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A Vitória que vale a Consoada de barriga cheia (a crónica do Benfica-Sp. Braga)

Este artigo tem mais de 5 anos

O Benfica realizou a melhor exibição da temporada e aproveitou um Sp. Braga apático para carimbar uma goleada que vale o terceiro lugar. Os encarnados oferecem uma prenda de Natal aos adeptos.

André Almeida assinou o melhor golo do jogo deste domingo
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André Almeida assinou o melhor golo do jogo deste domingo

Filipe Amorim / Global Imagens

André Almeida assinou o melhor golo do jogo deste domingo

Filipe Amorim / Global Imagens

Abel Ferreira completou este sábado 40 anos. O técnico português, um dos mais novos do Campeonato (só Pepa e Tiago Fernandes, com 38 e 37 anos, nasceram mais tarde), começou o capítulo de treinador nos juniores do Sporting, clube onde pendurou as botas e passou os últimos seis anos da carreira enquanto jogador, para depois assumir a liderança dos bês do Sp. Braga — onde também jogou, durante época e meia. Chegou à equipa principal em abril de 2017, para substituir Jorge Simão. A meio da segunda temporada integral que realiza em Braga, chegava ao jogo com o Benfica com mais um ponto do que os encarnados, no terceiro lugar da tabela, depois de já ter vencido o Sporting este ano.

À entrada para este jogo, o homólogo de Abel Ferreira no Benfica, Rui Vitória, sabia duas coisas: os encarnados precisavam de ganhar para chegar ao terceiro lugar e não deixar fugir Sporting e FC Porto; e a equipa da Luz teria de jogar bem mais do que aquilo mostrou nos últimos jogos, ganhos na sua maioria pela margem mínima, para ultrapassar os bracarenses. É verdade que o Benfica vinha de seis vitórias consecutivas para todas as competições e não sofreu golos em nenhum desses jogos — mas também era verdade que o Sp. Braga acumulava cinco vitórias seguidas e não sofria golos há quatro partidas. Além disso, é preciso não esquecer que integrava a comitiva bracarense que este domingo viajou até Lisboa Dyego Sousa, o melhor marcador do Campeonato.

Depois de alterar grande parte da equipa para a visita ao Montalegre, Rui Vitória regressou àquele que tem sido o onze tipo dos encarnados nos últimos jogos: com Zivkovic titular e Cervi no lugar do lesionado Rafa. Já Abel Ferreira contava com Claudemir, que ainda esteve em dúvida para a deslocação à Luz, e lançava Paulinho no onze, em detrimento de Wilson Eduardo.

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Ficha de jogo

Benfica-Sp. Braga, 6-2

14.ª jornada da Primeira Liga NOS

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Benfica: Odysseas, André Almeida, Rúben Dias, Jardel (Conti, 74′), Grimaldo, Fejsa, Gedson, Pizzi, Zivkovic, Cervi (Krovinovic, 78′), Jonas (Seferovic, 62′)

Suplentes não utilizados: Svilar, Alfa Semedo, Samaris, Krovinovic, João Félix

Treinador: Rui Vitória

Sp. Braga: Tiago Sá, Goiano (Wilson Eduardo, 59′), Pablo, Bruno Viana, Sequeira, Esgaio, Claudemir, Fransérgio, Ricardo Horta (João Novais, 59′), Paulinho, Dyego Sousa

Suplentes não utilizados: Marafona, Palhinha, Ryller, Eduardo, Murilo

Treinador: Abel Ferreira

Golos: Pizzi (19′), Jardel (39′), Grimaldo (48′), Dyego Sousa (50′), Jonas (54′), Cervi (63′), André Almeida (67′), João Novais (73′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Ricardo Esgaio (15′), Rúben Dias (58′), Fransérgio (82′)

Nos minutos iniciais, o jogo estava estendido e sem grande luta de meio-campo, com as duas equipas a optar por lançar o ataque pelos corredores ou pelo passe longo, sem preocupação de maior com a organização ou a ligação tradicional entre setores. Ainda assim, o Benfica tinha mais bola, mais posse e mais controlo — a equipa de Rui Vitória parecia, logo à partida, bem mais segura do que nos últimos jogos e assumia o controlo da partida, ainda que não conseguisse chegar com real perigo ao último terço do terreno. O primeiro calafrio para Tiago Sá surgiu à passagem do quarto de hora, quando Jonas picou a bola com intenção e qualidade para Pizzi, que recebeu bem mas foi demasiado lento para inaugurar o marcador. Um lance que acabava por não ser uma ocasião de golo e que nem sequer teve um remate mas que soltou o tónico para o resto do jogo: Pizzi estava bem e com vontade de fazer estragos.

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[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Sp. Braga:]

Imediatamente depois de um lance em que Pizzi deixou a bola redondinha ao segundo poste, nos pés de Jonas, mas o brasileiro não corresponder ao passe, Grimaldo descobriu o médio português em aceleração pelo corredor esquerdo. Pizzi — num flashback do Pizzi de outros tempos, com pés de veludo e criatividade acima da média –, tirou dois defesas do Sp. Braga da frente, entrou dentro da área bracarense e atirou de pé direito e em jeito para a baliza de Tiago Sá. O guarda-redes arsenalista esticou-se, esticou-se, esticou-se: mas não chegou lá. Quatro meses depois, Pizzi voltou a marcar (tinha concretizado pela última vez na segunda jornada, contra o Boavista).

