Albert Camus morreu há 60 anos num acidente de automóvel que, na altura, levantou algumas suspeitas. Sessenta anos depois, um novo livro aponta para o KGB como o responsável pela morte do Nobel da literatura.

Giovanni Catelli é o autor da teoria, que já tinha publicado no Corrier della Sera, um jornal italiano, e que decide agora aprofundar os seus motivos para acreditar que Albert Camus terá morrido num acidente de viação, sim, mas orquestrado pelo KGB com o auxílio das autoridades francesas.

A versão oficial é de que Camus morreu num acidente de viação enquanto o seu editor Michel Gallimard conduzia. O carro embateu numa árvore ao longo da estrada enquanto circulava a alta velocidade, fruto de uma quebra num dos eixos da viatura. As autoridades suspeitaram que, numa estrada particularmente direita e com pouco trânsito na altura, um eixo se tenha partido, mas tudo apontava na mesma direção.

Giovani Catelli decidiu agora, em A Morte de Camus, revelar as suas fontes. O escritor teve acesso ao diário de Jan Zábrana, um escritor e tradutor da República Checa que relata numa entrada que data do verão de 1980 ter sido informado por um homem reconhecido e de bons contactos, que a culpa seria do KGB — a agência de segurança russa. Aparentemente, o KGB terá implantado no automóvel um aparelho que, a alta velocidade, causaria um furo no pneu.

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Mas porque quereria o KGB matar Albert Camus? Seria uma retaliação a vários fatores, nomeadamente a um artigo publicado no jornal francês Franc-Tireur, “Réponse à um appel, ao apoio público de Camus à revolta húngara face ao domínio soviético, e à simpatia que o filósofo nutria por Boris Pasternak, um autor russo tido como anti-soviético.

O diário a que Catelli teve acesso explica também que o KGB teve acesso a inteligência francesa. Tudo revelações que o autor terá passado anos a investigar. Falou com a viúva do dono do diário, investigou o processo de espionagem russa em França e apoiou-se num testemunho do controverso advogado francês Jacques Vergès — apelidado de “advogado do diabo” por ter defendido vários terroristas e acusados de crimes de guerra.

De acordo com este testemunho, “o acidente foi encenado” e que França estaria também envolvida alegando que a obra e as manifestações políticas de Camus estariam a interferir nas relações entre França e a União Soviética e que ambos os países beneficiariam da sua morte, já que as suas opiniões denegriam a imagem que os franceses teriam da União Soviética, dificultando relações. Vergès terá acrescentado que não teria sido levada a cabo qualquer investigação profundo ao incidente.

O livro já motivou algumas reações divididas. Paul Aster, o cineasta australiano, mostra-se convicto que Camus terá sido assassinado depois de confrontado com as provas apresentadas no livre de Catelli. Já Alisson Finch, professor de literatura francesa em Cambrige, diz ao jornal inglês The Guardian que não está convicto do envolvimento francês, que teria, segundo o livro, origem nos mais altos cargos do Palácio do Eliseu, talvez até em De Gaulle, um apoiante dos intelectuais franceses.