15 mil e 20 mil hectares, foi ontem a partir das 15h00, 16h00 até à noite”, estimava ao início da tarde o presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil de Faro. Jorge Botelho acrescentava ainda que, neste início de tarde, “95% do perímetro do fogo está considerado dominado e há 5% que não está”.

Às 12h00 o incêndio que pelo quarto dia lavra em Monchique estava a ser combatido por 1.160 operacionais, apoiados por 357 viaturas.

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Casas e carros não escaparam à fúria do fogo

Casas e carros queimados e árvores derrubadas substituíram o verde da paisagem de Monchique, no distrito de Faro, depois da passagem das chamas que desde sexta-feira atingem a serra algarvia. Ao longo da Estrada Nacional 226, que atravessa a vila de Monchique, o corrupio de carros de bombeiros que sobem e descem a vertiginosa encosta desta serra não deixa ninguém indiferente.

Os momentos de maior aflição foram sentidos na noite de domingo, quando as chamas chegaram à sede de concelho. Há casas queimadas, carros totalmente carbonizados, árvores tombadas e pedras espalhadas pelo asfalto.

A cerca de dois quilómetros de Monchique, na pequena povoação de Portela do Vento, Carlos Mendes lamenta a perda dos dois porcos, criados durante seis meses. Os animais acabaram por morrer depois de alguém lhes ter aberto a porta da pocilga, onde, segundo o morador, estariam em segurança. “Em 2003 houve um fogo semelhante, embora tenha sido pior, e já tínhamos porcos. A diferença é que nesse ano não lhes abriram a porta e sobreviveram”, argumenta.

Dois quilómetros depois, na povoação de Corchas, um grupo de bombeiros de três corporações que vieram do distrito de Lisboa para o Algarve para apoiar o combate (Paço de Arcos, Carnaxide e Caneças) apressa-se a “estancar” um foco de incêndio que teimou em reacender-se.

De olhar atento ao trabalho dos bombeiros, uma moradora conta à Lusa que teve de abandonar por duas vezes a sua habitação, devido à proximidade das chamas. “Ele [fogo] começou a apanhar toda a zona daqui e a gente teve de largar e ir embora. Só cá ficaram o meu genro e o meu filho”, diz.

Apesar de tanto a casa como os animais terem escapado ilesos à passagem das chamas, a moradora lamenta a perda da horta e da fazenda: “Nem sei como está. Nem fui para aí nem quero ir para aí ainda, mas de certeza que aí em baixo tenho tudo perdido”.

Caminhando mais para norte, em direção à freguesia de Alferce, os estragos causados pelas chamas ganham contornos mais avassaladores. A cerca de três quilómetros de Alferce, na pequena povoação de Chapadinha, Carlos Inácio, visivelmente emocionado, lamenta a perda de uma caravana, um caiaque, uma mota e uma carrinha, que arderam na totalidade, enquanto culpa a GNR pelo sucedido, uma vez que foi algemado e obrigado a abandonar o local.

A retirada das habitações, nalguns casos de forma coerciva, pela GNR, foi, aliás, uma das queixas que a Lusa escutou por parte de moradores. “O incêndio vinha morto e se eu ficasse aqui eu apagava o fogo. Eu tinha chuveiros, eu tinha água, mas o GNR convidou-me para sair”, comenta, consternado.