José Eduardo Moniz está há cerca de dois meses a trabalhar como consultor de Johnny Saad, o presidente da rede televisiva Bandeirantes, do Brasil. Segundo o site brasileiro Notícias da TV deverá em breve ser promovido a responsável principal da área artística da emissora, estando até já a trabalhar na proposta de programação para 2020. Está definido, também, que Moniz terá como objetivo principal voltar a colocar o grupo de comunicação no topo do mercado.
Há vários meses que pairava uma incerteza sobre qual seria o próximo destino do profissional de 67 anos. Numa entrevista ao Observador, por exemplo, Moniz tinha deixado no ar essa mesma dúvida sobre o seu projeto seguinte, depois de em julho passado ter deixado o cargo de consultor de Conteúdos de Entretenimento da TVI — altura em que, por exemplo, produziu a telenovela “Ouro Verde”, que rendeu um Emmy Internacional em 2018. Essa mesma ficção está a ser exibida pela Band e suspeita-se que terão nascido desta ligação os primeiros contactos com Johnny Saad.
Ao que tudo indica, José Eduardo Moniz está a colaborar com a ‘Band’, como também é conhecida a Bandeirantes, desde novembro de 2019, apesar de ainda não ter sido feita nenhuma confirmação oficial. Fontes do Noticias da TV junto da Bandeirantes chegam a explicar que a presença do português está a ser vista com preocupação e insegurança por outros executivos do canal.
Já com trinta anos de televisão no currículo, Moniz poderá ser promovido a principal responsável de conteúdo da estação brasileira, ficando apenas abaixo de Saad e do seu vice, André Aguera. Essa promoção estará apenas dependente, contam as mesmas fontes, do plano que o português terá de apresentar para “promover um salto de qualidade no status quo” da casa.
Ao que tudo indica terá recebido carta branca para propor mudanças, estando nisso incluído, por exemplo, a extinção e criação de novos programas. O principal objetivo será aumentar audiências e receitas. O sucesso recente do ‘mister’ Jorge Jesus ate já levou a comparações entre Moniz e o treinador. No final de dezembro passado, algumas notícias davam conta de que a casa estaria “a entrar em ordem”, num sinal de melhoria do panorama interno.
Um império familiar em queda
Já desde 2014 que a Band tem vindo a perder terreno no mercado mediático brasileiro. Nessa altura todo o setor ficou mergulhado em crise mas entretanto, os seus concorrentes (Globo e Record), conseguiram dar a volta. A Bandeirantes perdeu programas relevantes como o CQC e perdeu os direitos de transmissão do Campeonato do Mundo de Futebol, bem como dos campeonatos estaduais desse desporto (tudo por causa de alegadas dívidas à Globo). Desde então, os telejornais e o MasterChef têm sido as principais âncoras da emissora.
No início de 2019 já se anunciava que os maiores acionistas do canal queriam abandonar a Rádio e Televisão Bandeirantes, um dos maiores grupos de média do Brasil, criado por João Carlos Saad há quase 20 anos. Nessa mesma altura começava-se a falar de supostas disputas entre os herdeiros de Saad pai, preocupados com a crescente dívida bancária do grupo e com o igualmente preocupante “atraso” em relação aos concorrentes que lideravam o mercado.
Teoricamente, as irmãs Márcia e Leonor Saad têm um processo na justiça para remover o irmão, Johnny, do poder e obrigá-lo a proceder a um processo de profissionalização da emissora. Esta desavença com as irmãs terá começado em 2014, quando os Saad assinaram um acordo de acionistas pela primeira vez e dividiram 20% da empresa pelos cinco irmãos Saad — Johnny, Ricardo, Marisa, Marcia e Leonor. O atual presidente gere a empresa desde a morte do pai, em outubro de 1999.
A decisão de avançar com um acordo de acionistas surgiu por causa da deterioração que já se via na empresa. O contrato previa duas coisas: que o cargo de CEO teria que ser renovado a cada três anos e que a Band contrataria um CFO externo para começar a profissionalizar sua gestão. Algo que não aconteceu.
Para todos os efeitos a Bandeirantes é vista como uma empresa familiar que resiste à reinvenção. Alguns dos seus funcionários, como explica o blog Conversa Afiada, veem-na como um monólito tecnicamente falido em que diretores ganham salários acima do mercado sem entregar resultados e não respondendo por objetivos não cumpridos. Dos 3.200 funcionários, mais de 50 têm título de diretor e a dívida do grupo já está acima dos 1,2 mil milhões de reais (pouco mais de 260 milhões de euros, de acordo com o câmbio atual), valor oito vezes superior à sua faturação. Tudo isto prova que Moniz não terá uma vida fácil nesta nova aventura em terras brasileiras.
O Observador tentou contactar, sem sucesso, José Eduardo Moniz.