Maria de Fátima Branco pretende avançar para a guarda partilhada do neto Salvador, que nasceu prematuro no passado dia 28 de março, no Hospital de São João, no Porto.

Apesar de ainda não ter ido visitar o bebé ao serviço de neonatologia, ao Observador, a avó da criança afirmou que quer participar na vida de Salvador, mas afiança que “não vai haver guerra nenhuma” com o pai. “Se o Bruno não aceitar, é mais uma dor que eu iria sofrer. O que é que eu vou fazer? Nada. Conhecendo o Bruno como conheço, acho que vamos conseguir um consenso”. Segundo Maria de Fátima, esse era também o desejo da filha, que a mãe ajudasse a criar e participasse na educação do seu filho.

Salvador nasceu no dia 28 de março, com 31 semanas e 6 dias de gestação, às 4h32. Na altura do parto, Salvador pesava 1,7 quilos, um peso bom para bebé prematuro, segundo os médicos, e media 40 centímetros.

Segundo a avó, tudo leva a crer que Salvador poderá ter alta dentro de duas semanas. Ao Observador, Maria de Fátima Branco confirmou a informação avançada pelo Jornal de Notícias de que o bebé já fez o teste do pezinho, mas não conseguiu precisar o dia, “penso que foi na passada sexta-feira, mas não sei dizer ao certo.”

Quando nasceu, a criança apresentava dificuldades respiratórias mas o seu estado de saúde evoluiu de forma positiva ao longo dos dias. No dia seguinte ao nascimento, o bebé já não necessitava de “ventilação mecânica invasiva”, como informou o conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João, no Porto, e Salvador já respirava apenas com ajuda do suporte ventilatório nasal, como confirmou o Observador. Cinco dias depois do parto, o bebé já respirava sozinho.

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Segundo a avó, o estado de saúde de Salvador continua a evoluir de forma positiva. “Dada a prematuridade está a reagir bem”, sabe Maria de Fátima dos relatos que lhe chegam do hospital onde ainda não foi, porque, de acordo com a própria, “primeiro tenho que assimilar um certo número de coisas, quero olhar para aquele bebé e não quero chorar. Não quer dizer que não vá lá amanhã ou para a semana, quando estiver preparada”. A avó diz ainda que “para já o bebé não precisa de mim para nada, precisa é de cuidados médicos. Quero chegar lá completamente limpa e olhar para aquela criança sem pensar em mais nada”. Ao Observador, fonte do Hospital de São João afirmou apenas que Salvador está estável.

Catarina Sequeira, mãe de Salvador, natural de Crestuma, em Vila Nova de Gaia, foi mantida viva para que o filho pudesse nascer. A morte cerebral da jovem canoísta de 26 anos foi declarada a 26 de dezembro do ano passado, depois de no dia 20 desse mês, a mulher grávida ter dado entrada no Hospital de Gaia, devido a ataque de asma aguda que a deixou inconsciente.

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Maria de Fátima Branco assegura que mantém uma relação de entreajuda com o pai do neto, e sobre a possibilidade de avançar para um pedido de guarda partilhada afirma que “ninguém quer tirar o filho ao Bruno. Queria era guarda partilhada, como referência da família da parte da mãe, por todo o processo que acompanhámos. Acho que tenho esse direito, tanto moral como legal, de fazer parte da vida dessa criança”.

Ao Observador, a avó de Salvador demonstra-se apreensiva com o facto de pai de Salvador ter apenas 25 anos de idade. “É um miúdo que é pai pela primeira vez, que está praticamente sozinho, com uma tarefa muito difícil”, refere, acrescentando que não tomará nenhuma decisão sem consultar o pai do bebé.

Para mim o Bruno é como se fosse um filho. Primeiro quero falar com o Bruno, e com uma assistente social para ver como são as coisas. Não quero impor nada ao Bruno. O bebé já ficou sem mãe, não tem direito de ficar sem pai.”

De acordo com a avó de Salvador, a família já falou sobre esta questão da guarda partilhada, mas Bruno Sapalo ainda não se terá demonstrado disponível para tomar uma decisão. “Está obcecado com aquela criança que ainda não teve discernimento correto”, afirma Maria de Fátima Branco.

O pai de Salvador é quem tem estado a acompanhar o filho no hospital desde o nascimento. A avó afirma que já está a participar na vida familiar e que presta ajuda a Bruno “para tudo o que for preciso. O Bruno vem cá jantar”.

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Os tios, irmãos de Catarina Sequeira, também estarão a ter um papel ativo na vida do sobrinho, e segundo Maria de Fátima, “já lhe compraram roupa e um móvel com banheira e tudo. Nós somos pobres mas temos sempre o sentido de partilha. Já passamos por muito na vida, e vamos continuar a passar, e cá estamos para aguentar com tudo”.

Garantindo que não está a “impingir” nada a ninguém, a avó de Salvador já tem até planos para o futuro. “Quero que o Bruno vá comigo em busca de apoio, na junta de freguesia, por exemplo, porque acho que é um direito que lhe assiste”. Maria de Fátima Branco pensa em “arranjar uma casa” perto de onde vive em Crestuma, e até falar com os serviços camarários de Gaia, já que considera que é preciso que a família se organize para dividir as tarefas, “entre mim, ele e os tios, mas isso é uma coisa que o Bruno tem que decidir”. Segundo o entendimento da avó, “a criança aqui teria o apoio dos tios e das tias, e para isso, teríamos que conciliar a proximidade das casas.”