Cerca de cinquenta índios brasileiros criticaram na terça-feira, em Nova Iorque, Estados Unidos, a política “trágica” do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, num protesto em que gritaram que “a Amazónia não está à venda”.

Os manifestantes, apoiados por ambientalistas norte-americanos, entregaram uma petição com cerca de 12 mil assinaturas para a missão brasileira da ONU, na véspera de uma grande manifestação indígena anti-Bolsonaro em Brasília, que começará na quarta-feira e irá terminar na sexta-feira.

“É urgente que o mundo ouça a voz, o grito dos povos indígenas. Somos ameaçados pelo agronegócio, hidroeletricidade, pelo desmatamento e pela indústria mineira”, disse esta semana a Coordenadora Nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara, num Fórum Indígena da ONU.

Para Sonia Guajajara, o Governo de Bolsonaro, que defende a exploração da floresta e dos recursos nacionais do país, “representa uma tragédia para o povo brasileiro”.

“Mas nós já resistimos há cinco séculos, por que não resistir a quatro anos de fascismo?”, questionou.

“Atacar os nativos da Amazónia é atacar os pulmões da Terra, o coração do nosso planeta”, sustentou também a diretora executiva da organização não-governamental ‘Amazon Watch’, Leila Salazar López.

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Em entrevista à agência de notícias France-Presse, a Relatora Especial da ONU para os Direitos dos Povos Indígenas, Vicky Tauli-Corpuz, disse estar “muito preocupada” com os nativos que vivem no Brasil.

No centro-oeste do país, as pessoas são deslocadas por causa das plantações de soja, lembrou Vicky Tauli-Corpuz.

“Eles sempre foram objeto de violência pelos serviços de segurança das plantações, mas são cada vez mais alvos das autoridades estatais”, lamentou.

Segundo dados oficiais, dos 209 milhões de habitantes, há cerca de 800 mil indígenas de 305 etnias no Brasil, que beneficiam da proteção do Estado em apenas 13% do vasto território brasileiro.

Desde que chegou ao poder no início de janeiro, Jair Bolsonaro diminuiu o financiamento de organizações de proteção indígena.

“O ano de 2019 começou num contexto gravíssimo. Logo no primeiro dia após o ato de posse, o presidente Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória 870, cuja medida desmonta a FUNAI, órgão responsável pela política indigenista do Estado brasileiro, transferindo o mesmo do Ministério da Justiça para o recém criado Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado pela Ministra Damares Alves”, denunciou a APIB na sua página na Internet.

A APIB acrescentou que “essa mesma medida retirou as atribuições de demarcação de terras indígenas e licenciamento ambiental nas Terras indígenas da FUNAI e entregou-as à Secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, sob o comando da bancada ruralista”.