O segundo dia da greve nacional dos funcionários públicos é também o dia que pode provocar maiores perturbações na vida dos portugueses. Na paralisação desta sexta-feira, convocada pelos sindicatos da CGTP e da UGT, os sindicatos esperavam um impacto maior nos setores da saúde, educação, finanças e autarquias, mas também na segurança social, conservatórias e bombeiros, podendo levar mesmo ao encerramento de escolas e deixar o lixo por recolher.

Ao final desta manhã, Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum, avançou que “a greve em termos globais tem mais de 80% de adesão” e garantiu: “Não vamos desistir de lutar até às eleições”.

No início da madrugada, Arménio Carlos apontava já para uma elevada adesão à paralisação na recolha do lixo e nos hospitais. “Em relação aos resíduos sólidos e aos hospitais as adesões rondam entre os 90 e os 100% e isso reflete, por um lado, o grande descontentamento dos trabalhadores face à falta de resposta do Governo em relação às suas reivindicações, mas confirma também que esta greve só se está a realizar por responsabilidade do Governo”, disse o secretário-geral da CGTP em declarações à TSF.

Na base do protesto está o facto de o Governo prolongar o congelamento salarial por mais um ano, limitando-se a aumentar o nível remuneratório mais baixo da administração pública, de 580 para 635,07 euros, na sequência do aumento do salário mínimo nacional para os 600 euros. Arménio Carlos referiu ainda que “o Governo tem a obrigação de ouvir o sentimento dos trabalhadores e simultaneamente o das populações” e que se a situação não se alterar “a resposta só pode ser uma: é que depois do dia 15, outras lutas seguirão até que os problemas sejam resolvidos”.

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Mais de 90% das escolas estão encerradas

O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) avançou no final desta manhã que a adesão à greve nas escolas foi de 90%, tendo em conta docentes e não docentes. “Estes níveis de adesão elevados conseguem-se perceber melhor no pré-escolar e no primeiro ciclo, uma vez que aí a escola encerra quando não há nenhum professor a trabalhar”, referiu Mário Nogueira.

Esta adesão mostra bem o protesto que os trabalhadores da administração pública estão neste momento manifestar contra a política de desinvestimento deste governo, com a degradação do serviço público”, acrescentou Mário Nogueira.
Na Escola Clara de Resende, no Porto, os portões estavam fechados e um funcionário colocou um aviso à porta sobre a greve: não há aulas.

Hospitais: turno da noite teve entre 75% e 100% de adesão

Segundo os dados da Frente Comum divulgados na manhã desta sexta-feira, mais de duas dezenas de hospitais apresentaram uma adesão à greve entre os 75% e os 100% no turno da noite. No Hospital de São José e de Santa Maria, na área da urgência e do bloco, em Lisboa, foi registada uma adesão de 100% e no Hospital D.Estefânia os números indicados chegaram aos 98%.  Já os hospitais Amadora/Sintra, de Gaia e de Chaves registaram 90% de adesão e nas unidades hospitalares de São Francisco Xavier, de Santo António e Pedro Hispano, ambos no Porto, foi de 80%.

Os números da Frente Comum indicam ainda uma adesão de 75% à greve no turno da noite do Hospital de São João, no Porto. Em Coimbra, o Hospital da Universidade de Coimbra, a Maternidade Daniel de Matos, a Maternidade Byssaia Barreto, o Hospital Geral dos Covões e o Hospital Pediátrico estiveram só com os serviços mínimos.

Ainda na Região Centro, o Hospital de Pombal, Hospital da Figueira da Foz, Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga (Santa Maria da Feira), Centro Hospitalar Baixo Vouga (Aveiro), Centro Hospital Tondela/Viseu, Unidade de Saúde Local da Guarda, Centro Hospitalar de Leiria e Centro Hospitalar do Oeste (Caldas da Rainha) também estiveram no turno da noite só com serviços mínimos.

Recolha do lixo: alguns serviços chegaram a encerrar

Quanto à recolha noturna de resíduos, dados do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL) indicam que os serviços estiveram encerrados nos concelhos de Almada, Alcochete, Amadora, Évora, Loures e Odivelas, Moita, Palmela, Seixal e Setúbal.

No Funchal, foi registada uma adesão de 60% no Funchal, 70% em Lisboa — Garagem dos Olivais, 50% em Sintra e 60% em Vila Franca de Xira.

“A adesão foi muito significativa”, referiu o secretário-geral da Federação de Sindicatos de Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (FESAP) ao Observador, dando exemplo dos Açores e da Madeira onde “a adesão à greve nas escolas, centros de saúde, lares, recolha do lixo, em geral, ronda os 70%”. Na região centro, informou José Abraão, “a adesão foi sempre entre os 80 e 0s 90%”. “Cheguei a ouvir a expressão ‘Parece domingo'”, acrescentou.

Se não houver qualquer resposta, sublinhou o secretário-geral da FESAP, os trabalhadores da administração pública “não vão desistir” e poderão avançar com mais paralisações. “Queremos compromisso e negociação para que estes problemas sejam resolvidas. Se não houver resposta, vamos continuar, porque não é o número de greves que nos preocupa. Neste caso concreto, o número de greves aumentou, mas foi essencialmente no setor privado, não foi na administração pública”, afirmou o sindicalista.

A paralisação começou por ser marcada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, há cerca de um mês, na expectativa de que o Governo ainda apresentasse uma proposta de aumentos generalizados para a função pública, o que não veio a concretizar-se. A Federação Sindical da Administração Pública (FESAP) e a Federação Nacional da Educação (FNE), filiadas na UGT, marcaram dias depois greve para a mesma data, pelos mesmos motivos.

A última greve nacional da administração pública ocorreu em 26 de outubro e foi convocada pela Frente Comum, pela FESAP e pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE). Os trabalhadores da função pública têm os salários congelados desde 2009.

Desde o dia 1 de janeiro, avançou o jornal Público, já foram entregues 112 pré-avisos de greve. Segundo os dados do Ministério Público, são os professores quem organizou um maior número de protestos, seguindo-se o pessoal dos serviços de segurança e da justiça. Do lado dos enfermeiros, foram entregues seis pré-avisos de greve, a chamada “greve cirúrgica” que obrigou o Conselho de Ministros a aprovar uma requisição civil.