A temporada de escaladas ao Monte Evereste terminou esta terça-feira com o maior número de alpinistas mortos em quatro anos, segundo as autoridades nepalesas.

Estima-se que cerca de 600 alpinistas alcançaram o pico mais alto do mundo esta temporada, que começou dia 14, disse o diretor do Departamento de Turismo nepalês, Meera Acharya, citado pela EFE. Com a temporada encerrada oficialmente, contam-se nove mortes no lado nepalês do Evereste, o maior número desde 2015, e dois do lado chinês.

Várias das mortes estiveram relacionadas com as filas de espera para alcançar o pico, numa altura em que o número de licenças concedidas pelo Governo nepalês aos alpinistas atingiu um recorde.

Escalar o Monte Evereste era um sonho ao alcance de poucos antes de o Nepal ter aberto o acesso à montanha para a escalada comercial, há cerca de 50 anos, recorda a Associated Press. À medida que o fascínio pelo Evereste cresce, também as multidões aumentam, com alpinistas inexperientes a hesitarem nas passagens estreitas para o pico, causando atrasos mortais, de acordo com escaladores veteranos.

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Depois da morte de 11 pessoas este ano, as autoridades turísticas nepalesas não manifestam intenção de restringir o número de licenças emitidas, mas sim encorajar ainda mais turistas e alpinistas, afirmou Mohan Krishna Sapkota, secretário do Ministério do Turismo e Aviação Civil, à Associated Press.

Três alpinistas morreram ao tentar escalar o Monte Everest

O Nepal, um dos países mais pobres do mundo, depende da indústria para arrecadar cerca de 300 milhões de dólares todos os anos, não limitando o número de licenças emitidas, nem controlando o ritmo e o timing das expedições, deixando isso a cargo dos operadores turísticos e dos guias, que aproveitam as vantagens das breves condições climatéricas claras sempre que chegam, levando a acumulações no pico.

A 22 de maio, um dos escaladores tirou uma foto em que se via uma fila de dezenas de alpinistas que ziguezagueavam em direção ao céu. Amontoados na crista afiada acima da passagem de South Col, os alpinistas enfrentavam uma queda de 7.000 pés (dois quilómetros) de ambos os lados, todos seguros a uma única linha de corda, caminhando em direção ao topo do mundo e arriscando a morte a cada minuto.

“Havia mais pessoas no Evereste do que deviam estar. Faltam-nos as regras e regulações que determinam quantas pessoas podem subir e quando podem subir”, afirmou Kul Bahadur Gurung, secretário-geral da Associação de Montanhistas do Nepal, grupo que engloba todos os operadores de expedições do país.

O número de mortos esta temporada é o mais alto desde 2015. Crê-se que os que morreram sofreram de ‘mal da montanha’ (doença das alturas), causado por pouca quantidade de oxigénio a uma elevada altitude e que pode causar dores de cabeça, vómitos, falta de ar e confusão mental.

No topo da montanha, as condições são tão intensas que quando uma pessoa morre, ninguém pode gastar energia ao trazer o corpo para baixo. “Lá todos os minutos contam”, disse Eric Murphy, guia norte-americano que escalou o Evereste pela terceira vez na semana passada.

O alpinista explicou que o que deveria ter demorado 12 horas acabou por demorar 17 devido aos alpinistas que estavam claramente exaustos, mas não tinham ninguém para os guiar ou ajudar. “Basta uma mão cheia de alpinistas inexperientes para causar um efeito profundo”, acrescentou.

O Nepal não tem quaisquer regulações para determinar quantas licenças devem ser emitidas, portanto alguém que já tenha uma autorização médica pode comprar uma licença por 11 mil dólares, segundo Sapkota. Este ano, foram emitidas licenças para 381 pessoas em 44 equipas, o maior número de sempre, de acordo com o Governo.