Portugal é dos poucos países que vão escapar à massa de ar quente vinda do deserto do Saara que elevará o mercúrio dos termómetros para lá dos 40ºC em quase toda a Europa. Enquanto o instituto meteorológico espanhol está a preparar a população para uma onda de calor que pode durar até ao início da próxima semana, o nosso país continua timidamente escondido debaixo das nuvens num verão com temperaturas pouco estivais. A culpa é de uma depressão que estacionou a noroeste da Península Ibérica, por cima do oceano Atlântico.

Os alertas laranja têm soado por toda a Europa. Em Espanha, onde se esperam temperaturas acima dos 40ºC, a Agência Estatal de Meteorologia lançou um comunicado a avisar a população da “chegada de uma massa de ar tropical continental” que, por ter passado pelo norte de África, se tornou “muito quente, muito seca e com poeiras em suspensão”. Mais ao lado, em França, o ministério da Saúde pede à população que beba muita água, se resguarde em lugares frescos, evite as bebidas alcoólicas, não faça esforços físicos e mantenha as janelas fechadas. Tudo por causa da “canicule”, que é como quem diz, da onda de calor.

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É assim em toda a Europa Central. Por exemplo, em Berlim, na Alemanha, as temperaturas podem chegar aos 35ºC esta terça-feira. Em Roma, Itália, e em Atenas, Grécia, duas cidades bem habituadas a estes fenómenos meteorológicos, o mercúrio dos termómetros pode inflamar até aos 36ºC a partir de quarta-feira e ao longo do fim de semana. Berna, a capital da Suíça, espera chegar aos 33ºC já esta terça-feira. E Oslo, na Noruega, assim como Estocolmo, na Suécia, está a registar as mesmas temperaturas que Lisboa. É como se a onda de calor estivesse a ser soprada para fora de Portugal. E, no fundo, está mesmo.

Desta vez, o segredo não está no anticiclone dos Açores. Apesar de a onda de calor vinda do norte de África também se mover em direção a Portugal, ela é desviada por causa do efeito tampão que a depressão estacionada no Atlântico — uma região de baixa pressão atmosférica em torno das quais o vento sopra no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, no caso hemisfério norte — provoca. Por outro lado, na Europa Central, o vento tem-se deslocado para nordeste e impede a massa de ar quente de chegar ao Atlântico e de desvanecer a partir daí.

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É isso que está a condenar o resto da Europa a uma onda de calor — um fenómeno em que se registam temperaturas máximas diárias superiores em 5ºC ao valor médio diário durante pelo menos 6 dias consecutivos. E é também esta conjunção de fenómenos que coloca Portugal longe desse calor infernal.

Quanto ao verão, esse tem tardado a chegar pelo mesmo culpado de sempre: o anticiclone dos Açores, que por estar afastado da Península Ibérica, coloca Portugal na rota da nebulosidade. Nas previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, isso só deve mudar a partir de quinta-feira, altura em que as temperaturas vão começar a subir e a chuva vai dar tréguas. Ainda assim, algumas nuvens vão teimar em deixar o céu ligeiramente encoberto.