O Serviço Nacional de Saúde precisa de contratar mais 600 enfermeiros só para suprir a passagem às 35 horas semanais que ocorreu em julho, estima a Ordem dos Enfermeiros, que alerta para “situações graves” motivadas pela carência de profissionais.

Em entrevista à agência Lusa, a bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, fez um balanço da passagem de milhares de profissionais das 40 para as 35 horas semanais de serviço ocorrida há três meses, dando conta de que foram contratados 1.100 enfermeiros.

“Foram contratados cerca de 1.100 enfermeiros para fazer face às 35 horas. Seriam precisos 1.700, além da carência que já existia. Faltam 600. Esta carência nota-se muito nalguns serviços, que já tinham uma carência que foi agravada pelas 35 horas”, afirma Ana Rita Cavaco.

A bastonária apela ao Ministério da Saúde e ao Governo para avançarem para uma nova vaga de contratação já este mês, recordando que a tutela se comprometeu em julho a fazer uma avaliação das necessidades e a reforçar profissionais no outono.

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A falta de profissionais motivada pela passagem de mais trabalhadores, a 1 de julho, às 35 horas de trabalho semanais veio juntar-se, segundo Ana Rita Cavaco, à “carência estrutural de enfermeiros” no SNS, que coloca Portugal “na cauda da Europa”, com 4,2 enfermeiros por mil habitantes.

O hospital do Litoral Alentejano é uma das unidades que tem enfrentado problemas com a carência de pessoal de enfermagem.

Segundo a Ordem, faltam 21 enfermeiros só na equipa do serviço de urgência do hospital do Litoral Alentejano.

“Estamos a falar de situações graves. Por exemplo, não se transportam doentes para Lisboa para fazer tratamentos de que precisam na sequência de um AVC e que vão impactar na vida dessas pessoas. Se aquela pessoa não fizer aquele tratamento, o resultado não vai ser o mesmo. Muitas vezes não se transporta esses doentes porque não há enfermeiros. O enfermeiro tem de escolher: ou faz o transporte desse doente ou fica na urgência com o doente que lá tem. Isso não é aceitável”, relata Ana Rita Cavaco.

Também o serviço de urgência do hospital S. José, em Lisboa, tem “manifestamente falta de enfermeiros”, diz a bastonária, alertando para uma “equipa desfalcada e exausta”.

O hospital de Gaia é outro “foco de grandes preocupações”, segundo a Ordem, que lamenta que a administração deste Centro Hospitalar insista em negar os problemas.

Uma realidade semelhante ocorre no hospital de Faro, acrescenta Ana Rita Cavaco, que diz não compreender como as administrações “negam à tutela os problemas”.

Para a bastonária, a resolução dos problemas e da carência de profissionais está também muito ligada à forma como as administrações hospitalares gerem a informação que dão ao Ministério.

“Em todos os casos que reportámos e em que as administrações admitiram falhas conseguiu-se arranjar mais contratações. Negar o que acontece é uma forma errada de gerir”, refere Ana Rita Cavaco.

Quanto aos custos da passagem dos enfermeiros das 40 para as 35 horas semanais, a Ordem considera que “as contas são simples”, uma vez que está definido que contratar três mil enfermeiros custa por ano 65 milhões de euros, que representa 0,6% do orçamento para a Saúde.

A agência Lusa já tentou saber junto do Ministério da Saúde qual o impacto financeiro da passagem às 35 horas semanais de trabalho em julho, bem como quando avançarão novas contratações, mas até ao momento não obteve resposta.