O artista João Onofre inaugura esta sexta-feira, na Culturgest, em Lisboa, a primeira antologia da sua obra, “atravessada pelo fantasma da finitude”, a maior já realizada sobre o seu trabalho, percorrendo um período de mais de 20 anos.
A exposição intitula-se “Once in a Lifetime [Repeat]”, cobre um período entre 1998 e 2019, e ficará patente até 19 de maio, nas galerias da Culturgest, onde o curador da mostra, Delfim Sardo, apresentou as obras numa visita guiada aos jornalistas.
“Não pretende ser uma retrospetiva, nem tem a pretensão de mostrar exaustivamente a obra de João Onofre”, disse o curador. Reúne trabalhos em vídeo, nomeadamente uma peça nova especificamente concebida para esta exposição, além de desenhos de diferentes séries, desde 2005, escultura, objetos, peças sonoras e performance.
De acordo com Delfim Sardo, a mostra procura ter a tónica nos trabalhos dos últimos 15 anos, com algumas incursões em peças mais antigas, e foi concebida em torno das ideias de recorrência e repetição estruturais no trabalho do artista.
É atravessada por preocupações inerentes ao seu percurso: a memória do conceptualismo, o fascínio pela música, bem como as grandes temáticas da arte desde o romantismo — a morte, a tragédia, o investimento pessoal, a juventude, o desempenho e o erro.
A exposição começa antes mesmo de o visitante entrar no edifício da Culturgest, onde está a “Box”, um cubo em aço que tem uma dimensão de 1,83 metros — a profundidade de uma sepultura — e que remete para a famosa escultura do artista Tony Smith, “Die”, que marcou a arte minimalista.
“A obra de João Onofre vive numa espécie de limbo entre um enorme romantismo, uma relação com o universo, e os grandes temas da História da Arte, como o amor, a morte, a falha”, descreveu Delfim Sardo na visita de apresentação, acrescentando que a ironia, muitas vezes presente no trabalho artista, torna-o “complexo”.
Nas salas expositivas, há vários vídeos criados por Onofre que remetem para a tensão das relações humanas, como aquele em que é mostrado um fragmento de um filme com Alain Delon e Monica Vitti, de Michelangelo Antonioni, “O Eclipse”, onde continuamente entrelaçam as mãos, ou o vídeo que mostra o músico Norberto Lobo a tocar uma das suas composições perto de uma falésia, debaixo de um grande guarda-sol, abanado pelo vento.
Progressivamente, são mostrados desenhos, como alguns das séries “Degradation” e “Running Dry”, onde surgem as ligações entre a cultura popular e erudita, a peça sonora com partes de gravações de Carlos Paredes, nas quais se ouve a respiração do músico, vários vídeos com performances no atelier do artista, nomeadamente o da levitação, ou da ação destrutiva de um abutre ali solto.
A peça criada propositadamente para esta exposição é o vídeo de uma performance que dura mais de duas horas e meia, e são mostrados um grupo de músicos, um coro de gospel e um grupo de jogadores de raguebi, que tentam, sem sucesso, dizer a frase da canção “I want to know what love is”, do grupo Foreigner, por serem continuamente atirados ao chão por algum dos jogadores.
Nascido em 1976, em Lisboa, onde vive e trabalha, João Onofre estudou pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, fez um mestrado em Belas Artes no Goldsmiths College, em Londres, e estudou Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.
O trabalho deste artista português tem vindo a ser apresentado em diferentes museus e galerias internacionais, nomeadamente no MoMA Contemporary Art Center, em Nova Iorque (2002), no Museu Nacional de Arte Contemporânea — Museu do Chiado, em Lisboa (2003), no Palais de Tokyo, em Paris (2011), e no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa (2017).
A inauguração realiza-se esta sexta-feira, às 22h00, e inclui uma performance, às 22h30, com entrada gratuita. No dia 16 de fevereiro, às 12h00, o artista realiza uma visita guiada à exposição.