Portugal é o 19.º país mais afetado por eventos climáticos extremos entre 1999 e 2018, segundo o relatório Global Climate Risk Index 2020, elaborado pelo think thank ambiental Germanwatch, e divulgado esta quarta-feira na conferência do clima da Organização das Nações Unidas – COP25, em Madrid.
No período de 20 anos, em Portugal, morreram 11 pessoas por cada 100 mil habitantes (cerca de mil mortes em todo o país), por causa dos eventos registados, e registou-se uma perda de 41 milhões de dólares (cerca de 37 milhões de euros), refere o relatório. Globalmente, e considerando os dados de 181 países, registaram-se 12 mil eventos climáticos extremos, 495 mil mortes e perdas no valor de 3,54 mil biliões de dólares (cerca de 3,19 mil biliões de euros).
Puerto Rico, Myanmar, Haiti, Filipinas e Paquistão são os países que mais sofreram com os eventos extremos nos últimos 20 anos. O ranking baseia-se em valores médios, mas os autores do relatório conseguem distinguir claramente dois grupos: os que sofreram catástrofes excecionais e aqueles que são continuamente atingidos por eventos extremos.
Uma terceira categoria tem surgido nos últimos anos: os que são os mais afetados a longo prazo e os mais afetados no respetivo ano, como o Haiti, Filipinas e Paquistão. Muitos destes países ainda estão a sofrer os impactos de um evento extremo quando são atingidos por uma nova catástrofe.
Entre os 30 países que mais sofreram com os eventos climáticos extremos nos últimos 20 anos estão outros países europeus, como França (15.º), Alemanha (17.º), Itália (26.º), Espanha (29.º) e Rússia (30.º), em parte devido à vaga de calor de 2003 que matou 70 mil pessoas no continente. Isto torna claro que os países desenvolvidos também podem ser afetados por eventos extremos.
“Os países com maiores rendimentos estão a sentir os impactos do clima de forma mais clara do que nunca. A mitigação eficaz das alterações climáticas é, portanto, do interesse de todos os países do mundo”, escrevem os autores do relatório.
A grande diferença, em relação aos países mais pobres, é que as perdas económicas nos países desenvolvidos são relativamente baixas quando comparadas com o poder económico desses países. Os países mais pobres, além de mais vulneráveis, têm uma menor capacidade para a reconstrução e recuperação.
O índice focou-se nos eventos climáticos extremos, como vagas de calor, cheias e secas, mas não conseguiu considerar os processos importantes de demoraram a estabelecer-se como a subida do nível do mar, o degelo dos glaciares, o aquecimento dos mares e a acidificação dos oceanos, alertam os autores do relatório.
Os autores destacam também que não é possível dizer que cada um dos eventos extremos é causado pelas alterações climáticas causadas pelo homem, mas não têm dúvidas em afirmar que as alterações climáticas aumentam a probabilidade de ocorrência e a intensidade desses eventos extremos.
“Na Europa, por exemplo, os períodos de calor extremo são agora até 100 vezes mais prováveis do que há um século atrás”, escrevem os autores do relatório.
Apesar de terem considerado 181 países na avaliação a 20 anos, a equipa da Germanwatch admite que há países em risco que não foram incluídos por falta de dados de longo prazo, como os pequenos Estados-ilha. Além disso, os impactos considerados no índice dizem respeito às perdas diretas e às mortes e não conseguem contabilizar os impactos indiretos, como os resultantes da seca e da escassez de alimentos. A falta de dados sobre o impacto das vagas de calor, nomeadamente em África, também pode fazer com que os países africanos estejam sub-representados.
Japão, Filipinas e Alemanha entre os mais afetados de 2018
O relatório Global Climate Risk Index 2020 também avalia quais os países que mais sofreram com eventos climáticos extremos durante 2018. Só o Japão foi alvo de “três eventos climáticos extremos excecionalmente fortes”, que o colocou no topo da lista, incluindo duas ondas de calor, a principal causa de danos no ano passado.
Primeiro, em julho, as chuvas torrenciais no Japão mataram mais de 200 pessoas, destruíram mais de 5.000 casas, obrigaram à retirada de 2,3 milhões de pessoas e provocaram perdas de sete mil milhões de dólares (cerca de 6,3 mil milhões de euros). Depois, as duas vagas de calor mataram 138 mortes e obrigaram à hospitalização de mais de 70 mil pessoas.
As Filipinas foram atingidas, em setembro, pelo tufão Mangkhut, o mais forte em todo o mundo no ano passado. Os ventos chegaram aos 270 quilómetros por hora em terra e 250 mil pessoas foram afetadas.
A Alemanha, em terceiro lugar no ranking, o Japão e a Índia (5.º) enfrentaram longos períodos de calor. Só na Alemanha morreram 1.234 pessoas. Foi o segundo ano mais quente no país desde que há registo.
Com países ricos e, sobretudo, países de rendimento médio e baixo a sofrerem os impactos dos eventos extremos, “a cimeira do clima precisa de abordar a falta de financiamento adicional para ajudar as pessoas e os países mais pobres a lidar com perdas e danos [por causa destes eventos]”, alerta Laura Schaefer, da Germanwatch. “A COP25 precisa decidir sobre as etapas necessárias para gerar recursos financeiros fiáveis para atender a essas necessidades.”
Atualizado às 10 horas