Não foi só em Portugal que o empate do Benfica em Chaves, na última jornada do campeonato, teve repercussões. Os gregos estavam alerta para o deslize encarnado e rapidamente trataram de perceber como tal coisa tinha acontecido. E para que nada escapasse, o site Gazzetta.gr ligou para o obreiro do feito, o técnico Daniel Ramos. Do outro lado da linha, ouviram-no dar a receita ao campeão grego: não jogar em contra-ataque e assumir o jogo.

“O AEK tem de assumir o jogo. Se se limitarem a esperar pelo Benfica e tentar o contra-ataque, será difícil. É complicado jogar contra um adversário como o Benfica nessa estratégia. É preciso assumir o jogo”, referiu o técnico que, nos pingos da chuva, lá foi deixando mais algumas dicas: o Chaves empatou porque foi uma equipa “agressiva” e o Benfica tem a capacidade de desequilibrar “em qualquer momento do jogo” — seja em ataque organizado ou em contra-ataque, porque tem jogadores com capacidade de fazer a diferença, “como Jonas, Pizzi, Rafa ou Salvio”.

Estava dada a receita do mestre Daniel. Bastava saber se os gregos a saberiam aplicar para cozinhar os primeiros pontos nesta edição da prova ou se, por outro lado, os encarnados a transformariam no saboroso prato que quebrasse a série amarga na competição — à entrada para este jogo, as águias somavam já a oitava derrota consecutiva na prova milionária (excluindo playoffs e pré-eliminatórias).

Ficha de Jogo

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AEK-Benfica, 2-3

2.ª jornada do grupo E da Liga dos Campeões

Estádio Olímpico de Atenas

Árbitro: Orel Grinfeld

AEK: Barkas; Bakakis, Oikonomou, Chygrynskiy e Hult; André Simões (Rodrigo Galo, 80′), Galanopoulos e Klonaridis; Bakasetas, Ponce (Giakoumakis, 61′) e Mantalos (Cosic, 68′).

Suplentes não utilizados: Tsintotas, Lampropoulos, Gianniotas e Morán.

Treinador: Marinos Ouzounidis

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Conti e Grimaldo; Fejsa, Pizzi (Alfa Semedo, 61′), Gedson, Salvio (Lema, 45′), Rafa (Cervi, 84′) e Seferovic.

Suplentes não utilizados: Svilar, Zivkovic, Jonas e Castillo.

Treinador: Rui Vitória

Golos: Seferovic (6′), Grimaldo (15′), Klonaridis (53′ e 63′) e Alfa Semedo (75′)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Ponce (34′), Bakasetas (40′), André Almeida (80′) e Grimaldo (90′). Duplo amarelo para Rúben Dias (8′ e 45′)

 

Sem surpresas, Rui Vitória promoveu ao onze Conti e Gedson — para ocupar os lugares dos lesionados Jardel e Gabriel — e lançou Salvio, mantendo Rafa (que recebeu o brinde por ter marcado os dois golos do Benfica em Trás-os-Montes) no lugar de Cervi. Foi assim que as águias entraram de forma avassaladora na partida, não permitindo sequer à formação grega que testasse a receita de Daniel Ramos. Assumir o jogo foi tudo o que o AEK não fez na primeira meia hora de jogo, com os encarnados a mostrarem cedo o que pretendiam da partida. Conti — que antes do encontro ficou a saber que a expulsão em Chaves lhe vai render um jogo de suspensão e a consequente ausência no clássico de domingo — foi ao primeiro andar ameaçar de cabeça na sequência de um canto de Pizzi. A bola morreu nas mãos de Barkas, mas ficou o aviso.

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Um aviso que Seferovic converteu em certeza no minuto seguinte. O menino Gedson disparou à baliza, Barkas defendeu como pôde — com os pés, de forma tosca, para a frente — e deixou a bola à mercê do suíço, que apontou o golo 100 dos encarnados na prova e quebrou o enguiço de mais de um ano sem as águias marcarem na prova milionária — a última vez tinha sido, precisamente, pelo seu pé, em setembro de 2017.

