José Manuel Durão Barroso acredita que ainda é possível evitar esse cenário, mas caso as tensões comerciais e económicas entre os EUA e a China cheguem a um “confronto aberto”, a Europa terá de fazer uma escolha — entre os EUA e a China — e o problema é que “a Europa não gosta muito de fazer escolhas”. Ainda assim, se as tensões chegarem a esses termos, Durão Barroso acredita que a Europa acabaria por escolher os EUA, “por razões económicas e geopolíticas”. Quanto a Portugal, porém, Durão Barroso elogia a “resiliência” dos portugueses mas mais a resiliência do povo, porque “as elites não têm estado à altura“.

As declarações foram proferidas por Durão Barroso no congresso anual da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, que este ano se realiza no Centro de Congressos do Estoril.

Durão Barroso comenta que “já cá andamos há muito tempo. Portugal tem uma grande capacidade de se adaptar e de se reinventar”. Para o antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia, em Portugal “temos uma resiliência notável — mais no povo do que nas elites. As elites portuguesas não têm estado à altura da capacidade notável de resiliência que o povo tem demonstrado”.

O futuro de Portugal tem, porém, de estar ligado à União Europeia, porque “a nossa fronteira não é Vilar Formoso, é a fronteira da UE“. “Sem a UE, não teríamos qualquer hipótese de defender a nossa posição” e de adaptar o país à globalização, defende Durão Barroso, acrescentando que “mesmo os maiores países europeus, como uma Alemanha — não está na mesma liga que estão os EUA ou a China. Um país com 80 milhões de pessoas não pode competir com um país que tem 1.400 milhões — a China e a Índia em breve podem ter 3 mil milhões”. Ora, a UE tem 500 milhões mas deverá perder a participação do Reino Unido, portanto a dimensão é incomparável com outras economias.

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“O potencial de crescimento da UE é inferior ao das economias emergentes e inferior ao dos EUA, sobretudo por questões demográficas”, que são um problema “gravíssimo” em alguns países europeus (que os nórdicos estão, bem, a combater). “Quando a população envelhece os países ficam mais pessimistas”, advoga Durão Barroso, pedindo mais políticas para estimular a natalidade. Além disso, é preciso reconhecer que há “resistências” naturais quando se ultrapassam certos níveis de imigração, sobretudo quando se trata de imigração de outros contextos religiosos e culturais, defende.

Durão Barroso defende que “estamos a assistir a um abrandamento da globalização mas não estamos, pelo menos não estamos ainda, a assistir a uma reversão da globalização”. É certo que “há forças que estão a combater a globalização, populistas, protecionistas, nativistas — nos EUA mas também na Europa, já que o voto do Brexit também espelha que pessoas consideram que outras pessoas, incluindo outros europeus, estão a vir para o país para competir com eles”.

Como pano de fundo, porém, está uma situação em que os EUA tentam travar a expansão da China (e não é por causa de Trump, porque “os democratas tendem a ser mais protecionistas e a destacar mais os direitos humanos”) e a China olha para a sua ascensão como um regresso ao normal, isto é, o regresso à potência que o país foi durante muitos séculos mas que deixou de ser nas décadas que antecederam o movimento da globalização, da qual estão a sair como grandes vencedores.

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