Para Sérgio Conceição, as prioridades são muito simples. Longe de estar preocupado com o período de overbooking que se antevê no calendário do FC Porto — entre Liga Europa e as três competições internas –, o treinador dos dragões explicou que a única coisa que pode prejudicar a equipa e dificultar a preparação de cada semana, cada encontro e cada desafio, é mesmo não jogar. “O que me incomoda é ficar 18 dias sem jogar. Não me incomoda jogar de três em três dias. Faz parte do que são os grandes clubes, que estão em todas as competições. Tenho de gerir o grupo da melhor forma, olhando para o momento. A competição deixa-me vivo, deixa-me num estado de que gosto”, disse Conceição na antevisão da receção ao Glasgow Rangers.

Afinal, e num balanço rápido e global, a verdade é que o FC Porto está nesta altura em quatro competições onde a vitória final é um objetivo assumido (uns mais do que outros, porém). Se na Primeira Liga, na Taça de Portugal e na Taça da Liga esse desejo é óbvio e renovável a cada temporada que passa, Sérgio Conceição deixou claro logo após a eliminação da Liga dos Campeões com o Krasnodar que os dragões poderiam perfeitamente lutar pela conquista da Liga Europa. E, espalhadas assim as cartas na mesa, a gestão do grupo “da melhor forma”, como disse o treinador, ganha uma relevância preponderante.

Ficha de jogo

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FC Porto-Glasgow Rangers, 1-1

Fase de grupos da Liga Europa

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Nikola Dabanovic (Montenegro)

FC Porto: Marchesín, Corona, Pepe, Marcano, Alex Telles, Otávio (Bruno Costa, 60′), Danilo, Uribe, Luis Díaz (Nakajima, 63′), Zé Luís (Soares, 76′), Marega

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Mbemba, Manafá, Fábio Silva

Treinador: Sérgio Conceição

Glasgow Rangers: McGregor, Tavernier, Goldson, Helander, Barisic, Jack (Arfield, 83′), Davis, Kamara, Barker (Ojo, 83′), Kent (Aribo, 76′), Morelos

Suplentes não utilizados: Foderingham, Flanagan, Katic, Defoe

Treinador: Steven Gerrard

Golos: Luis Díaz (36′), Morelos (44′)

Ação disciplinar: cartão amarelo para Barisic (14′), Jack (29′), Bruno Costa (69′), Marcano (70′), Alex Telles (76′), Helander (78′), Pepe (82′)

Esta quinta-feira, contra o Glasgow Rangers de Steven Gerrard, o FC Porto procurava esquecer a derrota sofrida na Holanda com o Feyenoord e cavar distância para um dos adversários no Grupo G: já que, à entrada para esta terceira jornada da fase de grupos, Feyenoord, Rangers, Young Boys e FC Porto tinham todos três pontos. O resultado na Holanda, porém, foi o ponto final numa série de oito vitórias em todas as competições sobre a qual os dragões trabalhavam desde que golearam o V. Setúbal antes de se deslocarem à Luz. O regresso após a pausa para as seleções, feito na Taça com o Coimbrões, não chegou para perceber se a equipa de Sérgio Conceição ultrapassou o jogo com o Feyenoord ou se uma derrota como culminar de um conjunto de exibições menos conseguidas tinha tido um efeito negativo no grupo. Esse teste, o teste a sério, era cumprido esta quinta-feira no Dragão.

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Contra os escoceses, Sérgio Conceição lançava no onze Jesús Corona, que recuperou de lesão e estava de regresso à titularidade. Em comparação com a equipa que foi à Holanda perder com o Feyenoord, e abrindo uma exceção à visita ao Coimbrões devido à expectável rotatividade, o treinador dos dragões só trocava mesmo o dono da direita da defesa e Nakajima por Luis Díaz, que esteve em grande plano na Taça de Portugal. Zé Luís formava dupla com Marega na frente de ataque e Otávio completava o meio-campo, a par de Uribe e Danilo. O início da partida depressa desmistificou a organização tática da equipa orientada por Gerrard: de um aparente 4x1x4x1 em que os dois laterais eram também os responsáveis pelos corredores, o Glasgow passou para um sistema que foi, durante grande parte do primeiro tempo, eficaz a asfixiar a saída de bola do FC Porto.

Davis e Kamara, que à partida seriam os dois jogadores responsáveis por cobrir as investidas ofensivas de Corona e Alex Telles, os dois laterais, estavam a jogar em terrenos mais interiores, ocupados a condicionar as movimentações de Uribe e Danilo. Eram Kent e Barker, os dois elementos que apoiavam o avançado Morelos no ataque, que alargavam quando o Rangers perdia a posse de bola e pressionavam os laterais do FC Porto. Esta organização escocesa surpreendeu os dragões, que tiveram muitas dificuldades em chegar com perigo e com a bola controlada ao último terço adversário; do outro lado, num cenário que ia tornando o jogo muito equilibrado, o Rangers apostava mais nas transições rápidas do que na construção demorada e rendilhada mas raramente conseguia entrar nas costas de Pepe e Marcano — centrais que, face à dificuldade da equipa de atacar pela faixa central, somavam 14 passes longos em conjunto já depois dos 20 minutos.

