Em maio passado, durante o colóquio de homenagem a Guilherme de Santa Rita na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, foi revelada a existência de três desenhos do pintor até então desconhecidos. Estes — propriedade dos herdeiros do livreiro-alfarrabista Américo Francisco Marques, que os comprou nos anos 50 a José Campas, amigo de Santa Rita Pintor, como era conhecido, e seu companheiro em Paris — vão estar expostos a partir desta quarta-feira na terceira edição do Salão de Outono do Museu Regional da Guarda. Esta é a primeira vez que os esboços, feitos a lápis, são mostrados ao grande público.

Esta é uma oportunidade rara de ver ao vivo trabalhos realizados pelo futurista que, antes de morrer, ordenou que se queimasse toda a sua obra. Os desenhos são também “singulares” por outras razões, como explica o Museu da Guarda em comunicado: um deles encontra-se alinhado com a escola modernista, “somando-se ao pouco que se conhece do que publicou” nas revistas Orpheu e Portugal Futurista e ao quadro, inacabado, Cabeça, exposto no Museu do Chiado; os outros dois podem incluir auto-retratos, “exercícios de que se conhece apenas os da Coleção Gulbenkian”.

A pintura Orfeu nos Infernos também vai estar exposta no Salão de Outono do Museu da Guarda, de 7 de novembro de 2018 a 9 de janeiro de 2019

Além destes, o Museu da Guarda vai também ter em exposição a pintura Orfeu nos Infernos, que não era mostrada ao público desde 1925. Reproduzida no único número da Portugal Futurista, dirigida pelo futurista algarvio Carlos Filipe Porfírio, de novembro de 1917, a obra, que pertence à coleção do empresário Armando Martins, foi apresentada uma única vez no I Salão de Outono de Lisboa, há 93 anos. Neste participaram, entre outros artistas, os modernistas José de Almada Negreiros e Amadeo de Souza-Cardoso. Até hoje não se sabe ao certo em que data Orfeu nos Infernos foi produzido. A sua interpretação é também assunto de debate entre especialistas.

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Em 2018, assinalam-se os 100 anos da morte de Santa Rita Pintor. O futurista morreu a 29 de abril de 1918, de tuberculose, meses antes de Souza-Cardoso sucumbir à Gripe Espanhola. Tinha 28 anos. A mostra do Museu Regional da Guarda, que decorre de 7 de novembro a 9 de janeiro, antecede uma série de iniciativas levadas a cabo em 2019 para marcar a data. Além da publicação de uma biografia da autoria de João Macdonald e de um volume com as comunicações do colóquio da Faculdade de Belas-Artes, organizada pelo investigador Fernando Rosa Dias, o Museu da Guarda vai também organizar a primeira exposição retrospetiva do futurista.

A apresentação pública das três obras inéditas de Santa Rita Pintor acontece esta quarta-feira, pelas 19h30, no Museu Regional da Guarda

Artigo atualizado no dia 8/11 com a correção do nome de Santa Rita Pintor (sem hífen) e da indicação de que a biografia de João Macdonald se trata da primeira do artista