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Sem Bas houve o 'boost' de Nani e o 'salero' de Salin, mas o menino Félix foi mais feliz (a crónica do Benfica-Sporting)

Este artigo tem mais de 5 anos

Benfica teve mais dificuldades do que esperava, Sporting esteve na frente com um penálti convertido por Nani, mas um miúdo saltou do banco para escrever o quarto empate consecutivo entre os rivais.

João Félix entrou aos 71' para a estreia num dérbi e marcou o golo do empate apenas 15 minutos depois
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João Félix entrou aos 71' para a estreia num dérbi e marcou o golo do empate apenas 15 minutos depois

AFP/Getty Images

João Félix entrou aos 71' para a estreia num dérbi e marcou o golo do empate apenas 15 minutos depois

AFP/Getty Images

Dérbi é dérbi. E ainda bem que é. E isto quer dizer muitas coisas. Quer dizer que há emoção, que muitas vezes quem está melhor não vence, que quem comprometeu na semana anterior pode brilhar. Em suma, que a teoria pouco importa. E a teoria não diria, certamente, que um miúdo de apenas 18 anos iria saltar do banco, estrear-se num jogo grande e fazer aquilo que os graúdos não conseguiram. Mas já lá vamos.

A balança do jogo, a priori, estava desequilibrada. De um lado uma equipa que manteve treinador, ideia de jogo, processos e os seus intérpretes – com mudanças cirúrgicas (já lá vamos) que só trouxeram melhorias; do outro, uma formação que ainda tenta lamber as feridas da razia de jogadores e de orgulho provocada por aquela tarde de maio em Alcochete, que teve alterações importantes em todos os setores vitais e que perdeu treinador, ideias, fio de jogo, muitas vezes com um futebol partido, baço (que, apesar de tudo, note-se, foi suficiente para somar os mesmos seis pontos do rival nas duas primeiras jornadas).

Estabilidade. Talvez estabilidade seja a palavra que melhor podia definir este Benfica versão 2018/19. Rui Vitória conseguiu manter o bom e melhorar o assim-assim. Herdou o 4x3x3 ao qual teve de se adaptar na temporada passada, continuou a ter à disposição todos os jogadores determinantes nos três setores – basta ver que, desde o último dérbi na Luz, todos os 11 eleitos continuam no plantel – e acrescentou ao futebol encarnado o perfume de Gedson Fernandes, que tem sido o segredo de um triângulo de meio campo no qual nos arriscamos a dizer que assenta grande parte – ou a maior – do futebol do Benfica da presente temporada: além do ‘pêndulo’ Fejsa, o miúdo das camadas jovens é um autêntico box-to-box, que se desmultiplica por quase todos os pontos do terreno, permitindo a Pizzi, ‘8’ como ele, pisar zonas mais ofensivas (por coincidência ou não, com Gedson ao lado, o internacional português já se tornou o melhor marcador encarnado, com invulgares quatro golos nas duas primeiras jornadas, mais um se considerarmos a Liga dos Campeões).

Ora, o Sporting chegava a este jogo no extremo oposto. O miolo era, precisamente, onde residiam os maiores problemas, pelo menos se atendermos à construção leonina. A saída de William – um dos seis que foi e não voltou no vendaval de Alcochete – não foi devidamente compensada. Alternavam-se Misic e Petrovic ao lado de Battaglia, mas viesse um ou outro, os problemas mantinham-se: pouco critério, muitos passes falhados, um jogo partido feito aos repelões. Em futebol apoiado, poucas tinham sido as oportunidades criadas pelos leões; tudo se decidia ou nos lances individuais, ou nas bolas bombeadas cá de trás, quase que ignorando que existe um meio campo onde convém que a bola também passe. Este era um Sporting à procura de si próprio e com razões para isso: se atendermos ao último 11 dos verde e brancos na Luz, são cinco os jogadores que já não fazem parte deste plantel (Rui Patrício, Piccini, Coentrão, William e Gelson Martins) e um que não pode jogar (Bas Dost). Já para não falar que houve mudança de treinador – o que fez com que, 24 jogos depois, um dérbi não contasse com Jorge Jesus, que já fazia parte da mobília, ora no banco do Benfica ora no do Sporting.

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Ficha de Jogo

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Benfica-Sporting, 1-1

3.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo; Fejsa, Gedson Fernandes, Pizzi (João Félix, 71′); Rafa, Cervi (Zivkovic, 57′) e Ferreyra (Seferovic, 71′)

Suplentes não utilizados: Svilar, Conti, Alfa Semedo e Samaris

Treinador: Rui Vitória

Sporting: Salin; Ristovski, Coates, André Pinto, Jefferson; Battaglia, Acuña; Raphinha (Bruno Gaspar, 90′), Nani, Bruno Fernandes (Petrovic, 69′) e Montero (Castaignos, 90′)

Suplentes não utilizados: Renan, Matheus, Wendel e Jovane Cabral

Treinador: José Peseiro

Golos: Nani (g.p., 64′) e João Félix (86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo para Ristovski (24′), Ferreyra (44′), Rúben Dias (62′), Zivkovic (83′), Petrovic (86′), Grimaldo (90+1′), Salin (90+4′), Battaglia (90+6′) e Coates (90+7′)

Mas lá está, isto é tudo muito bonito, mas dérbi é dérbi. As baixas condicionaram os dois onzes: o Benfica ficou sem Jonas e Castillo – haveria de perder ainda Salvio, que estava em dúvida (e que muita falta fez); do lado do Sporting, a maior ausência era Bas Dost, mas Mathieu ‘rivalizou’ com o ponta-de-lança holandês ao falhar o encontro quando não se esperava.

