Stephen Attenborough, diretor comercial da Virgin Galactic e a primeira pessoa que Richard Branson contratou, afirmou que iam ser as companhias privadas — e não as agências governamentais — a conduzir uma nova era da exploração espacial. Numa conferência durante a Web Summit em Lisboa, esta quarta-feira, Stephen Attenborough disse querer “abrir as portas do turismo espacial” não porque é um luxo, mas porque é “necessário”: segundo ele, pode ser uma boa estratégia para “sensibilizar as pessoas “e levá-las a entender “como estamos nisto juntos”.
Há uma grande oportunidade e um grande desafio no negócio do turismo espacial, admite Stephen Attenborough. A oportunidade é que quase toda a gente gostava de ir ao espaço. E isso ficou espelhado no número de pessoas que levantou a mão quando o diretor da Virgin Galactic perguntou quem queria viajar até lá:
“Vamos assumir que o preço dos bilhetes não seria um problema e que a segurança estava completamente garantida. As estatísticas dizem-nos que 97,8% das pessoas querem ir ao espaço. As respostas que as crianças de um jardim de infância dão são as mesmas das dos CEO de empresas. Toda a gente quer”, garantiu.
O grande desafio é a tecnologia. Quem tivesse visto o lançamento de Iuri Gagarin para o espaço a bordo de um Vostok I em 1961 não notaria muitas diferenças imediatas se assistisse ao lançamento de um Soyuz este ano, provam as fotografias que Stephen Attenborough comparou no palco. De acordo com ele, “é preciso investir ainda mais em tecnologia inovadora no caminho para o espaço”: “Por alguma razão, a nossa forma de colocar pessoas e carga no espaço não mudou muito. Por isso, considerem ir para o espaço como uma estrada muito estreita, um trilho pedonal”.
É por isso que, nas contas da Virgin Galactic, nos últimos 60 anos e com 7,7 mil milhões de pessoas na Terra, apenas 559 astronautas — apenas 60 eram mulheres — foram ao espaço. E foi por isto que as pessoas “perderam ligação com o espaço”, argumenta Stephen Attenborough: “Já quase ninguém sonha em vir a ser astronauta. Nesta sala só três pessoas colocam essa hipótese. Certo é que quem lá foi falou da experiência para o resto da vida. É uma experiência que muda as pessoas para sempre. E que todos devíamos ter”, defendeu ele.
E deviam porque, diz o diretor comercial da companhia, isso traria duas vantagens. Uma delas é o avanço tecnológico que viria daí: “Estamos convencidos de que o espaço é importante. A forma como comunicamos, navegamos, lidamos com os desastres, tudo isso foi melhorado pelo acesso que tivemos ao espaço. Mas podemos fazer mais, como explorar outros recursos naturais e escolher opções mais limpas. Há milhares de aplicações à espera de serem exploradas”.
Mas Stephen Attenborough sabe que não basta estar motivado:
“Uma vez falei com o criador da Amazon. Ele disse-me que teve a tarefa facilitada. Não teve de inventar a Internet, não foi obrigado a inventar os cartões de crédito nem os pagamentos online. Isso já estava tudo feito. A estrutura já estava lá, só teve de colocar uma ideia em cima dela. E agora é uma das pessoas mais bem sucedidas do mundo”, contou.
Por enquanto, esse ainda não é o panorama para a exploração espacial, muito menos quando se fala de turismo: “Agora ainda é difícil ir ao espaço. O espaço em si é muito difícil. Não sei o que fazem da vida nem qual é a vossa profissão, mas o espaço é de certeza mais complicado. É verdadeiramente rocket science. O que queremos fazer e tornar isso mais fácil.”.
A outra vantagem em dar asas ao turismo espacial, argumenta a Virgin Galactic, é remediar a falta de “ligação com o espaço” que Stephen Attenborough diz haver entre as pessoas. “Há um motivo para as pessoas quererem ir lá. A vida é muito complexa e há muitas dúvidas sobre o futuro. Há muita coisa errada no momento e, desenganem-se, não há uma solução milagrosa para elas”, avisou.
“Se formos bem sucedidos em dar essa experiência a milhares de pessoas, e é mesmo uma experiência de profunda, a relação delas com a Terra e o cosmos tem a melhorar. E chegaremos à verdade essencial de que estamos nisto juntos”.
Stephen Attenborough acredita que esta é uma estratégia para que as pessoas “levantem os olhos” dos problemas na Terra e “se sintam entusiasmadas com alguma coisa”: “As pessoas têm de se entusiasmar como Colombo quando descobriu novos lugares ou com o piloto que ultrapassou a barreira do som pela primeira vez”, exemplificou. É uma estratégia em tudo próxima à de John F. Kennedy, que quando prometeu colocar o Homem na Lua até ao final dos anos 60 — “escolhemos ir à Lua, não porque é fácil mas porque é difícil”, disse o antigo presidente dos Estados Unidos à época — deu um empurrão de milhões de dólares à engenharia e à industria aeroespacial norte-americanas e desviou a atenção da população para o espaço quando ela se concentrava na Guerra do Vietname.
A Virgin Galactic já tem em mente como fazê-lo. Primeiro construiu o VMS Eve, uma aeronave cargueiro da família White Knigh tTwo (WK2) que lança outras aeronaves em grandes altitudes para depois seguirem para o espaço. Depois construiu VSS Unity, um “jato em esteroides” capaz de levar seis pessoas para o espaço para um passeio. Na descrição de Stephen Attenborough, o VSS Unity é levado pelo VMS Eve para uma altitude de 50 mil pés e depois faz uma subida a pique em direção ao espaço que vai sujeitar os tripulantes a uma força equivalente a 3,5 vezes a gravidade na Terra. A experiência seria semelhante à deste vídeo aqui em baixo.