O Sp. Braga reagiu bem ao golo dos encarnados e Fransérgio poderia ter empatado minutos depois, num remate de longe que só parou na barra da baliza de Vlachodimos. O Benfica baixou as linhas e conseguiu conter o ímpeto ofensivo dos bracarenses, atraindo a primeira linha de pressão do adversário para depois tentar sair em velocidade e apanhar o Sp. Braga descompensado e com buracos na organização defensiva. Numa altura em que os encarnados tinham o jogo controlado e não arriscavam em demasia, Ricardo Horta recebeu um passe perfeito de Dyego Sousa e poderia ter empatado e relançado o jogo — valeu Vlachodimos ao Benfica, que entre a cabeça e o ombro conseguiu evitar o golo. Não marcou Ricardo Horta, respondeu Jardel do outro lado. A cinco minutos do intervalo, o central brasileiro surgiu ao segundo poste depois de um canto batido por Zivkovic e superiorizou-se à defensiva arsenalista. Na ida para o descanso, os encarnados batiam o Sp. Braga por 2-0, de forma tranquila, e só precisavam de aguentar a vantagem para subir ao terceiro lugar da tabela.

No regresso para a segunda parte, não foi preciso esperar muito para perceber o que traria o segundo tempo: logo aos 48 minutos, quando o Sp. Braga ainda não tinha desvendado de que forma iria correr atrás do prejuízo, Grimaldo arrancou pela esquerda, tentou servir Jonas, aproveitou o ressalto depois do corte da defesa bracarense e fez o terceiro golo encarnado quase sem ângulo. O lateral espanhol voltou a confirmar o ótimo momento de forma por que está a passar e voltou a marcar, depois de ter assinado o golo da vitória frente ao AEK, para a Liga dos Campeões. Mas o arranque de segunda parte absolutamente vertiginoso só ficou completo aos 50 minutos, quando a Luz já só pedia o Campeonato número 37 para o museu encarnado mas Dyego Sousa decidiu calar, ainda que só por parcos segundos, as bancadas. O brasileiro respondeu da melhor forma a um cruzamento a partir da esquerda e correu de imediato para o meio-campo defensivo, pronto para atacar a remontada.

Mas o Benfica deste domingo teve algo que o Benfica das últimas semanas não teve: a vontade e o querer de lutar pelo resultado, de reagir aos golos dos adversários, de ligar o meio-campo com o ataque e procurar soluções ofensivas que não as óbvias. Zivkovic, de um lado, e Cervi, do outro, foram os obreiros de um ímpeto atacante que teve Pizzi como maestro e Jonas como mestre de obras. Mais atrás, Fejsa fez aquilo que um médio mais defensivo deve sempre fazer — ser tão eficaz que deixa apenas escassas memórias de estar em campo — e Gedson assinou outra exibição digna de nota, assumindo-se cada vez mais como titular indiscutível do Benfica de Rui Vitória.

Jonas, eficaz como sempre, respondeu a um passe de Cervi, o próprio Cervi culminou de forma brilhante uma grande combinação entre Zivkovic e o recém-entrado Seferovic e até André Almeida teve espaço para rematar de primeira e de fora da área bracarense para deixar o resultado em números surpreendentes. João Novais ainda reduziu — deixando a descoberto as fragilidades defensivas do Benfica — mas o Sp. Braga estava em noite “não”. Os bracarenses, uma das equipas do Campeonato português que melhor futebol apresenta e um evidente candidato ao título, a par dos óbvios três “grandes”, apareceram na Luz absolutamente irreconhecíveis, apáticos, sem qualidade e desprovidos de identidade. É verdade que os encarnados realizaram o melhor jogo da época e, face ao elevadíssimo nível de eficácia, não deram espaço a grandes investidas por parte do Sp. Braga; mas a equipa de Abel Ferreira poderia ter feito mais e ter aproveitado em larga escala os erros da defesa do Benfica que, apesar do resultado muito positivo, está longe de deixar boas indicações depois do jogo deste domingo.

Na flash interview do jogo com o Montalegre, a meio da semana, que o Benfica venceu pela margem mínima, Rui Vitória garantia que o “período de retoma” dos encarnados, depois da breve crise que atravessaram, teria de ser construída desta forma: com exibições tímidas mas eficazes, que não deslumbram mas trazem resultados. O jogo deste domingo, ainda que altamente influenciado pelo demérito do Sp. Braga, parece ter colocado um fim ao tal “período de retoma”. O Benfica goleou na Luz, voltou a ser eficaz, ultrapassou os bracarenses na classificação e é bom recordar que, crises, derrotas e quase despedimentos à parte, estamos ainda em janeiro. Os encarnados ofereceram aos adeptos um presente de Natal antecipado e passam a Consoada de barriga cheia (e, de forma absoluta, no terceiro lugar).

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