Não descansou com o golo, a formação encarnada. O mesmo Seferovic queria bisar e quase o conseguiu, não fosse Chygrynskiy a antecipar-se e tirar-lhe o doce da boca, depois de um cruzamento com régua e esquadro de Grimaldo. Nem um minuto passado, até Fejsa tentou a sua sorte: foi ao segundo andar na sequência de um cruzamento de Pizzi, mas as intenções esbarraram nas mãos de Barkas.

Não acertou Fejsa, de cabeça, chegou lá quem menos se esperava: o ‘baixinho’ Grimaldo viu Pizzi centrar da direita e, mais do que isso, viu Bakasetas a vir na sua direção e ganhou-lhe a frente para cabecear para o 2-0 — apontando o primeiro golo na competição. O AEK estava muito passivo no capítulo defensivo, algo nervoso e com muitas perdas de bola. Parecia a tempestade perfeita para os encarnados — que já viam o jogo ganho e o fim do enguiço de oito jogos seguidos a perder.

O futuro brilhante que a formação encarnada vislumbrava baixou os níveis de concentração, o que levou o Benfica a abrandar o ritmo e a dar a bola (e a iniciativa) ao AEK. O convite foi aceite pelos gregos que rapidamente trataram de potenciar os seus pontos fortes — que é como quem diz o jogo pelas alas. Hult (e Mandalos) exploraram ao máximo as costas de André Almeida e fizeram muitos estragos pela faixa esquerda. Valeu Vlachodimos, que defendeu tudo o que havia para defender — sobretudo um remate de Bakasetas, que recebeu de costas com o peito, girou, e obrigou o guardião encarnado a fazer a defesa do jogo (daquelas que valem pontos e milhões). A pressão grega subiu, o Benfica passou a ter o credo na boca e clamava pelo intervalo. Mas Rúben Dias tratou de dificultar as contas com uma entrada imprudente ao rosto de Ponce que lhe valeu o segundo amarelo — e consequente expulsão.

Forte revés para Rui Vitória, que quase viu ser escrito um capítulo na obra já conhecida do mundo do futebol “E tudo o vermelho levou”. Retirou Salvio e reforçou o setor defensivo com a estreia de Cristián Lema, mas o argentino ficou mal na fotografia quando permitiu a antecipação de Klonaridis, que recebeu o cruzamento a meia altura de Hult e reduziu para o campeão grego. Tantas vezes o cântaro foi à fonte — que é como quem diz Hult subiu pela faixa esquerda — que quebrou a superioridade encarnada. O Benfica era uma nulidade no ataque — chegou aos 58 minutos com constrangedores 16% de posse de bola — e André Almeida andou aos papéis para travar as subidas dos extremos. Não ajudou a saída de Salvio, jogador que, habitualmente, ajuda no processo defensivo: a faixa direita do Benfica tornou-se uma autêntica avenida grega.

Os encarnados bem tentavam juntar as linhas, mas havia sempre espaço entre o setor central e intermédio — explorado pelos homens do AEK. Mais uma bola nas costas de André Almeida, mais uma vez o Benfica apanhado em contrapé, aproveitou Oikonomou para assistir Klonaridis para o golo do ‘bis’ — que, diga-se, marcou sem qualquer oposição. Estava feito o empate e, nas hostes encarnadas, já pairava a sombra dos resultados negativos na Liga dos Campeões.

Mas Rui Vitória foi ao banco, escolheu Alfa Semedo (que fez sentar Pizzi) e o menino não revelou qualquer peso por estar em estreia na mais importante prova de clubes a nível europeu. Recuperou a bola a meio-campo, foi por ali fora, deixou dois adversários pelo caminho e rematou cruzado para o 3-2. Mais do que isso, garantiu uma vitória, daquelas que dão milhões (embora a exibição não valha mais do que alguns tostões) e quebram enguiços: os encarnados voltaram a vencer na Champions, oito jogos depois.