Em abril, entre muitas lágrimas, Andrés Iniesta anunciou que deixaria o Barcelona, o clube que representou durante 22 anos, no final da temporada. O adeus chegou em maio, num jogo contra a Real Sociedad: foi substituído aos 82 minutos sob uma gigantesca ovação do Camp Nou, que entoou o nome do jogador espanhol até ao final da partida. Seis meses depois da despedida da camisola blaugrana, Iniesta deu uma entrevista ao programa “Salvados”, do canal de televisão espanhol La Sexta, e falou sobre a depressão que sofreu no verão de 2015, o que sentiu ao ficar no banco durante o jogo dos oitavos de final do último Mundial em que Espanha foi eliminada pela Rússia e ainda José Mourinho.
O médio de 34 anos, que joga atualmente no Vissel Kobe do Japão, disse ao jornalista Jordi Evole que a passagem de José Mourinho pelo banco técnico merengue, entre 2010 e 2013, transformou a histórica rivalidade entre Real Madrid e Barcelona em ódio. “Não é preciso ser adepto de um ou de outro para saber que a situação era desagradável. E a componente chave nessa história foi Mourinho. Quem não quiser ver isso, é radical. Não se via a rivalidade como ela existia antes, ia para além disso, via-se ódio. A atmosfera desenvolveu-se e era insuportável. A tensão Barça-Madrid que Mourinho criou provocou muitos danos à seleção nacional espanhola”, garantiu Iniesta, que com a camisola da seleção conquistou dois Campeonatos da Europa e um do Mundo.
O antigo capitão do Barcelona revelou ainda que sofreu uma depressão no verão de 2015, depois de conquistar o campeonato espanhol, a Taça do Rei e a Liga dos Campeões com os catalães: ainda que não explique os motivos que o levaram à doença e que garanta que nem sequer sabia “que rótulo” colocar àquilo por que passou, atribui parte da justificação à morte de Daniel Jarque, defesa central do Espanhol que morreu em 2009, aos 26 anos, devido a um ataque cardíaco. Iniesta, amigo próximo do jogador, mostrou uma camisola com a frase “Dani Jarque, sempre connosco” quando marcou o golo da vitória espanhola na final do Mundial 2010, contra a Holanda.
“Aconteceu depois de ganharmos o triplete. Comecei a sentir-me mal, algo estranho, e nem sequer sabia que rótulo dar a isto. Comecei um processo interno, a pensar, mas não sabia porquê. Andava às voltas, em círculos, e sentia-me muito vazio. O que aconteceu ao Dani [Jarque] também influenciou. Numa tarde, durante a pré-época, pedi ajuda a um médico para perceber o que fazer, porque não sabia o que podia acontecer. Disseram-me que precisava de procurar ajuda porque não estava a sair dali. Não tinha entusiasmo, não tinha desejos, não sentia nada. Só queria chegar a casa e tomar um comprimido para dormir. Quando estás deprimido, não és tu mesmo”, disse o antigo internacional espanhol, que acabou por ser acompanhado por um psicólogo para conseguir ultrapassar este período.
Sobre o último Mundial, revelou que se sentiu “insultado” por ter ficado no banco durante o jogo dos oitavos de final, onde a seleção espanhola foi eliminada nas grandes penalidades pela anfitriã Rússia, e descreveu a saída e Julen Lopetegui como algo que “não foi positivo”. “Não é uma boa memória para mim, como é óbvio. As coisas que começam mal normalmente acabam mal. No prisma desportivo, o que aconteceu com Lopetegui não foi positivo. E o último jogo foi a cereja no topo do bolo. Comecei no banco e não percebi a decisão. E disse isso ao Hierro. Respeitei porque tinha de respeitar, mas não concordei. O treinador falou comigo antes e depois do jogo, mas não entendi a decisão. Acho que não tinha razões para isso. Senti-me insultado porque aquilo que ele me disse não fez qualquer diferença”, explicou Andrés Iniesta.