O cardeal George Pell, antigo número 3 do Vaticano, foi condenado a seis anos de prisão por ter abusado sexualmente de dois rapazes na década de 90, avança o jornal britânico The Guardian. O juiz Peter Kidd, do Tribunal de Comarca de Victoria, em Melbourne, ordenou que, pelo menos, três anos e oito meses de pena efetiva sejam cumpridos pelo cardeal. Só findo este período é que a liberdade condicional pode ser ponderada.
A notícia da condenação caiu na madrugada desta quarta-feira em Portugal, 13 de março, dia em que estava marcada a leitura da sentença — e o dia em que faz seis anos que Papa Francisco foi eleito.
O tribunal, que apenas ouviu uma das vítimas, uma vez que a outra morreu em 2014, com 13 anos, vítima de overdose de heroína, considerou provado que o cardeal forçou os rapazes a atos indecentes. O juiz declarou que, para a sentença, teve em conta os “crimes hediondos” cometidos por Pell, mas também a sua idade avançada, 77 anos, e o facto de “ter levado uma vida irrepreensível”.
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:560/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2019/03/13070935/GettyImages-1130156174.jpg)
O juiz Peter Kidd ordenou que, pelo menos, três anos e oito meses de pena efetiva sejam cumpridos pelo cardeal (Foto: WILLIAM WEST/AFP/Getty Images)
O cardeal George Pell, que enfrentava uma pena de prisão que podia chegar aos 50 anos, negou as acusações. Os advogados anunciaram logo após a leitura da sentença que vão recorrer da pena aplicada. O recurso será apreciado apenas em junho, de acordo com informação avançada ainda pelo The Guardian.
“A vida do meu filho foi desperdiçada por dois minutos de prazer de um homem”
O pai do jovem de 13 anos — que nunca falou sobre os abusos que o filho sofreu — esteve na sala de audiências e falou aos jornalistas depois de lida a sentença. “Ouvir o juiz, lá dentro, foi difícil. Estava com raiva, por dentro. Senti que a vida do meu filho foi desperdiçada, desperdiçada por dois minutos de prazer de um homem. Não é fácil de descrever. Não é sequer fácil estar aqui e falar”, disse.
Vi-o [a George Pell] a sair do tribunal e pensei: bom, eu vou dormir na minha cama, hoje. Onde é que vais dormir hoje?”, disse acrescentando: “Não vai trazer o meu filho de volta”.
O pai descreveu ainda o filho como “um rapaz normal” e “honesto”, que “gostava de ajudar os avós”. “Estas coisas destroem as famílias, destroem as pessoas”, acrescentou.
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:560/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2019/03/13070928/GettyImages-1130151204.jpg)
À porta do tribunal, várias pessoas juntaram-se para se manifestar contra o cardeal (Foto: WILLIAM WEST/AFP/Getty Images)
George Pell, que em 2014 foi nomeado pelo Papa Francisco para colocar as finanças do Vaticano em ordem, é culpado de ter penetrado um rapaz de 13 anos e de, em quatro ocasiões, ter cometido “atos indecentes” com outro menor de 13 anos, numa catedral em Melbourne, na Austrália. Estes episódios terão ocorrido entre dezembro de 1996 e o início de 1997 na Catedral de São Patrício, em Melbourne, poucos meses depois de Pell ter sido nomeado arcebispo da cidade.
No final de fevereiro, o Tribunal de Melbourne ordenou a detenção do cardeal condenado pelo abuso sexual de dois menores. George Pell é o clérigo com o cargo mais elevado de sempre no Vaticano a ser condenado pelo abuso sexual de menores.