A segunda mão da final da Taça Libertadores esteve em risco de ser anulada ou pelo menos adiada mas, após muitas reuniões, pressões e declarações, o encontro entre River Plate e Boca Juniors foi reagendado para as 19h20 locais (mais três horas em Portugal Continental) apesar da clara intenção dos jogadores xeneizes em não marcar comparência. Certo era que, pelo menos a essa hora, não havia jogadores em campo e o jogo passou mesmo para domingo. Ainda assim, fica mais um dia de caos e vergonha para o futebol argentino, manchado pelos comportamentos mais radicais dos adeptos.

Tudo começou na altura da chegada do autocarro do Boca Juniors ao Estádio Monumental, que se encontrava praticamente cheio cerca de uma hora e meia antes da hora inicial para o arranque da partida: numa ação muito criticada da polícia, que levou o autocarro que transportava a delegação xeneize para uma zona onde estavam concentrados muitos adeptos mais radicais do River Plate, a viatura foi atacada com pedras e gás pimenta, seguindo-se a ação das autoridades sobre os hinchas usando também gás gás lacrimogéneo para limpar a área. Em paralelo, começaram aí uma série de focos distintos de confrontos entre adeptos e polícias, em momentos de tensão que se foram registando em mais zonas nos arredores do Monumental.

Pablo Pérez foi um dos jogadores mais atingidos, com vestígios de vidros nos olhos. Também o lateral Jara terá sofrido um corte profundo na perna. Carlos Tévez, Ramón Ábila, Edwin Cardona, Agustín Almendra e Sebastían Villa chegaram ao balneário com visíveis dificuldades, como se viu nas imagens televisivas que foram sendo distribuídas. “Os jogadores estão feridos com o ataque, alguns cortados. Não estão em condições de jogar”, disse então Christian Gribauldo, secretário geral do Boca Juniors. Mais tarde, Pablo Pérez e Gonzalo Lamardo foram ainda de ambulância a uma unidade hospitalar, devido aos problemas nos olhos e nos braços. Nessa viagem, segundo alguns meios argentinos, houve de novo lançamento de pedras.

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Chegou a pensar-se que o jogo seria mesmo cancelado, suspenso ou pelo menos adiado por 24 horas. Até porque, quando em 2015 alguns jogadores do River Plate foram atacados com gás pimenta no túnel de acesso ao relvado na Bombonera, o jogo foi suspenso e os millonarios passaram mesmo à fase seguinte da Taça Libertadores desse ano. Também por isso, o Boca Juniors foi sempre recusando a possibilidade de entrar em campo por considerar que não estavam reunidas as condições para jogar depois de tudo o que tinha acontecido. Aos jornalistas, Tévez recordou esse episódio. “Vi esse episódio na TV e ouvi alguns jogadores deles a dizer que nenhum jogador do Boca se chegou a eles para perguntar como estavam. Hoje também ninguém veio ter connosco para ver como é que nós estávamos”, atirou visivelmente desagradado.

“É algo anormal o que estamos a viver mas se tivermos de jogar, vamos jogar. Há vários jogadores a quem custa respirar e é claro que não é a melhor forma de poder encarar um jogo. Não comemos desde o meio dia, há cinco horas que estamos fechados no balneário”, lamentou Fernando Gago, capitão do Boca Juniors, também junto à cabine dos xeneize.

Depois de mais uma ronda de reuniões entre os presidentes da CONMEBOL, do River Plate e do Boca Juniors, o encontro foi mesmo cancelado para este domingo, às 17 horas locais (20h em Portugal Continental). E continuam a surgir imagens de confrontos e momentos de tensão entre adeptos e polícia nos arredores do Estádio Monumental, o que obriga a redobrados cuidados numa altura em que todos os espetadores terão de sair do recinto. Gianni Infantino, presidente da FIFA, já abandonou o estádio com um semblante visivelmente carregado pela situação que obrigou ao adiamento da final da Libertadores. Alejandro Domínguez, líder da CONMEBOL, também foi insultado à saída do recinto.

“A decisão foi tomada por acordo com ambos os clubes, foi feito um pacto de cavalheiros. Um não pode jogar e outro não quer ganhar nestas condições. O encontro vai ser jogado este domingo, com público, e a CONMEBOL vai acompanhar toda a sua organização mas não para fazer qualquer tipo de pressão. Quero felicitar os dois presidentes dos clubes pela forma como chegaram a acordo. As pessoas têm de pensar que isto não é uma guerra”, resumiu à saída Domínguez.

Depois de ter sido confirmado o adiamento por 24 horas, e quando dava uma entrevista nos corredores de acesso ao Estádio Monumental, Rodolfo D’Onofrio, presidente do River Plate, teve de fugir por nova situação de desacatos. “É lamentável e incrível que quem tinha a responsabilidade de assegurar a segurança do autocarro do Boca não tenha correspondido e que cinco ou dez inadaptados ao mundo nos tenham privado a todos de ver um River-Boca. Se os jogadores deles não estavam em condições, considerámos conveniente apoiar o Boca na intenção de passar o jogo para amanhã”, disse. Já existem também relatos de adeptos que foram assaltados à saída do recinto e ficaram sem bilhete para o jogo de domingo.

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“Na Libertador tivemos alguns ataques e na Boulevard outros que partiram vidros. alguém atirou gás e afetou os futebolistas. Tivemos de dar medicação a alguns porque são alérgicos, com injeções para que reagissem rápido. A outros faltava o ar. Há jogadores com lesões”, comentou Daniel Angelici, presidente do Boca Juniors. “A CONMEBOL não nos ameaçou. Na primeira reunião a partida ia jogar-se, depois vi os jogadores e disse que as condições não eram justas. Quero agaradecer à CONMEBOL e às pessoas do River que se preocuparam connosco. D’Onofrio foi ao nosso balneário e apoiou a nossa posição. O problema não são as pessoas do River mas sim alguns inadaptados que existem em todos os clubes”, acrescentou.

Entretanto houve um outro vídeo no exterior do estádio que se tornou viral e que mostra bem a loucura que se vive em Buenos Aires: uma mulher foi apanhada num vídeo amador a colocar à volta da cintura de uma pequena menina vários artefactos pirotécnicos antes da entrada no estádio, tentando que os mesmos acedessem ao recinto de forma mais “fácil”.