O físico meteorologista Rui Salgado, da Universidade de Évora, admitiu esta quarta-feira que 2019 possa ser “um ano ao nível dos mais quentes desde que há registos”, não só em Portugal, mas a nível do planeta.
“Se virmos a evolução da temperatura do planeta, os quatro últimos anos, entre 2015 e 2018, foram aqueles em que as temperaturas médias foram mais elevadas desde que há registos”, disse à agência Lusa o investigador do Instituto de Ciências da Terra (ICT) da Universidade de Évora (UÉ).
Segundo o físico meteorologista, a evolução demonstra que se está a assistir a um aquecimento global e que a tendência é de continuidade.
“O mês de janeiro deste ano e não foi só em Portugal que isso aconteceu foi o segundo mais quente em termos globais desde que há registos”, pelo que “tudo indica que este ano vai estar ao nível dos anos mais quentes desde que há registos”, alertou Rui Salgado.
Questionado esta quarta-feira pela Lusa sobre a situação de seca que volta a afetar Portugal, o investigador da UÉ afirmou que “a tendência parece ser esta” quanto a 2019 poder vir a ser particularmente quente, no país e no mundo.
Rui Salgado disse ainda que, ao contrário das projeções para a temperatura, que “são bastante consensuais” entre os cientistas de que se está “a experienciar um período de alterações climáticas”, quanto à precipitação “os sinais são mais contraditórios”.
“As projeções relativas às alterações no campo da precipitação são muito variáveis ao longo do globo”, assinalou, vincando, contudo, que, para a zona do Mediterrâneo, “todas apontam para uma diminuição da precipitação, particularmente na primavera e também no verão, embora nesta época ela já quase não exista, por isso, baixar ou não é pouco relevante”.
Quanto a Portugal, segundo as mesmas projeções do clima, o Alentejo “é a região que será mais afetada no que diz respeito à diminuição da precipitação”, frisou o professor da UÉ.
“Há uma tendência global”, que é a que “os estudos mais recentes indicam”, que no Alentejo, “além do aumento da temperatura, haverá uma diminuição da precipitação e, portanto, o aumento da probabilidade de secas”, frisou.
Mas, alertou, “não se pode dizer, de uma forma simples, de causa e efeito, que o facto de este ano estarmos com seca e de há dois anos estarmos em período de seca” que a ocorrência de secas já está a aumentar no território: “Já tivemos muitas secas e muito fortes, por exemplo nos anos 40” do século passado, lembrou.
Mais de metade do território do continente (57%) está em seca moderada, 5% em seca severa, no Barlavento algarvio, e 38% em seca fraca, anunciou, no dia 20 deste mês, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, frisando que a situação é preocupante, mas está ainda longe do que se passou em 2017.
Este ano está a ser “anormalmente seco e quente”, mas ainda se espera que possa chover mais no mês de abril, afirmou Capoulas Santos.