Numa primeira parte com poucas oportunidades, Marega cabeceou para as mãos de McGregor (23′) e Tavernier aproveitou uma desatenção de Alex Telles para rematar forte por cima da baliza (27′). Só depois da meia-hora, altura em que o jogo tinha entrado numa fase algo incaracterística, é que Zé Luís subiu ao terceiro andar para cabecear forte ao poste depois de um cruzamento de Alex Telles na esquerda (33′). O aviso do avançado cabo-verdiano acabou por abrir espaço a um momento de magia no Dragão: minutos depois, após recuperar uma bola na esquerda do ataque dos dragões, Luis Díaz temporizou, puxou para uma zona mais central e levantou a perna direita para descrever um remate perfeito em arco que só parou no fundo da baliza do Rangers (37′). Com o coletivo a falhar e a ter dificuldades em ultrapassar a organização escocesa, veio ao de cima a qualidade individual do colombiano, que marcou o quinto golo da conta pessoal esta temporada.

Em cima do intervalo, quando os adeptos nas bancadas do Dragão já se levantavam para ir buscar algo para comer, o Rangers concretizou uma boa reação ao golo sofrido e chegou ao empate antes de recolher ao balneário. Numa transição muito rápida pela esquerda, com poucos toques na bola, Barisic abriu um cruzamento largo até ao segundo poste, onde estava Morelos, que teve tempo para dominar, levantar a cabeça e bater Marchesín (44′). No final da primeira parte, o FC Porto precisava de desconstruir o xadrez escocês para conseguir entrar nas costas da defesa adversária e tinha de encontrar soluções para o que estava a ser uma vitória tática por parte de Gerrard.

Na segunda parte, quando se adivinhavam alterações no FC Porto logo ao intervalo, Sérgio Conceição decidiu regressar com os mesmos jogadores: e regressou com os mesmos problemas. Se na primeira parte os dragões ainda conseguiam libertar-se da eficaz pressão do Rangers, no segundo tempo foram obrigados a recuar as linhas e juntar os setores, de forma a estancar um fluxo ofensivo escocês que era muito superior ao demonstrado até ao intervalo. Morelos ficou perto de bisar e o Dragão só não assistiu ao segundo golo do colombiano porque Marchesín voou para uma grande defesa (53′) e Sérgio Conceição reagiu com as entradas de Bruno Costa e Nakajima para os lugares e Otávio e Luis Díaz.

As duas entradas obrigaram a uma reformulação na equipa do FC Porto, principalmente na zona do meio-campo — o objetivo era precisamente esse, para tentar ganhar o setor intermédio e catapultar a partir daí situações ofensivas: os dragões passaram a atuar em 4x3x3, com Marega na direita e Nakajima na esquerda no apoio direto a Zé Luís, que era então a referência atacante. Ainda assim, era o Rangers que ia resgatando toda a iniciativa e que estava muito mais envolvido no jogo, não permitindo que o FC Porto rematasse até aos 70 minutos e esvaziando por completo a ligação entre o setor intermédio e o mais adiantado, já que Marega chegou perto da hora de jogo sem ter recebido qualquer passe de Uribe ou Danilo. O avançado maliano estava muito isolado entre os centrais escoceses e não descia o suficiente para ir buscar bola atrás, para não se afastar da baliza, o que acabava por provocar uma quebra irremediável na coluna vertebral dos dragões.

Até ao final, o FC Porto poderia ter marcado num lance em que McGregor negou o golo tanto a Soares como a Uribe (86′) mas acabou por não conseguir evitar o empate e o segundo jogo consecutivo sem vencer na Liga Europa. Numa segunda parte muito apagada por parte dos dragões, o Rangers não asfixiou mas controlou todas as ocorrências e impôs um resultado que não era o expectável depois de ter imposto também uma organização que não era a esperada. A equipa de Sérgio Conceição complicou nas duas últimas partidas um grupo europeu que era aparentemente acessível e terá ainda de ir à Suíça jogar com o Young Boys, que bateu o Feyenoord e é líder. Depois da derrota na Holanda, depois da goleada com o Coimbrões, o FC Porto esteve muitos furos abaixo daquele que é o nível exibicional habitual da equipa e parece ainda estar a recolher os cacos do fim de uma série de oito jogos a ganhar que se arrastou entre performances menos conseguidas. Esta quinta-feira, no Dragão, Gerrard ganhou o duelo tático. E roubou dois pontos importantes aos dragões.