Rui Vitória, sem surpresas, fez alinhar Ferreyra na frente – o argentino, depois de um início de época com autêntica seca de golos, molhou o bico na última jornada com o Boavista – e lançou Rafa para a vaga deixada em aberto por Salvio. E aqui começou um dos problemas do Benfica. O português voltou a acender a luz intermitente e acumulou perdas de bola atrás de perdas de bola. A asa direita, que com Salvio joga de olhos fechados – além da velocidade do argentino, as combinações com André Almeida estão perfeitamente oleadas – esteve de olhos fechados (mas porque não jogou) com a entrada de Rafa.

Do outro lado, José Peseiro optou por mudar e testou o terceiro meio-campo em três jornadas de campeonato. Depois de Petrovic e Misic, desta feita lançou Acuña para o miolo, a acompanhar Battaglia, soltando Bruno Fernandes para o apoio a Montero – que já tinha dado lugar a Bas Dost na segunda parte do jogo com o V. Setúbal. Nas alas, voltou a apostar na ideia de colocar os extremos a jogar com os pés trocados, para criar mais desequilíbrios no centro: Raphinha ocupou a faixa direita e Nani a esquerda.

Ao contrário do que tinha acontecido nos encontros anteriores, neste o Benfica começou muitas dificuldades em criar perigo a partir de trás. O Sporting soube condicionar a construção encarnada e foi de bola parada que a formação da casa mais perigo criou: assim foi aos 6′, quando Pizzi bateu o livre para o segundo poste, Rúben Dias rematou de cabeça, mas não conseguiu ultrapassar Salin. O guarda-redes francês, que tinha sido um dos piores em campo com o V. Setúbal – com participação direta no golo sadino – transfigurou-se neste encontro. Dérbi é dérbi, lembra-se? Aos 21 minutos, o guardião já somava três grandes e decisivas defesas: além da já citada, outra aos 20′ com os mesmos protagonistas – Pizzi a cruzar de canto e Rúben Dias a cabecear sem sucesso; um minuto depois, Cervi a remata no centro da área e a obrigar Salin a esticar-se.

Era só praticamente de bola parada que o Benfica criava perigo, já o Sporting incomodava Vlachodimos por Montero (7′), depois de uma iniciativa de Nani, que ultrapassou Ferreyra e cruzou rasteiro para o desvio do colombiano, e também por Acuña, que se livrou de Fejsa, correu, correu, passou do pé direito para o esquerdo, mas atirou cruzado ao lado.

O Benfica tinha mais posse mas parecia inofensivo com ela nos pés. Ferreyra estava numa ilha, a bola não lhe chegava pelo centro do terreno e pelas alas nem sempre o esclarecimento era o melhor. O Sporting mostrava maturidade, que queria jogar com os momentos do jogo e tinha nas duas alas as principais setas apontadas à baliza contrária. O jogo prometia ser bem disputado mas, a certa altura foi mesmo só disputado – e muito. Faltas duras, desentendimentos entre jogadores e decisões de arbitragem muito contestadas nas bancadas – também exasperadas pela quantidade de passes falhados e de jogadas com perigo que se esfumavam pela equipa da casa.

Há oito anos que não havia nulo ao intervalo e as equipas entraram com vontade de o anular. Em dois minutos, o Benfica criou dois lances de perigo: no primeiro, Cervi (que entretanto jogava de banda na cabeça) apanhou-se com espaço na quina da área, mas o remate saiu ao lado (50′); no outro, Pizzi rematou de longe (52′), a bola foi desviada e quase traiu Salin, mas o guarda-redes francês esticou-se e deu uma palmada no golo benfiquista.

De palmada a rasteira passaram menos de dez minutos. Rúben Dias atirou Montero ao chão na área, o colombiano ficou estendido e Luís Godinho levou o apito à boca. Era grande penalidade para ser batida por Nani. O português rematou de forma exemplar, estreou-se a marcar em clássicos e catapultou o Sporting para uma vitória que parecia certa.

Mas só parecia. Já depois de Rui Vitória, em desespero mas sem arriscar, ter trocado homem por homem na frente – Ferreyra deu lugar ao mal amado Seferovic –, Pizzi saiu para entrar João Félix. Por essa altura, Peseiro já tinha tirado Bruno Fernandes e colocado Petrovic para fechar mais o miolo, mas não contava que um menino estreante tirasse a nota mais alta no teste do dérbi. O médio de apenas 1,78 metros cresceu para a bola, apareceu gigante na trajetória que tinha acabado de sair dos pés de Rafa, na direita e, a menos de cinco minutos do final, restabeleceu a igualdade, num dérbi que terminou escaldante – não só pelo resultado construído ao cair do pano com uma pincelada de história, mas também pelos excessos nas bancadas e os desentendimentos nas quatro linhas. Antes do encontro, José Peseiro tinha dito que “o futebol é o momento e o momento é sábado às sete”. Não foi às sete, Peseiro; foi às nove.

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