O eurodeputado socialista Francisco Assis e o deputado Paulo Trigo Pereira, eleito inicialmente pelas listas do PS, afinal não vão estar presentes na Convenção do Movimento Europa e Liberdade por entenderem que o evento se tornou “eminentemente político de crítica e combate ao governo”. Nas palavras de Francisco Assis, que deu conta da sua desistência aos organizadores do evento, “uma eventual participação num evento com as características agora publicitadas só poderia ser entendido como um ato de pura esquizofrenia política”.

“Os pressupostos subjacentes ao convite que me foi dirigido a fim de participar num debate promovido pelo MEL – Movimento Europa e Liberdade, a realizar no próximo dia 11, e que me levaram a aceitar o mesmo, foram drasticamente alterados nos últimos dias dada a natureza de várias notícias vindas a público sobre tal iniciativa e dado o sentido de declarações proferidas pelo próprio presidente do movimento organizador”, começou por dizer o eurodeputado numa nota dirigida a um dos organizadores do evento, Paulo Carmona.

Segundo Assis, “teria todo o gosto em participar no debate aberto, plural e alheio a qualquer tipo de preocupação político-partidária sobre o importante tema do futuro da Europa que me foi proposto, mas não posso, como é por demais evidente, participar num encontro que passou a ser publicamente anunciado como uma espécie de ‘estados gerais’ do centro-direita, tendo em vista a afirmação de um projeto alternativo de poder”. Qualificando as razões da desistência como “inultrapassáveis”, o eurodeputado socialista, que tem sido publicamente crítico da solução governativa da “geringonça”, sublinha que não só não faz parte “do centro-direita português” como nunca renegou a sua “condição de homem da esquerda democrática e de militante do PS”. “Como tal, uma eventual participação minha num evento com as características agora publicitadas só poderia ser entendido como um ato de pura esquizofrenia política”, nota ainda.

Tom semelhante é usado por Paulo Trigo Pereira numa nota também enviada aos organizadores do evento. “Quando me convidaram para participar neste evento foi com base num convite abrangente e que segundo o texto do mesmo estava direcionado para temas que reputo essenciais e por isso aceitei com gosto”. “Acontece que, posteriormente ao convite e alimentado mesmo por declarações públicas de um dos organizadores citadas pelo jornal Público, tornou-se um evento eminentemente político de crítica e combate ao governo”, explica, para depois concluir que, apesar de ter rompido com a bancada do PS e se ter tornado recentemente deputado não-inscrito, continua a ser “apoiante, apesar de crítico, deste governo do PS”.  

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“Dado o carácter não plural e  a excessiva politização do evento considero a minha participação não apropriada pelo que lastimo mas não estarei presente no mesmo”, conclui Paulo Trigo Pereira.

A Aula Magna do centro-direita reúne-se (mas sem Rui Rio)

Como Observador noticiou esta quarta-feira, o evento organizado pelo Movimento Europa e Liberdade está marcado para os próximos dias 10 e 11 de janeiro, na Culturgest, e procura agregar todas as correntes políticas que não se revejam na atual governação e que procurem uma alternativa. “É uma plataforma que tenta juntar todos os que querem lutar por uma melhor Europa e pela liberdade, por isso não excluímos ninguém a não ser aqueles que preconizam intolerâncias à direita e à esquerda”, disse ao Observador Paulo Carmona, um dos organizadores. Da lista de oradores, maioritariamente inseridos no espectro da direita, centro-direita e direita liberal, constam personalidades ligadas aos partidos políticos, incluindo dirigentes do CDS como Assunção Cristas, Adolfo Mesquita Nunes ou João Gonçalves Pereira, personalidades do PSD (atualmente críticos de Rui Rio), como Luís Montenegro, Luís Marques Mendes, Miguel Morgado, Pedro Duarte ou Miguel Pinto Luz, e ainda Pedro Santana Lopes, na qualidade de líder do Aliança.

No vasto leque de oradores constavam ainda nomes ligados ao PS, mas relativamente críticos da atual solução de governo. Era o caso de Francisco Assis, Paulo Trigo Pereira e ainda o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado (que até à data ainda não desmarcou a sua presença). António José Seguro também terá sido confirmado como orador, tal como foi noticiado pela Visão, e colocado numa versão do programa que foi divulgada, mas como o Observador noticiou esta quarta-feira, terá dado conta de que não poderia, afinal, estar presente.

Ao Observador, Paulo Carmona chegou a dizer que o Movimento não pretende vir a entrar na dinâmica dos partidos, mas quer antes ser “uma ponte entre os vários partidos para pensarem o futuro do país, da Europa e do mundo”. Na sequência da notícia do Observador, o presidente do Movimento Europa e Liberdade, Jorge Marrão, escreveu no Facebook que a ideia da convenção era “apelar a todos que não se revejam num governo apoiado por comunistas, trotskistas, extrema esquerda e novos oportunistas da situação a estarem presentes para se debater o futuro de Portugal de forma diferente com mais liberdade, oportunidades e mais e melhor Europa”. Palavras que não terão caído bem aos socialistas que tinham o seu nome inscrito no programa.

Apelamos a todos que não se revejam num governo apoiado por comunistas, trotskistas, extrema esquerda e novos…

Posted by Jorge Marrao on Wednesday, January 2, 2019