A Fundação de Serralves considera surpreendente o processo de contestação à presidente da instituição, Ana Pinho, e não vê motivos para a demissão da administração, como pediram este domingo três dezenas de manifestantes no Porto.
Parece-me óbvio que há um processo em curso. Não faço ideia quem dirige ou quem comanda, apenas é absolutamente inesperado, surpreendente até, ainda mais depois de uma abertura de uma exposição que correu sem nenhuma crise”, disse à agência Lusa Isabel Pires de Lima, que falava em representação do Conselho de Administração da fundação.
“É uma total surpresa e a manifestação é igualmente surpreendente” acrescentou a responsável por Serralves, sublinhando que entre os manifestantes havia “várias pessoas que têm estado envolvidas na programação de Serralves” e “saberão que as atividades são programadas pelos programadores sem qualquer interferência da administração, nem na escolha da programação e muito menos na escolha das pessoas que são convocadas ou cujo o trabalho é solicitado”.
Dezenas de pessoas manifestaram-se este domingo em Serralves, no Porto, para exigir a demissão do Conselho de Administração da fundação, na sequência da demissão do diretor artístico do Museu de Arte Contemporânea da instituição, João Ribas.
O próprio João Ribas disse ao Público que se demitiu na sexta-feira porque “já não tinha condições para continuar à frente da instituição”. Segundo o mesmo jornal, a demissão surge depois de a administração ter limitado a maiores de 18 anos uma parte da exposição dedicada ao fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, comissariada por Ribas, e ter imposto a retirada de algumas obras com conteúdo sexualmente explícito.
Isabel Pires de Lima, antiga ministra da Cultura, reforçou que a escolha das peças da exposição foi “inteiramente da autoria do João Ribas“, que sabia desde o início que haveria, se necessário, zonas reservadas, como de resto aconteceu em muitos museus do mundo.
“O João Ribas escolheu o que quis e a partir do momento em que escolheu muitas obras com conteúdo sexual explícito foi necessário criar uma zona de reserva, de que ele tinha conhecimento desde sempre”, assegurou, dizendo não saber porque razão o curador deu uma entrevista onde afirmou que não haveria zonas condicionadas. “Isso, para nós, foi uma surpresa, como de resto lhe comunicámos”, revelou.
Segundo Isabel Pires de Lima, a administração da fundação também não percebeu por que é João Ribas “excluiu 20 obras” da exposição. “Até nos preocupa um pouco porque pagámos o custo de mais 20 obras que não foram usadas”, afirmou.
Cerca de três dezenas de manifestantes, que gritavam palavras de ordem como “Ana Tirana”, “queremos mais 20”, entraram este domingo por volta das 12h00 dentro das instalações da Fundação, onde se mantiveram em protesto contra o que consideram ser um ato de “censura”.
Numa carta aberta que, às 10h00 de domingo, já tinha sido subscrita por 389 pessoas, os signatários exigem, face “aos últimos acontecimentos ocorridos em torno da exposição do fotógrafo Robert Mapplethorpe, que o Conselho de Administração “apresente a respetiva demissão ou, caso não se confirmem os factos expostos, procedam ao contraditório”.
Num comunicado enviado no sábado, o Conselho de Administração da Fundação de Serralves afirma que “não retirou nenhuma obra da exposição”, composta por 159 fotografias “todas elas escolhidas pelo curador”, João Ribas.
A administração acrescentou que “desde o início a proposta da exposição foi apresentar as obras de cariz sexual explícito numa zona com acesso restrito”, afirmando que considerou “que o público visitante deveria ser alertado para esse efeito, de acordo com a legislação em vigor”.
Ainda no sábado, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Mapplethorpe, Michael Ward Stout, afirmou que a demissão de João Ribas foi “completamente inapropriada e pouco profissional”, revelando ter ficado “chocado com a atitude”.
A exposição, com fotografias de nus, flores, retratos de artistas como Patti Smith ou Iggy Pop e imagens de cariz sexual foi inaugurada na quinta-feira.