Uma Palma de Ouro de Cannes e um Leão de Ouro de Veneza são apenas dois dos prémios de Manoel de Oliveira que vão estar em exibição permanente na Casa do Cinema, a inaugurar na segunda-feira, no Porto.

Assinada pelo arquiteto Álvaro Siza, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, uma obra cifrada em 3,7 milhões de euros, foi edificada de raiz, nos verdejantes 18 hectares do parque de Serralves, bem ao lado do edifício das garagens do Conde de Vizela, antigo proprietário quinta, e vai ser inaugurada na próxima segunda-feira, 24 de junho, dia de São João, padroeiro da cidade do Porto, pelas 18h30.

“A Casa do Cinema Manoel de Oliveira vai ser constituída por uma sala de exposição permanente, onde é proposto um percurso através da globalidade da obra de Manoel de Oliveira. É um percurso através da filmografia de Manoel de Oliveira, complementado por uma seleção de documentação”, avançou esta quarta-feira à Lusa António Preto, diretor do novo espaço dedicado à sétima arte, revelando que vão estar expostas algumas das dezenas de galardões e homenagens que o cineasta Manoel de Oliveira (1908-2015) ganhou, ao longo dos seus 106 anos de vida.

A Palma de Ouro de Cannes (2008), o Leopardo de Ouro de Locarno (1992), o Leão de Ouro de Veneza (2004), a homenagem do Festival de Cinema Internacional de Tóquio (1997) e do American Film Institute (AFI/2007) são alguns dos prémios que o realizador do filme “Aniki-Bobó” recebeu, e que vão poder ser revisitados a partir desta segunda-feira no novo espaço dedicado ao cinema, conta António Preto à Lusa, referindo que o acervo de Manoel de Oliveira está “integralmente em depósito na Fundação de Serralves desde 2013”.

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É um “riquíssimo espólio documental que permite uma nova compreensão e um novo enquadramento sobre a obra de Manoel de Oliveira, mas é também um núcleo documental precioso para compreender o cinema português, de uma maneira geral, e a cultura do século XX e início do século XXI”, explicou o diretor do novo espaço.

Na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, além da sala para exposição permanente, onde a “ideia é a exposição ir enriquecendo e ir sendo complementada ao longo do tempo”, há também um auditório, com 59 lugares, e uma tela, onde vão ser exibidas de forma regular películas da filmografia do cineasta e de outros realizadores, privilegiando “uma visão mais especulativa” sobre alguns filmes de Oliveira, explica o diretor do novo espaço cultural.

A Casa do Cinema vai também receber a primeira exposição temporária, batizada de “Manoel de Oliveira: A Casa”, que refletirá sobre as representações da “casa” na obra do cineasta.

“Partimos especificamente de um filme, ‘Visita ou Memórias e Confissões’, um filme realizado em 1982, para só ser apresentado postumamente. Nesse filme, Oliveira reflete sobre aquilo que tinha sido o seu percurso como cineasta até essa data, faz um pouco o balanço daquilo que foram algumas das posições mais marcantes que foi assumindo ao longo do tempo no que respeita ao fazer cinema. É um filme onde reflete igualmente sobre a sua vida pessoal”, explica António Preto à Lusa.

“É possível habitar no filme da mesma maneira que se habita numa casa”, prossegue. “Manoel de Oliveira, que será um habitante permanente da Casa do Cinema, é também um habitante que escolheu como última morada este filme póstumo”, reflete António Preto, definindo este filme como “fio condutor” da primeira exposição temporária no novo equipamento de Serralves.

Casas que dão para a rua, como nos filmes de “Aniki-Bobó” e “A Caixa”, casas que enclausuram personagens e segredos, como em “O Convento” ou na ‘casa-teatro’ da farsa burguesa “O Passado e o Presente”, a ‘casa-prisão’ de “Benilde, ou a Virgem Mãe”, a ‘casa-túmulo’ de “O Dia do Desespero”, a ‘casa-ilha’ de “Party” ou a ‘casa-mundo’, em “A Divina Comédia”, são outros exemplos da representação de “A Casa”, no cinema de Oliveira, lê-se no documento do Plano de Atividades para 2019, dos “30 Anos Serralves”, a que a Lusa teve acesso.

“Paralelamente ao programa de exposições temporárias e permanente, que será continuamente reconfigurada, temos também uma intensa programação de cinema que incide sobre a obra do Manoel de Oliveira, no momento de abertura, mas que percorrerá a obra de outros cineastas que, de uma forma mais ou menos direta, dialogam com a obra de Oliveira”, acrescentou António Preto à Lusa, aludindo que os filmes vão ser legendados em inglês.

A arquitetura vai ser outro dos destaques na Casa do Cinema, com uma carta branca a Álvaro Siza Vieira, personalidade que selecionará um conjunto de filmes centrados nas representações da Casa no cinema.

A Casa do Cinema vai ter ainda uma rubrica designada por “Estetoscópio”, com uma programação anual, que pretende cruzar política, estética e sociologia, designadamente com temas como a emigração e o acolhimento dos refugiados.

Programas de serviço educativo dirigidos para públicos de diferentes faixas etárias e incentivos à prática da investigação em contexto universitário sobre a obra de Oliveira, a partir do acervo, são outros objetivos na “política editorial”, elenca António Preto.

A Casa do Cinema Manoel de Oliveira é parte integrante de Serralves, à semelhança do Museu e da Vila de Serralves, e o acesso ao novo espaço, quer para as exposições, quer para as sessões de cinema, far-se-á através do Museu de Arte de Serralves.

A Casa do Cinema Manoel de Oliveira é apresentada esta quarta-feira à imprensa.