Viver é sinónimo de escolhas permanentes. É por este motivo que compreender a tomada de decisão dos seres humanos assume tanta importância, ainda mais se estiver relacionada com o stress, um dos flagelos da sociedade atual. A população mundial está menos feliz em 2018 face ao ano passado. Um dos principais motivos? O stress. A conclusão é da pesquisa mais recente do Instituto Gallup.

Podemos ficar stressados porque temos demasiado trabalho, por causa das filas no trânsito ou das esperas na paragem do autocarro e até podemos sentir aquele típico “nervoso miudinho” quando esperamos um e-mail importante. Os motivos para o stress podem ser os mais variados, mas a grande problemática da equipa multidisciplinar vencedora da 11º edição do Prémio de Investigação Colaborativa, que nasce de uma parceria entre o Santander Totta e a Universidade Nova de Lisboa, pode ser formulada numa questão: como é que o stress influencia a tomada de decisões? É à procura de desvendar este mistério que os cientistas de três faculdades da Universidade Nova têm investido muitas horas de trabalho.

“Entre as causas fisiopatológicas que dificultam os processos de decisão, o stress desempenha um papel central. Na realidade, uma resposta ao stress, que pode ser induzida por exemplo pelo contexto social, é capaz de ativar circuitos específicos do sistema nervoso, nomeadamente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula os processos decisórios”, explica a investigadora principal Raffaella Gozzelino.

O stress pode ser benéfico?

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“O stress pode ser benéfico em determinadas circunstâncias como a exposição a desafios à sobrevivência ou em contextos sociais que exigem maior atenção e rápida tomada de decisão”, revela a investigadora pincipal, Raffaella Gozzelino. Só que pode existir um efeito perverso: o sistema neurológico, ativado em situações de stress prolongado, pode continuar em funcionamento finalizada a situação, conduzindo a uma desregulação dos processos decisórios, com quebra da motivação e diminuição da ação direcionada para objetivos.

A cientista italiana pertence à NOVA Medical School – Faculdade de Ciências Médicas e contou com a colaboração de Ana Ferreira, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH-NOVA), e do investigador Pedro Neves, da NOVA School of Business and Economics (NOVA SBE).

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Os mentores do projeto intitulado Stress-induced neuroinflammation: mechanisms and implications for decision-making and performance estão de parabéns com os avanços conseguidos numa linha de pesquisa que pretende preencher uma lacuna na literatura científica.

Ratos de laboratório ficam mais agressivos sob o efeito do stress

A partir de estudos laboratoriais com ratos, foi possível concluir que os animais, quando estão em situações de grande stress, têm um comportamento mais agressivo, desenvolvem marcadores biológicos, registando uma acumulação de ferro no córtex pré-frontal do cérebro, que é a zona dos comportamentos e das tomadas de decisões.

“A área para processar informações e selecionar preferências, executar ações e avaliar resultados de diferentes escolhas é o córtex pré-frontal e orbitofrontal. Em conjunto com o hipocampus e o corpo estriado, formam a rede responsável pela tomada de decisão. Assim, mudanças moleculares na funcionalidade das atividades neuronais nesses setores podem prejudicar significativamente o processo de tomada de decisão”, sublinha a investigadora principal.

A importância do mundo psicológico e social

O objetivo agora é alargar o estudo às pessoas, integrando idênticos processos biológicos e psicológicos, para obter uma fotografia completa da forma como o ser humano lida com as situações de stress. Para consegui-lo as equipas vencedoras acreditam que é necessário avaliar a interação dos mecanismos biológicos com a dimensão psicológica e social.

Numa perspetiva multidisciplinar, o projeto tenta compreender “como é que os mecanismos biológicos se relacionam com a forma como indivíduos avaliam uma determinada situação, qual é o conteúdo da decisão, quem está envolvido, os contextos de tomada de decisão (da camada individual às estruturas sociais), bem como as expectativas em relação ao resultado potencial da decisão”, esclarece Raffaella Gozzelino.

No final, a investigação premiada poderá contribuir para soluções que possam diminuir comportamentos desviantes e doenças neurológicas, por exemplo através da criação de novos medicamentos mais eficientes.

O Prémio de Investigação Colaborativa Santander Totta/Universidade NOVA de Lisboa, no valor de 25.000 euros, visa distinguir projetos de investigação a desenvolver por investigadores juniores da NOVA e que envolvam, pelo menos, duas das unidades orgânicas da Universidade. O prémio, de periodicidade anual, contempla sucessivamente projetos de investigação no âmbito das Ciências Sociais e Humanas, Ciências da Vida e Ciências Exatas e Engenharias.